Presidente da Federação realça progressos após o escândalo que abalou a modalidade. Dirigente nem quer pensar num novo abalo como o que aconteceu com a W52-FC Porto, mas afirma que "as suspeitas fazem parte do jogo". As Voltas que ficaram sem vencedor ainda vão ter de esperar.
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A contrastar com há um ano, quando a Volta a Portugal foi ensombrada pelas buscas da Polícia Judiciária à casa dos ciclistas e por suspensões devido à deteção de substâncias dopantes, o ambiente vivido à entrada da 84.ª edição é incomparavelmente mais leve. Por isso, o presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), Delmino Pereira, esteve em Viseu com a satisfação estampada no rosto. "Estamos muito melhor. Está tudo mais calmo este ano. Toda a comunidade percebeu a dimensão do problema e todos estão do lado da solução. É um compromisso e esperemos que uma situação idêntica à do ano passado não volte a acontecer", expressou a O JOGO, dizendo "nem querer pensar na possibilidade" de um novo abalo como o da W52-FC Porto. "Não me parece que seria inultrapassável, mas seria algo extraordinariamente grave", admitiu.
No entanto, ainda há algumas semanas parecia reinar um clima de desconfiança entre várias equipas, por algumas delas considerarem insuficiente o número de análises para o passaporte biológico. "As suspeitas fazem parte deste jogo de palavras. O importante é que as autoridades e os responsáveis por estes controlos e por esta missão estejam a fazer o seu trabalho, com níveis de exigência nunca antes vistos. Somos o único país que tem passaporte biológico em todos os corredores das equipas continentais portuguesas. Não vamos também desconfiar de tudo o que mexe. Tudo está a ser intensamente fiscalizado. Pode haver sempre dúvidas, mas temos mecanismos de controlo como nunca tivemos. E creio que assim é mais confortável para todos", defendeu.
Devido aos casos já registados, três edições da Volta a Portugal, duas ganhas por Raúl Alarcón e outra por Amaro Antunes, continuam sem ter resultados oficiais e um novo vencedor, mas a FPC quer esperar pelo final dos processos judiciais. "Pode demorar, mas é uma questão de respeito pela história da Volta, só queremos mexer tendo toda a segurança. Não vamos andar aqui a tirar e a pôr...", justificou, não excluindo a possibilidade de deixar essas edições sem campeão.
Trio que é motivo de orgulho
O ciclismo português vive uma época memorável, com várias conquistas além-fronteiras, como o terceiro lugar de João Almeida no Giro, o título mundial na disciplina olímpica de omnium por Iúri Leitão ou até a contratação de António Morgado por parte da UAE Emirates, tendo 19 anos. Para Delmino, estes são "feitos de que Portugal se deve orgulhar", deixando uma nota: "Temos uma geração de corredores a querer fazer carreira internacional, mas só é possível ter esses corredores lá fora se tivermos uma dinâmica nacional boa e saudável".