Reinaldo Ventura usa Itália para avisar Portugal: "Se ajudar a salvar uma vida, já fico contente"
PREMIUM >> Reinaldo Ventura joga em Itália, assistiu ao início da pandemia do coronavírus e usou as redes sociais para alertar os portugueses
Corpo do artigo
Reinaldo Ventura teve um caso positivo de covid-19 na equipa, o Trissino, e está há mais de um mês de quarentena. Em casa, na companhia da mulher e dos filhos, espera ansiosamente que a época recomece
O tempo livre tem sido gasto por Reinaldo Ventura a partilhar, nas redes sociais, informação sobre a covid-19 e não se cansa de pedir para que todos fiquem em casa.
Itália começou por suspender a Taça e depois toda a atividade. Está fechado em casa há quanto tempo?
A equipa entrou em quarentena quando tivemos um caso positivo no grupo. Ficámos dez dias em casa e, logo depois, o país entrou em quarentena. Por isso estamos há um mês e uma semana em casa. Nos primeiros dez dias nem a porta de casa podia transpor. Agora só saio para ir ao supermercado e à farmácia. Vejo filmes, estou no computador, treino, brinco com os miúdos e a fazer o possível para continuarmos todos sãos.
E como tem sido com os seus filhos?
O meu filho mais velho, de 11 anos, está a ter aulas online, e consegue estar entretido, o outro só brinca. O que une todos os pais de todos os países que estão em quarentena é o tentar manter a normalidade e não passar para os miúdos esta preocupação. O desafio é mantê-los ocupados e manter a nossa sanidade mental.
Muitas pessoas tentaram voltar. Porque não o fez?
Porque a logística era difícil. Quando acabou a quarentena da equipa, o país já estava fechado. Não conseguiríamos sequer sair do país.
Como poderão ser as próximas semanas?
Temos de viver o dia a dia e esperar que a situação melhore. Tem morrido muita gente. Há apelos constantes à união do país. Todos têm de ficar em casa para que o período desta crise não se alongue e para que também, depois, o impacto financeiro e económico não seja tão severo.
Quando percebeu que era grave?
Enquanto a equipa estava em quarentena, ainda não era uma fase demasiado crítica. Só quando o país entrou em quarentena é que realmente ganhámos noção.
Tem feito muitos apelos nas redes sociais. Porquê?
Aqui fomos atingidos violentamente e bem antes de chegar a Portugal. Eu queria abrir os olhos das pessoas. Se eu ajudar a salvar uma vida, já fico contente, porque o que se vive aqui é demasiado grave. Em Itália, foi um deixa andar, e quis alertar para que o mesmo não se passasse em Portugal. Via-se o que se passava na China, mas ninguém pensou que chegaria aqui e com esta intensidade. Depois do que se passou aqui, pensava em Portugal e perguntava-me: como não tomam as medidas corretas no tempo correto?
Qual é a sua mensagem?
Protejam-se, tenham muito cuidado. Ajudandonos a nós, ajudamos os outros. Tem de ser uma preocupação de todos, não pode ser pessoal. Se todos fizermos isso, isto acaba mais depressa. Matar a economia durante três semanas é menos grave do que matá-la durante três meses. Se, em Portugal, se revolver dentro de um mês, o impacto financeiro será menor. Em Itália, sinceramente é tudo muito triste e, quando penso no futuro, não sei como vai ser.
"Não há quem não queira jogar o que resta da época"
Para Reinaldo Ventura, o resto da época "é uma grande incógnita", mas, se houver tempo, o jogador aplaude "o adiamento do Europeu para que os campeonatos se realizem e os clubes possam obter alguma receita, para que seja possível salvar um pouco do que foi perdido financeiramente." Estender a época para lá do habitual levanta o problema relacionado com o m dos contratos em junho, contudo Reinaldo Ventura defende: "Não há quem não queria jogar o que resta e, quanto aos salários, terá de haver uma exibilização e um acordo entre clubes e jogadores. Por exemplo, porque não fasear pagamentos? Poderá haver um corte imediato, que seria reestabelecido no futuro. Mas se uma federação decidir acabar tudo sem falar com ninguém, poderá ser grave."
"Tenho saudades de tudo"
Depois de 24 anos ao serviço do FC Porto, Reinaldo Ventura mudou-se para o Barcelos, onde esteve duas épocas, e a seguir foi jogar para o campeonato italiano, onde se encontra há três épocas. De Portugal, diz que tem "saudades de tudo, como qualquer outro emigrante", e, entre outras coisas, faz questão de seguir tudo o que se passa no campeonato nacional. Para ele, "entre os candidatos ao título tem havido alguma inconsistência e o Benfica, a par do Sporting, tem mais condições para se sagrar campeão", embora, admite, "tudo possa acontecer." "É esta incerteza, esta imprevisibilidade, que representa a grande mais-valia do hóquei português." Especificamente sobre o FC Porto, campeão português, refere: "Não está tão equilibrado como noutros anos e depende muito de ações individuais de alguns jogadores."
Um Troféu europeu para atacar
Confiante que a época se possa jogar até ao fim lá para junho/julho, Reinaldo Ventura cria expectativas sobre a Taça WSE, prova europeia que já conquistou por FC Porto (1995/96) e Barcelos (2015/16) e que agora quer ganhar pelo Trissino, orientado por Sérgio Silva e onde também jogam o argentino Emanuel García (também um dos jogadores do deca portista) e Diogo Neves. "O Barcelos e o HC Braga são os candidatos, mas, tal como eles, esta é também para nós a única oportunidade de ganhar um título este ano e acho que, mesmo que remoto, se pudermos intrometer-nos, vamos dar tudo."