Susana Godinho Santos: "Estou a viver o sonho de qualquer atleta”

Aos 31 anos, Susana Godinho Santos viu cumprido o desejo: estará presente nos Jogos Olímpicos de Paris’2024. Tendo começado a correr maratonas apenas em fevereiro deste ano, em Sevilha, o sonho demorou menos de um ano a concretizar-se e, no domingo, à segunda tentativa, em Valência, cortou a meta em 2h25m35s, menos um minuto que a marca exigida. Já de regresso à azafama entre trabalho e treinos, a fisioterapeuta de profissão e atleta do Recreio de Águeda falou a O JOGO.

Como é que uma atleta da pista e do meio-fundo se fez maratonista?
-Não sei. No ano passado despertou-me o “bichinho”. Muitos me diziam “tens de experimentar”, mas eu ficava assustada pela exigência dos treinos. Falei com o meu treinador e ele ficou contente porque era uma das pessoas que me dizia que eu tinha capacidades. Propus-me a treinar para Sevilha e assim começou. Correu bem e agora encaro a maratona com outro espírito.

Os treinos são mais duros, ou gostava menos das séries da pista?
-Gosto mais dos treinos que faço na preparação de uma maratona. De tudo, o que gosto mais de fazer são as séries longas e os treinos longos, pelo desafio em si.

Ser treinada pelo Tozé Nogueira da Costa é um dos segredos do sucesso?
-Também, porque é um treinador que já tem experiência com outros atletas e eu já estou com ele há dez anos. Passado esse tempo, conseguir estar com ele nuns Jogos é incrível.

Até onde acha que pode evoluir na maratona? Uma marca nas 2h24 pode colocá-la como segunda portuguesa de sempre...
-O meu objetivo é bater o meu recorde pessoal [2h25m35s], nem que seja por cinco ou dez segundos. Foi a minha segunda maratona, por isso não coloco as expectativas muito altas. Tem corrido tudo bem, mas a qualquer momento pode correr mal.

Ir aos Jogos é o sonho de uma vida? Não tinha perdido já esse sonho? 
-Qualquer atleta tem o sonho de estar nuns Jogos Olímpicos, e eu não fujo à regra. Para mim foi muito bom tê-lo alcançado. É cada vez mais difícil garantir o acesso, por isso eu tinha a noção que não ia ser fácil, mas não pensava muito nisso.

Que resultado gostaria de fazer em Paris?
-Considerando as atletas que estão presentes, um dos meus objetivos vai passar por melhorar o recorde pessoal e, se possível, uma boa classificação. 

“Vou à São Silvestre do Porto”

Susana Godinho não equaciona interromper a profissão para preparar Paris’2024, pretendendo continuar a conciliar a fisioterapia com os treinos. A atenção, para já, está virada para o clube. “Agora vou focar-me no Recreio. Vou fazer a São Silvestre do Porto [30 de dezembro] e depois o Nacional de Estrada e o curto. E a Meia-Maratona do Campeonato da Europa, em Roma”, afirmou a atleta. O sucesso pode fazer renascer o interesse de clubes como Benfica ou Sporting, mas Susana não pensa nisso, pois sente-se “acarinhada” onde está.

Um parceiro na vida e no desporto

Susana Godinho é casada há quase ano e meio com Hélder Santos, também ele atleta e companheiro no desporto. Em Valência, não cortou a meta com Susana, mas acompanhou-a até aos 34 quilómetros.

Ter casado com Hélder Santos ajuda aos bons resultados?
-Sem dúvida. Nós estamos em sintonia também no desporto e é uma grande ajuda na minha preparação e nos treinos. Desde que ele se dedicou mais a mim nos treinos, o meu rendimento evoluiu muito porque consigo ter mais qualidade. 

Em Valência ele não a acompanhou até ao fim. Porquê?
-Ele teve um problema aos 34km, não se sentiu bem, e teve que abrandar, porque o objetivo era acabar comigo. Fiquei muito feliz por ter conseguido, mas fiquei triste porque gostava que ele estivesse ao meu lado na meta. 

Oitava lusa mais rápida de sempre

Foi com surpresa que Susana soube que passou a ser a oitava portuguesa mais rápida de sempre na maratona.

Como se sente ao fazer parte de uma lista com nomes como Rosa Mota, Jéssica Augusto, Salomé Rocha, Sara Moreira, Marisa Barros, Manuela Machado e Dulce Félix?
-É fantástico. Eu não sabia que estava no top-10 e claro que para mim é um orgulho poder fazer parte dessa lista com grandes atletas.