O Campeonato Nacional de Surf da Ucrânia realiza-se na praia da Almagreira, em Peniche, no distrito de Leiria.
Corpo do artigo
A Ucrânia organiza este fim de semana, em Peniche, o primeiro campeonato nacional de surf fora das suas fronteiras devido ao conflito com a Rússia, com cerca de 30 inscritos entre homens e mulheres, a maioria a residir noutros países.
É o caso de Sergii Kukharskyi, natural de Donetsk, a viver na Califórnia, nos Estados Unidos, desde 2014, quando a sua região foi ocupada por forças pró-Rússia.
"Mudei-me para os EUA por causa da guerra, porque na Ucrânia não há condições para viver e é difícil praticar qualquer tipo de desporto", diz o surfista, que integra pela primeira vez o campeonato nacional de surf.
"Em 2014, a guerra mudou a vida de todos e as suas carreiras", explica o desportista.
Além de ter prejudicado a sua carreira de nadador profissional, integrando a respetiva seleção nacional, Sergii Kukharskyi perdeu amigos nos ataques e deixou para trás a sua família e a sua casa em Donetsk, onde "tudo foi bombardeado" e é uma "área perigosa".
Apesar dos atuais constrangimentos existentes no seu país, o atleta espera "mostrar às pessoas quem é forte", com a realização em Portugal desta competição e continua focado em qualificar-se para provas internacionais de surf.
Maksym Diorediianko, de 15 anos, e a família também abandonaram a cidade de Odessa em fevereiro de 2021, quando a guerra começou e onde desde os oito anos surfava.
"Vim para a Grécia no carro com meu pai e minha família. Moramos lá dois meses e viemos para Barcelona [Espanha]. O meu pai veio para a Ucrânia para trabalhar e eu para a Espanha para estudar", conta o atleta, que participa pela primeira vez no nacional, acrescentando que a permissão para sair só foi possível por o pai ter três filhos.
Pelo contrário, Valentyn Cherevatyim continua a viver na Ucrânia e apenas obteve uma permissão para há um mês vir para Portugal treinar para o campeonato nacional e integrar a competição.
"Tenho uma autorização especial para sair da Ucrânia, porque eu tenho doença autoimune e tenho isso documentado", explica o surfista que viaja ao estrangeiro pela primeira vez, desde que o conflito começou.
Esteve "mais de um ano sem surfar" em Odessa, onde vive, afirmando que "é triste não ter competições porque não podem estar na água", falando do quanto "perigoso e assustador" é viver hoje na Ucrânia.
Vasyl Kordysh não teve permissão para sair de Odessa nem como praticante de surf, modalidade pela qual foi campeão nacional em 2018 e 2019 e representou o país nos mundiais de 2021, nem como presidente da Federação Ucraniana de Surf, criada em 2018.
Pelo mesmo motivo, não podem organizar provas.
"Desde há quatro anos que não podemos fazer cá competição por causa da covid-19, em 2020 e 2021, e, desde 2022, por causa da guerra, diz, acrescentando que "é extremamente perigoso estar no mar, porque muitas minas estão na água", enquanto em terra "os ataques são frequentes".
"A maioria dos nossos atletas já mora num outro lugar do mundo, perto do oceano", conta.
Por isso, a federação decidiu "encontrar outras soluções em tempo de guerra" e organizar "a primeira competição nacional realizada fora da Ucrânia" em Portugal, com o auxílio da federação congénere de Portugal, país que já visitou duas vezes.
O Campeonato Nacional de Surf da Ucrânia realiza-se na praia da Almagreira, em Peniche, no distrito de Leiria.
16305817