
A equipa da Académica de São Mamede
Pedro Granadeiro
Roberto Tietz, técnico brasileiro contratado pelo presidente Nuno Coelho, é o homem do leme numa equipa que tem causado impacto no campeonato de voleibol
Leia também "Sigam um exemplo como o de Ronaldo e não como o de Messi"
Quase se pode pensar que não é a mesma Académica. Mas é. A Académica de São Mamede, que na temporada passada lutou pela permanência no Campeonato Nacional da I Divisão, ocupa nesta altura, nove jornadas disputadas, o terceiro lugar, apenas atrás de Sporting e Benfica, respetivamente, com sete vitórias e duas derrotas - em casa, frente ao Sporting, por 3-1; e na visita ao Sporting de Espinho, também por 3-1.
Nuno Coelho, presidente, e Roberto Tietz, técnico, são os obreiros desta transformação. "Nós procurávamos um treinador com a experiência, com autoridade e indicaram-nos alguns nomes, um o do Roberto. Iniciámos os contactos e, felizmente, o Roberto percebeu, logo no primeiro momento, as características do clube. Percebeu e nunca as encarou como problema, mas exatamente como características, como são o facto de não sermos um clube profissional, como vê, nem sempre treinamos na nossa casa", conta Coelho à reportagem de O JOGO que foi a um treino ao Pavilhão Municipal de Guifões. "Eu, fruto do meu passado com um treinador, que conhecia o mercado, disse ao Roberto que acreditava que tínhamos uma equipa capaz de fazer um campeonato interessante, tranquilo. Tínhamos como objetivo estarmos no play-off, e é nesse caminho que estamos", diz, salientando o que buscava num novo treinador: "Serenidade, maturidade e também conhecimento da modalidade, é claro, mas não podemos viver só das coisas específicas da modalidade. A serenidade e a maturidade foram aquelas características que entendi que seriam adequadas para treinar esta equipa e o Roberto tem-nas".
"Antes de conhecer o clube, o mais importante foram as nossas conversas. O senso de realidade que o presidente me passou foi determinante. Ele deu-me a segurança de que, antes de mim, ele próprio entendia essas características, porque não adianta um presidente dizer-me "olha, o nosso clube, tem essa equipa, tem essas características, mas eu quero que tu sejas campeão", isso não teria lógica"", é a vez de Roberto falar. "Quando o presidente me passou as características do clube, ele teve os pés no chão e dizia o que esperavam de mim e eu entendi que a esse desafio eu conseguiria responder", continua este brasileiro, natural de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul. "Antes de estar aqui, nas conversas com o presidente, vislumbrei que era mais ou menos o que aconteceu quando eu estive na Suíça [2010/11 e 2011/12], que tem um campeonato muito parecido, com algumas equipas profissionais e muitas amadoras", refere. "Portanto, para mim nada foi surpresa. Mas tenho que fazer um elogio ao presidente, porque a equipa foi muito bem montada, com jogadores experientes, que tiveram um passado no clube, outros mais jovens e talentosos, o que cria uma identidade com o clube".
Play-off é a meta a alcançar pela Ac. São Mamede
"O que nós queremos é ficar no playoff, que são os oito primeiros, e quero também explicar que entendemos o não ser profissional pelo facto de os nossos atletas terem outra tarefa durante o dia. De resto, eles têm uma atitude profissional e são tratados também como tal", volta a falar Nuno Coelho. "Nós criamos algumas metas, nós, como equipa, independentemente do que falamos antes do campeonato. Já desde os jogos amigáveis que traçamos alguns objetivos e tínhamos que conquistar um determinado número de vitórias e, como no voleibol a vitória pode valer três ou dois pontos, então nós também tínhamos que ter um número de pontos, além de vitórias, que nos permitisse estar entre o quarto e o sexto colocado", explica o simpático gaúcho, 59 anos e aparência de alemão. "Estamos em terceiro lugar, a faltar duas jornadas para o fim da primeira volta, mas são duas jornadas em que, somada à última, a classificação poderia estar completamente diferente. O facto de nós termos, por exemplo, ganho o último jogo, fez-nos permanecer em terceiro lugar. Mas como as equipas são muito próximas no que diz respeito à qualidade técnica e em outras variáveis, se tivéssemos perdido, estaríamos em quinto lugar, o que nos manteria ainda dentro da nossa meta. Da mesma forma, se ganharmos mais um jogo, desses dois que faltam, sendo que são bastante difíceis, e um é contra o Benfica, provavelmente poderemos ficar entre os quatro primeiros do campeonato ao terminar a primeira volta. Mas, se os resultados não forem esses e nós estivermos em quinto ou sexto lugar, estamos igualmente na nossa meta, que é, inclusivamente, o nosso objetivo para o final", explana. "Contente? Para mim, só fizemos o que tínhamos a fazer. E até diria que poderia ter sido um pouco melhor, poderíamos estar no terceiro lugar com, pelo menos, mais um pontinho. Se pensarmos que perdemos com o Sporting por 3-1 e no quarto set estava 24-24, significa que mais um ou dois pontinhos e já poderia ter sido um resultado diferente e um pontinho a mais na classificação. Eu estou satisfeito dentro daquilo que demos e podemos dar, mas nunca no sentido de que isso me deixa confortável. Eu preciso estar desconfortável, como treinador eu preciso estar insatisfeito, para chegar a mais", salienta.
A forma apaixonada de jogar
"Os irmãos Leão têm muitos anos de Académica de São Mamede, desde pequenitos, e a Académica é um clube com um grande sentido familiar, de pertença", comenta Nuno Coelho. "Este é um clube que vai fazer 80 anos em 2026 e isso tem um grande significado", afirma. "Nesse âmbito, nós fizemos regressar o Dinis e o Sebastião Leão, tal como o Francisco Santos, que também era jogador da nossa formação, ou o Diogo Almeida, que tinha sido nosso nos escalões jovens, portanto, pessoas que, de alguma forma, estejam ligadas ao clube. É importante a forma apaixonada como os atletas possam jogar", alerta, para terminar: "Os Leões são muito importantes no grupo, mas todos os outros também são. São dois belíssimos jogadores, experientes, mas também temos jovens que estão a fazer um campeonato brilhante. A maturidade e a experiência deles também ajudam muitos mais novos".

