Síndrome Down: apoio das famílias é parte do segredo do sucesso nos Mundiais de natação
Mundiais de natação para pessoas com Síndrome de Down disputam-se em Albufeira, até domingo.
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O apoio efusivo das famílias, que marcam sempre presença nas bancadas, tem sido uma constante nas piscinas de Albufeira, durante os Mundiais de natação para pessoas com Síndrome de Down, competição na qual Portugal soma já 26 medalhas.
Francisco, o pai de João Vaz, o português mais medalhado em competições para nadadores com Síndrome de Down, assume que a modalidade tem sido uma mais-valia para o desenvolvimento do filho e admite que "também transforma" as famílias.
"A natação trouxe ao João mais disciplina e capacidade de concentração, mas nós, pais, também nos transformamos com tudo isto", disse Francisco Vaz à agência Lusa, durante a 10.ª edição dos Mundiais DSISO (Organização Internacional de Natação para Síndrome Down).
Francisco apoiou desde sempre as participações do filho em provas de natação, e não hesitou quando o treinador lhe disse que João, então com 18 anos, tinha capacidades para competir.
"Tudo começou numa brincadeira, o João aprendeu a nadar já tarde, e a pessoa que o ensinou a nadar disse-me que ele tinha capacidades para fazer competição. Na altura, eu nem sabia que havia competição para pessoas com Síndrome de Down", conta.
Hoje, com 29 anos, João soma mais de 260 medalhas em competições nacionais e internacionais, entre as quais 10 de campeão europeu e cinco de vice-campeão mundial.
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Francisco, que descreve João como alguém "muito alegre, amigo do seu amigo e que comunica facilmente", vive muitas vezes em função dos treinos e das provas de natação do filho, que frequenta atividades ocupacionais numa Cerci.
"Vivemos na Portela, o João treina todos os dias no Sporting, ou no Jamor, ando sempre com ele", afirma, reconhecendo que o facto de estar aposentado lhe dá "uma disponibilidade que outros não têm".
Francisco Vaz garante que as famílias "apoiam incondicionalmente os treinadores" e acrescenta que no Sporting, onde treinam quatro dos 10 atletas que representam Portugal, "há uma espécie de "núcleo" de pais, que se encontram diariamente enquanto os filhos treinam".
Durante o percurso competitivo de João Vaz, a família já foi obrigada a custear várias despesas, porque, como alerta Francisco, "os miúdos não têm qualquer apoio". "Ou os pais têm capacidade económica para suportar, ou é praticamente impossível mantê-los", completa.
"Não há apoios formais e oficiais, que permitam que mais miúdos possam vir para isto. O João evoluiu também porque nós pudemos apoiá-lo sempre", afirma.
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Francisco Vaz pede "uma revisão da lei de forma a permitir que os atletas de alta competição que não podem participar nos Jogos Paralímpicos, porque não existe uma classe para eles, possam beneficiar de apoios financeiros" para pôr fim ao que classifica "como uma injustiça".
Atualmente, os atletas com Síndrome de Down podem participar nos Jogos Paralímpicos apenas através da deficiência intelectual, mas o facto de terem características fisiológicas e musculares bastante específicas dificulta muito uma eventual qualificação.
Em termos de apoios, os atletas com Síndrome de Down não são apoiados por qualquer programa estatal específico, não recebendo, por isso, qualquer bolsa para preparação ou prémios monetários pelas medalhas conquistadas.
Nas bancadas das piscinas municipais de Albufeira, e quando ainda falta um dia de provas, Francisco Vaz e as famílias dos outros nove nadadores portugueses já celebraram, sempre efusivamente, a conquista de 26 medalhas, nove das quais de ouro.