Técnico Rui Moreira, da AJM/FC Porto, a O JOGO: "Já estamos a pensar em 2020/21"
Técnico das azuis e brancas considera que a equipa já mostrou valor suficiente para convencer as pessoas e garante já estar a preparar a próxima época. Aliás, fala mesmo nos próximos quatro anos
Corpo do artigo
A época de regresso do FC Porto ao voleibol feminino, em parceria com a Academia José Moreira, pode não ter o desfecho desejado, apesar da conquista da Supertaça e da Taça de Portugal. Agora, face à pandemia da covid-19, a AJM/FC Porto pode não conseguir lutar pelo último título, que poderia culminar num triplete. Depois de vencerem a fase regular, as portistas estavam a postos para as meias-finais do play-off, frente ao AVC Famalicão - na outra estariam o Clube K e o Porto Vólei.
Ainda sem certezas quanto ao final da época, o treinador Rui Moreira falou com O JOGO e diz que a Federação Portuguesa de Voleibol (FPV) tomará uma decisão que será para acatar, mas acredita que o trabalho realizado já marca positivamente o regresso da formação azul e branca.
Ainda ambicionam lutar pelo título?
-Se for para jogar, vamos lutar pelo título, se não, pensaremos já no próximo: faz parte dos pergaminhos do clube. Agora, não temos de querer ou não; cumpriremos a decisão da FPV, que consultou as associações de clubes e treinadores e os clubes a pedir um parecer. O regresso não é relevante, até porque, com os mesmos elementos, é algo descabido, com outros é desvirtuado.
E se não disputarem o título, ficará um sabor amargo?
-O regresso do FC Porto à modalidade será marcado pela conquista de dois troféus em três possíveis: vencemos a Supertaça frente ao tricampeão [Leixões], uma equipa com um dos orçamentos mais altos; vencemos a Taça de Portugal, que nos dá o direito de jogar competições europeias; e vencemos a fase regular, com oito pontos de avanço e apenas duas derrotas. Durante toda a época, a opinião geral foi que dominámos o voleibol nacional feminino. O título da regularidade e moral é nosso, só não temos a medalha, mas o processo está à vista de toda a gente.
Como está a viver a quarentena?
-Em casa, a trabalhar e a preparar a próxima época. Sem dúvida que estava melhor no pavilhão, em quarentena, a dar treinos isolado. Mas não sendo possível, estamos a trabalhar na próxima época. Ainda há muita indefinição, mas dentro do que podemos controlar, estamos a fazê-lo.
Falou na próxima época, já estão focados nisso?
-Estamos a pensar na época 2020/21 desde janeiro, para sermos melhores, mais fortes e competitivos, com mais soluções e com mais condições de trabalho. O nosso projeto é vencedor a nível nacional e internacional, procuramos a profissionalização. As condições são de excelência, o staff e a estrutura diretiva trabalham muito, e os nossos sponsors, os principais responsáveis por podermos idealizar o caminho desta forma, estão comprometidos connosco e motivados para o projeto, o que nos dias de hoje é uma segurança grande para nós. Há quem fale da próxima época, nós já pensamos nos próximos quatro anos. O grande problema do voleibol feminino nacional é que as cabeças continuam em 2010, no passado, e a pensar em meses, contudo o caminho é para a frente e em 2020/21 podem contar com a AJM/FC Porto ainda mais forte e competitiva.
"Não vamos ter campeões"
A Federação Portuguesa de Voleibol suspendeu os Campeonatos da I e II Divisão masculina e feminina até 31 de agosto e Rui Moreira defende que foi uma decisão acertada.
Uma data estipulada pode pôr em causa o recomeço dos Nacionais?
-Olho para essa data como uma forma de ganhar tempo para se tomar a melhor decisão.
Como vê a suspensão?
-As medidas vieram comprovar que foi a decisão mais acertada. Com as medidas de contingência, isolamento social e fronteiras praticamente encerradas, iria ser complicado suportar, acompanhar e até colocar em casa os atletas estrangeiros nesta altura. Além disso, se ela não tivesse sido tomada, as mesmas entidades que agora aproveitam a suspensão para não pagar os salários a atletas e staff iriam estar a confrontar as entidades com poder de decisão [FPV e associações] pelo facto de estarem a ter gastos sem poderem competir.
Qual acha que será a decisão final da FPV?
-Na minha opinião, não vamos ter campeões, vão-se poupar as descidas e vão jogar-se as subidas. Os campeonatos da formação terminam como estão e haverá um alargamento dos escalões.
"A decisão deve ser transversal"
O técnico natural de Vila Nova de Gaia acredita que alguns clubes irão sofrer com esta pandemia.
Ao contrário do masculino, no feminino a fase regular já tinha terminado. Os critérios devem ser diferentes?
-Realmente estamos em contextos diferentes, o que pode permitir decisões distintas, como aconteceu em diversos países, tais como a Polónia. A decisão deve é ser transversal por géneros. Por exemplo, se não se jogar no feminino e se se anular a competição, deve ser igual para todas as divisões, ou seja, sem subidas e descidas e sem campeões. Se alguém jogar, então todos têm de o fazer.
Qual é a melhor decisão?
-A que traga menos prejuízos estruturais, organizativos e económicos para os clubes, atletas, Federação e associações, sem esquemas, e sem procurar aproveitarem-se da situação para beneficiar terceiros. Há que olhar para o problema como um todo e perceber as implicações que a mesma causará na próxima época, a grande maioria dos clubes terá problemas financeiros graves. As câmaras, gradualmente, já começam a informar dos cortes dos subsídios, do congelamento das verbas de apoio ao associativismo, e os próximos serão as empresas. Se as últimas épocas foram de dificuldades, as próximas serão ainda piores.