Thymen Arensman, vence no Tour: "Talvez fosse suicídio, não acredito que os aguentei..."
Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step), terceiro classificado da passada edição e que ocupava o mesmo posto este ano, desistiu
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O neerlandês Thymen Arensman (INEOS) estreou-se este sábado a vencer na Volta a França, num ataque "suicida" na 14.ª etapa, beneficiando ainda do repouso do líder Tadej Pogacar (UAE Emirates).
Apesar do excelente trabalho da UAE Emirates, o esloveno, líder isolado da classificação e vencedor das duas últimas etapas, "apenas" atacou a três quilómetros da meta, já depois do seu principal rival, o dinamarquês Jonas Vingegaard (Visma-Lease a bike) ter testado as pernas do campeão do mundo, que respondeu sempre com aparente facilidade e ainda ganhou quatro segundos na meta.
Numa jornada em que Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step), terceiro classificado da passada edição e que ocupava o mesmo posto este ano, desistiu, o grande beneficiado acabou por ser Arensman, que na sua primeira presença no Tour conseguiu vencer e dar, finalmente, uma vitória à INEOS, algo que não acontecia desde a 14.ª etapa da ‘Grande Boucle’ de 2023, graças a um ataque a 37 quilómetros da meta.
“Ouvi a diferença para o grupo dos favoritos em Peyresourde e pensei que, com o Tadej e o Jonas, três minutos não era suficiente e tinha de me mexer. Talvez fosse suicídio, talvez não. Não acredito que os aguentei. Estava a ficar sem forças na segunda parte da última subida, mas os espetadores deram-me alguns watts a mais e conseguir aguentar. É fantástico”, admitiu Arensman.
Arensman já tinha sido segundo na 10.ª etapa, o que “já era fantástico” para o seu primeiro Tour, especialmente depois de ter estado doente a seguir ao Tour, mas acredita que está na melhor forma da carreira.
No final dos 182,6 quilómetros desde Pau até Luchon-Superbagnères, numa das mais duras etapas da presente edição (duas contagens de montanha de categoria especial, uma de primeira e uma de segunda), Arensman venceu em 4:53.35 horas, menos 1.08 minutos do que Pogacar e 1.12 do que o dinamarquês Jonas Vingegaard (Visma-Lease a bike), segundo e terceiro, respetivamente.
Com 182,6 quilómetros a percorrer desde Pau e os ‘gigantes’ Tourmalet, Aspin e Peyresourde pela frente, muitos foram aqueles que tentaram fugir ao pelotão, nomeadamente Jonathan Milan (Lidl-Trek), o italiano que procurava reforçar a sua camisola verde pontuando no sprint intermédio antes da primeira subida do dia.
Contudo, Milan não iria longe, sendo alcançado antes de o seu colega Mattias Skjelmose, o 19.º classificado, cair – retomou a marcha ensanguentado, mas acabaria por desistir – e de Geraint Thomas (INEOS) insistir numa tentativa de fuga, agora na companhia dos franceses Quentin Pacher (Groupama-FDJ) e Mattéo Vercher (TotalEnergies), anulada pela Lidl-Trek.
Apenas quando o sprint intermédio foi ultrapassado, com o camisola verde na frente, decorridos que estavam mais de 70 quilómetros de etapa e já em plena subida ao Tourmalet, é que finalmente a fuga se formou, já depois de Evenepoel descolar ainda nas primeiras pendentes e a mostrar-se incomodado até com o seguimento das câmaras da transmissão televisiva – o terceiro classificado da passada edição acabaria por desistir ainda a mais de 100 quilómetros da meta.
Entre os fugitivos estavam repetentes como Lenny Martinez (Bahrain Victorious), Ben O’Connor (Jayco AlUla), Thymen Arensman e Carlos Rodríguez (INEOS), Aleksandr Vlasov (Red Bull-BORA-hansgrohe), Michael Storer (Tudor), e também Enric Mas (Movistar), os Visma Simon Yates, vencedor da 10.ª etapa e do Giro2025, e Sepp Kuss, campeão da Vuelta2023, ou Tobias Halland Johannessen (Uno-X), o oitavo da geral.
O francês da Bahrain Victorious, apostado em recuperar a camisola da montanha, que conseguiu ‘roubar’ a Pogacar, isolou-se ainda nos 19 quilómetros da ascensão ao Tourmalet e só foi alcançado por Kuss e Valentin Paret-Peintre (Soudal Quick-Step) a 58 quilómetros da meta.
Num grupo já reduzido pela dureza da etapa, Arensman atacou a 37 quilómetros da meta, ainda na subida de Peyresourde, deixando Martínez e Johannessen, numa altura em que os dois fugitivos da Visma já estavam para trás, sem capacidade para lutar pela luta na etapa, nem para, como se veria mais à frente, ajudar o seu líder.
A tática da Visma-Lease a bike voltou, à semelhança da primeira etapa nos Pirinéus, a sair ‘furada’, com Vingegaard a ficar sozinho a pouco mais de 11 quilómetros da meta, já bem depois de o norte-americano Matteo Jorgenson, que devia ser o braço direito do dinamarquês, ter ficado logo cortado no início da subida para Luchon-Superbagnères.
Sem equipa – a passagem dos dois fugitivos no grupo dos favoritos –, Vingegaard quis mostrar a quatro quilómetros do final que ainda não desistiu da luta pela vitória na final e lançou o seu primeiro grande ataque a Pogacar, que respondeu sem aparente dificuldade.
No primeiro grande duelo entre os dois – nas outras ‘lutas’ Pogacar esteve sempre muito mais forte –, a dois ataques de Vingegaard o esloveno respondeu com mais quatro segundos ganhos na meta, além de outros dois das bonificações.
Após a despedida dos Pirenéus da 112.ª Volta a França, Pogacar vai entrar para a 15.ª etapa, uma jornada mais fácil de 169,3 quilómetros entre Muret e Carcassonne, com 4.13 minutos de avanço sobre Vingegaard e 7.53 sobre o alemão Florian Lipowitz (Red Bull-BORA-hansgrohe), que subiu ao terceiro lugar, depois da desistência de Evenepoel.
O português Nelson Oliveira (Movistar) terminou a etapa na 49.ª posição, a 27.37 minutos de Arensman, subindo ao 55.º lugar da geral, a 1:52.21 horas de Pogacar.