As declarações dos protagonistas da oitava etapa da Volta a França.
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Dylan Teuns temeu ser alcançado pelo magistral Tadej Pogacar, mas pôde este sábado homenagear o seu avô, ao vencer a louca oitava etapa da Volta a França em bicicleta, que confirmou a hegemonia do novo camisola amarela.
Dois anos depois de ter vencido em La Planche des Belles Filles, o belga da Bahrain Victorious, de 29 anos, esgueirou-se entre a chuva e os incontáveis ataques na derradeira fase da etapa, e pedalou com o avô, que faleceu três dias antes de rumar ao Tour, no pensamento, aguentando a perseguição do esloveno da UAE Emirates, que vestiu a amarela e sentenciou a geral.
"Com os gritos de apoio do público, não conseguia ouvir o que me diziam no auricular, não sabia quanta vantagem tinha. Só percebi que podia ganhar quando faltava pouco mais de um quilómetro [para a meta] e olhei para trás e vi que estava o carro da minha equipa. Isso significava que havia margem", confessou, revelando que, na descida que se seguiu à subida a La Colombière, e na qual arriscou demasiado para cortar a meta isolado, com o tempo de 03:54.41 horas, sentiu a bicicleta fugir-lhe "várias vezes" no asfalto molhado.
Esperava-se que a oitava etapa fizesse uma decisiva seleção entre os candidatos à geral, mas nem os mais pessimistas poderiam antecipar o que aconteceu hoje, nomeadamente nos quilómetros iniciais dos 150,8 de ligação entre Oyonnax e Le Grand-Bornand: assim que a estrada começou a inclinar, o vencedor do Tour2018, o galês Geraint Thomas (INEOS), descolou do grupo, já depois de o seu amigo e tetracampeão Chris Froome (Israel Start-Up Nation) ter semelhante destino.
Mas a jornada catastrófica para antigos ou atuais camisolas amarela tinha apenas começado, com Primoz Roglic a pagar novamente o impacto da grave queda sofrida na terceira etapa e a ser acompanhado durante largos quilómetros pelas câmaras de televisão, expectantes para testemunhar "in loco" o abandono do esloveno - o duro ciclista da Jumbo-Visma não desistiu e cortou a meta a 35 minutos do vencedor, num grupo no qual também seguiam Thomas e Froome e que ficou a apenas três minutos de ser eliminado.
Numa jornada de chuva copiosa, em que nenhuma fuga organizada vingou, Mathieu van der Poel despediu-se da amarela na segunda contagem de primeira categoria do dia, o Col de Romme: já depois de, um pouco mais atrás, passar por dificuldades, o holandês da Alpecin-Fenix "afundou-se" nos 8,8 quilómetros da subida, com uma inclinação média de 8,9%, muito por culpa do trabalho da UAE Emirates.
Davide Formolo recebeu o testemunho de Rui Costa - o português foi perdeu quase 35 minutos e é 111.º na geral, a mais de uma hora do seu companheiro esloveno -, dinamitou o já reduzido grupo de favoritos, distanciando o camisola amarela, mas também Miguel Ángel López (Movistar), Vincenzo Nibali (Trek-Segafredo) ou Ruben Guerreiro (EF Education-Nippo), que é agora 46.º, a 36.12, e preparou terreno para o ataque do seu líder.
Pogacar atacou em força, a mais de 30 quilómetros da meta, levando na roda apenas Richard Carapaz (INEOS), que, contudo, não teve pernas para acompanhar o jovem esloveno, com "Pogi" a partir no encalço de uns quantos "aventureiros" que seguiam na frente.
Eram eles Teuns, Ion Izagirre (Astana), segundo na etapa a 44 segundos, Michael Woods (Israel Start-Up Nation), terceiro a 47, Wout Poels (Bahrain Victorious), Simon Yates (BikeExchange), Sören Kragh Andersen (DSM), Guillaume Martin (Cofidis) ou Nairo Quintana (Arkéa-Samsic), nomes grandes apostados em conquistar uma etapa de desassossego permanente, que haveria de confirmar a inegável superioridade de Pogacar, que, sozinho, apanhou todos os fugitivos, à exceção do belga da Bahrain Victorious.
"Esta manhã, queríamos ver como decorreria a etapa, mas foi dura desde o início. Não houve realmente uma fuga, pelo que o ritmo foi rápido. Com esta meteorologia, sentia-me bem. Disse aos meus colegas que estava pronto e fui. Mostrei que somos uma equipa capaz de ir à procura da camisola amarela", descreveu.
O recital do campeão em título deixou a classificação geral praticamente definida - só uma "tragédia" o impedirá de subir ao lugar mais alto do pódio em Paris pelo segundo ano consecutivo -, já que os principais rivais do esloveno, de 22 anos, cortaram a meta com perdas superiores a três minutos.
O pouco ou nada trepador Van Aert, que está a 01.48 minutos de "Pogi", tem o segundo lugar a prazo, tal como acontece com o cazaque Alexey Lutsenko (Astana), terceiro a 04.38; Rigoberto Úran (EF Education-Nippo), Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma), Carapaz, Wilco Kelderman (Bora-hansgrohe) e Enric Mas (Movistar), os reais candidatos ao pódio, já estão todos a cinco minutos.
No domingo, os Alpes fazem a sua única aparição, na ligação de 144,9 quilómetros entre Cluses e Tignes, naquela que é a primeira chegada em alto da 108.ª edição da "Grande Boucle" e que conta com cinco contagens de montanha, incluindo uma de categoria especial.