Começou por ir visitar o avô e acabou o dia em entrevistas, as quais confessou já preparar, para disfarçar a timidez. Rui Vinhas, que no próximo mês será pai, num ano de ouro, é um homem raro.
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Chegou descontraído ao hotel de Valongo onde a W52-FC Porto sempre estagia e falou com a sinceridade que o caracteriza, ao ponto de confessar que não se achava capaz de ganhar uma Volta. Rui Vinhas, sobradense de 29 anos, é um corredor muito especial.
Já se sente vencedor da Volta a Portugal?
-Levantei-me de manhã e fui visitar a família, especialmente o meu avô, que tem um problema de saúde e chorou muito com a minha vitória. Começo a assimilar que ganhei. O Ricardo Mestre já me tinha dito que só três ou quatro dias depois se dá conta do que isso significa. No ano passado, estava feliz ao vencer o Grande Prémio do Dão, mas isto é muito diferente. Logo em Lisboa era uma sensação única, nunca me tinha metido numa assim. Já percebi que deve mudar a minha vida, para melhor.
Já respondeu às mensagens de felicitações?
-Não consigo responder a todos e também não sou de o fazer só a alguns. Para mim, todos são iguais. Acabei por desligar o telefone, espero que compreendam.
Ganhou a Volta e dentro de um mês será pai...
-Será uma vitória ainda mais apetecida do que ganhar a Volta a Portugal. Este é o meu ano.
Vai comprar uma minicamisola amarela para o Pedro?
-As minhas camisolas são todas mini. O filho mais velho do Nuno Ribeiro vestiu o meu fato de contrarrelógio e ficou-lhe bem...
Você gosta de crianças?
-Bastante. Acompanhei a infância dos filhos do Nuno, o Guilherme e o Duarte. O Guilherme ia muitas vezes para minha casa. A minha esposa também adora crianças. Daí a necessidade de sermos pais, agora que a nossa vida estabilizou. Faz-nos falta.
O Rui Vinhas é tímido. Como encarou tantas atenções?
-Nos primeiros dias foi difícil. Não sabia como lidar com algumas questões. Muitas vezes já ia pensando durante as etapas no discurso que iria ter. Sabia que tinha de falar de forma mais calma. Creio que já melhorei o discurso...
Não tinha o hábito das grandes entrevistas?
-Entrevistas como esta nunca dei.
Há outros como o Rui Vinhas no pelotão, a quem só falta uma oportunidade?
-Penso que sim. Há muitos trabalhadores, gente humilde. Outros podiam ter uma oportunidade assim. Isto é uma questão de acreditar. Se o meu diretor me dissesse antes que eu ia disputar a Volta, eu respondia-lhe que não era capaz.
Custou-lhe ganhar ao Gustavo?
-Foi doloroso. Mais do que um chefe de fila, ele é como um pai para nós. Ajuda-nos a todos. Ele sempre me apoiou, sempre protegeu. Fiz etapas na roda dele. Em Lisboa, e passados uns minutos, ele ficou mais calmo e veio ter comigo. Ele lutou muito, este ano teve uma queda grave e era o homem mais forte da Volta.
Não podia acontecer ter de abrandar para o Gustavo ganhar?
-Nunca me passou pela ideia. Mas se tivesse ordens para puxar ou esperar por alguém, mesmo estando de amarelo iria fazê-lo. Sou respeitador e cumpro com o que me pedem. Dou o melhor por qualquer colega. Respeitei o Gustavo, mas a opção de ter os dois até final pareceu-me uma boa tática.