Sílvia Coelho: "Pressão? Todos sabemos o peso de quatro ou cinco clubes"
O erro faz parte do jogo e em pista todos erram, mas o árbitro é o que fica mais exposto. Sílvia Coelho defende a importância do controlo emocional e não acredita na falha propositada de um árbitro.
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Após cinco anos de I Divisão, Sílvia Coelho construiu um nome e uma forma de estar em pista segura e tranquila, mesmo quando a carga subjetiva de certas regras atrapalham. Numa altura da época em que todos os pontos contam, algumas equipas protestam mais com a arbitragem e vão surgindo os comunicados de clubes. A pressão aumenta.
Como é a sua abordagem com os jogadores? É rígida ou pedagógica?
-Falo a língua que o jogador quer falar comigo. Mas o árbitro pode fazer cumprir sem estar aos gritos. Além disso, não tenho problemas em dizer obrigada ou pedir desculpa. Os jogadores dizem que tenho a faca e o queijo na mão e é verdade que tenho um cartão azul e um vermelho, mas a honestidade ultrapassa tudo.
Como olha para as críticas aos árbitros, em que se usa muito o termo "roubar"?
-Com tristeza e solidariedade para com os árbitros. Todos podem agir a quente, o árbitro nunca pode. Muitos colegas precipitam-se no calor do jogo e não falham propositadamente, mas visto de fora até parece.
Os clubes pressionam os árbitros?
-Todos sabemos o peso de quatro ou cinco clubes. Se o árbitro não estiver preparado emocionalmente, sente a pressão.
Há equipas ou jogadores que mexem mais com os árbitros?
-Não vou dizer nomes, mas no passado sentia isso com certos jogadores, pela sua personalidade. Hoje, não. Mas no início mostrava um azul e olhavam para mim com os olhos tão arregalados que pensava: "se calhar fiz mal". Afinal, ele eram campeões do mundo e eu apitava há meses, mas o cartão na hora certa é que me fez crescer, embora sinta que fui enganada muitas vezes [risos].
Qual o momento mais complicado que teve?
-Foram alguns, mas eu sou muito calma. É com calma que se desarmam as pessoas Não estou no campo para discutir. Se tiver de ser penalizada sou pelo observador e não pelo jogador. Esse tem de respeitar.
Qual o jogo que mais gostou de apitar, ou qual o mais difícil ou o mais fácil?
-Mais difícil não sei dizer, mais fácil é sempre o jogo em que o jogador quer jogar. O que mais gostei não sei, teria de dizer uns 30 ou 40. Mas o jogo de que mais gosto é aquele em que saio e digo: "hoje parecia um pavão" [risos].
É a favor do VAR no hóquei?
-Isso dá pano para mangas.
As regras tornam o trabalho do árbitro difícil?
-Há muita subjetividade. Gostava que as regras fossem mais limpas. Quando falam em bom senso, isso é muito bonito, mas como se mede, por exemplo, a intensidade? Às vezes, o jogador sabe bem iludir o treinador e o adepto, criando uma onda negativa na imagem do árbitro. E agora há as simulações, que criam muito ruído... Temos os melhores malabaristas em Portugal.