Tim Wellens: "Queria erguer a bicicleta no ar, mas estava tão feliz que me esqueci"
"Gregário" Wellens teve uma oportunidade e usou-a para completar trilogia no Tour
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O dedicado Tim Wellens teve este domingo o seu momento de glória no Tour, com o ciclista belga a completar a trilogia em grandes Voltas e a oferecer a 65.ª vitória da temporada à UAE Emirates em Carcassone.
Numa jornada frenética na Volta a França, com sucessivas alterações na frente de corrida e uma queda a envolver Jonas Vingegaard e Florian Lipowitz, respetivamente segundo e terceiro da geral, comandada por Tadej Pogacar, Wellens imitou a estratégia que lhe valeu o título belga de fundo, atacando os seus companheiros de fuga a mais de 40 quilómetros da meta para vencer isolado a 15.ª etapa, em 03:34.09 horas.
“Sabia que ia estar numa lista muito bonita, ao finalmente completar a minha trilogia, e que tinha de desfrutar do momento. Continuei a dar o máximo, porque queria chegar à meta com uma margem suficientemente grande para apreciar o momento, e talvez até erguer a minha bicicleta no ar depois do final, mas estava tão feliz por ganhar que me esqueci de o fazer”, assumiu.
Dedicado "gregário" do camisola amarela Tadej Pogacar, o belga de 34 anos, que tem no currículo duas etapas do Giro e outras duas na Vuelta, teve hoje a sua oportunidade e aproveitou-a, calculando o momento exato para atacar desde a fuga e cumprir isolado os 169,3 quilómetros desde Muret, à frente do compatriota Victor Campenaerts (Visma-Lease a Bike), segundo a 01.28 minutos.
Os ataques foram tantos durante toda a tirada, sobretudo nos quilómetros finais, que o francês Julian Alaphilippe (Tudor), sem comunicações após ter caído, pensou ter vencido em Carcassone, quando, na realidade, foi apenas terceiro, na dianteira de um grupo de 22 ciclistas que chegou a 01.36 minutos.
Apesar da queda no início da 15.ª etapa, Vingegaard (Visma-Lease a Bike) e Lipowitz mantiveram as diferenças na geral para o esloveno da UAE Emirates: o dinamarquês é segundo, a 04.13 minutos, e o jovem alemão da Red Bull-BORA-hansgrohe é terceiro, a 07.53.
Com o segundo dia de descanso à distância de "apenas" 169,3 quilómetros e com a ligação entre Muret e Carcassone a ter um traçado ideal para a formação de uma fuga bem-sucedida, os ataques sucederam-se desde logo e o nervosismo traduziu-se numa queda, que apanhou também o camisola da montanha Lenny Martinez (Bahrain Victorious) e Alaphilippe, com o pelotão a abrandar para esperar pelos azarados.
Enquanto o segundo e terceiro da geral tentavam anular o minuto de atraso que tinham – foram precisas duas dezenas de quilómetros para o conseguirem -, os ataques não paravam, até mesmo por parte de colegas de Vingegaard, em nova tática estranha da Visma-Lease a Bike.
Campenaerts e Wout van Aert uniram-se então ao "rival" Wellens, e também a Mathieu van der Poel (Alpecin-Deceuninck), Alexey Lutsenko (Israel-Premier Tech) ou o "desaparecido" Matej Mohoric (Bahrain Victorious).
As sucessivas movimentações e o vento provocaram cortes, que apanharam momentaneamente homens do top-10 como Kévin Vauquelin (Arkéa-B&B Hotels) e Felix Gall (Decathlon AG2R La Mondiale), e também o camisola verde Jonathan Milan (Lidl-Trek), que nunca reentrou.
As contagens de terceira categoria da jornada foram redesenhando o grupo de favoritos, com novos ciclistas a juntarem-se à frente da corrida, nomeadamente Quinn Simmons (Lidl-Trek), Michael Storer (Tudor) e Carlos Rodríguez (INEOS), então 10.º da geral, mas também Alaphilippe.
O pelotão entregou a discussão da etapa aos escapados, permitindo que a vantagem já ultrapassasse os cinco minutos no Pas du Sant, a última contagem (de segunda categoria) do dia onde Wellens, Campenaerts, Simmons e Storer passaram primeiro.
O ciclista da UAE Emirates, que até já foi "rei da montanha" neste Tour, isolou-se a mais de 40 quilómetros da meta e só foi aumentando a sua vantagem, que era tão grande que lhe permitiu cumprimentar o público na reta da meta, num festejo improvisado depois de ter-se esquecido do planeado.
“É uma vitória muito especial. Toda a gente conhece a Volta a França, todos os ciclistas querem participar nela e não há muita gente a conseguir ganhar”, disse o belga, responsável pela 65.ª vitória da UAE Emirates nesta temporada.
O pelotão, comandado por Uno-X e EF Education-EasyPost, interessadas em evitar que Carlos Rodríguez ultrapassasse os seus ciclistas na geral – o espanhol da INEOS acabou mesmo por subir a nono -, chegou seis minutos depois, enquanto Nelson Oliveira (Movistar) integrou um grupo que completou a etapa quase 23 minutos após o vencedor.
O português vai cumprir o segundo e último dia de descanso da 112.ª "Grande Boucle" na 68.ª posição da geral, já a mais de duas horas de Tadej Pogacar, que enfrenta nova jornada decisiva na luta pelo "tetra" na terça-feira, nos 171,5 quilómetros entre Montpellier e o alto do Mont Ventoux.