Rui Costa: "Na Figueira fiquei arrepiado, no Algarve a aspiração é o pódio"
De regresso aos grandes momentos com a mudança para a Intermarché-Circus-Wanty, poveiro confessa a O JOGO que está a superar as próprias expectativas
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Primeiro no Troféu Calvià, vencedor da última etapa e da geral da Volta à Comunidade Valenciana e quarto na Figueira Champions Classic, Rui Costa está a viver, aos 36 anos, o seu melhor início de época de sempre. A mudança para a Intermarché-Circus-Wanty foi decisiva no regresso aos êxitos e, em exclusivo a O JOGO, o poveiro explica o que a equipa belga lhe trouxe de diferente.
Mas começou por revelar as metas para a Volta ao Algarve, que correrá entre esta quarta-feira e domingo, tendo João Almeida como um dos maiores adversários.
Quais são as suas ambições na Volta ao Algarve?
- Os meus objetivos são claros, pois a Volta ao Algarve tem um percurso que pouco muda. Não a corri o ano passado, mas de diferente só o contrarrelógio no último dia, com mais alguns quilómetros, e algumas subidas na etapa até à Fóia. Tenho sempre a aspiração de lutar por um pódio, o meu foco é esse bom resultado, mesmo sabendo que o contrarrelógio não me favorece e que este ano nem sequer trabalhei muito essa especialidade. Mas aqueles 24 quilómetros, sendo rápidos, não são totalmente planos e têm algumas viragens de direção, características que eu prefiro.
Podemos dizer que vai ter o primeiro duelo com João Almeida?
-Não posso falar em duelo, porque o ano passado fomos colegas e temos uma boa amizade. Não é um duelo entre mim e ele, trata-se mais do objetivo das equipas, que é ganhar. Posso dizer que ficaria muito feliz se fosse ele a vencer. Este percurso não é fácil para mim, mas talvez seja favorável ao João Almeida.
Considera-o um dos favoritos?
-Sem dúvida que ele é um dos favoritos. Não conheço os outros, que ainda não me deram uma lista de inscritos. Mas a corrida decide-se nos últimos dois dias, com a subida ao Malhão e o contrarrelógio. É mais para ele, que eu precisaria de estar num grande dia, de conseguir estar com toda a força naqueles 24 quilómetros.
Já tem três vitórias em nove dias de corrida. Na Intermarché-Circus-Wanty estão surpreendidos com o seu rendimento?
-Na equipa estão satisfeitos. Eles acreditaram que eu poderia ser uma mais-valia e isso deu-me confiança. Um novo ambiente, novos colegas e staff, tudo isso me fez sentir bem, mas reconheço que este início com vitórias foi surpreendente até para mim. Eles contavam com a minha experiência, queria que ajudasse os mais jovens, ao mesmo tempo que me davam oportunidades, mas não esperariam que entrasse tão bem.
Gosta da forma de correr dos belgas, que em vez de controlarem corridas preferem ataques de surpresa?
-Esta equipa corre com uma liberdade que não existia na UAE Emirates, que era sempre obrigada a entrar forte, a trabalhar desde o início das etapas, controlando-as para os seus líderes. A Intermarché-Circus-Wanty corre aberta, sem pressão, não tem aquela responsabilidade de obter um resultado. Ao mesmo tempo, nesta equipa qualquer corredor pode atacar, pode tentar o seu momento.
A sua equipa foi líder do ranking mundial até hoje. Isso muda alguma coisa?
-Ser líder mundial aumenta a responsabilidade. Mas é sobretudo bom para a confiança, estamos a correr com outra moral e a provar que o nosso trabalho de inverno está a dar frutos. Aliás, faço um destaque: uma equipa com um dos orçamentos mais baixos do World Tour estar a liderar o ranking mundial em janeiro e fevereiro é surpreendente.
Essa liderança deve-se em muito ao Rui Costa, que tem três das seis vitórias da Intermarché-Wanty. Fez a melhor preparação de sempre para o início de época?
-Normalmente trabalho sempre muito no inverno. Sou um profissional responsável e preparo-me para entrar bem nas épocas. Em todas as equipas sempre comecei bem, com exceção dos anos em que tive algum problema de saúde ou lesão a afetar a preparação.
Vai ter de novo a Volta a França como maior objetivo da época. Iremos vê-lo de novo a conquistar etapas?
-Da Volta a França ainda não sei bem o que esperar, está demasiado longe. O meu foco está nas próximas corridas, porque gosto de encarar a época por blocos. Este primeiro vai até à Strade Bianchi, depois faço uma pausa e regresso com Volta ao País Basco e clássicas das Ardenas - uma grande meta da equipa - e depois terei a Volta à Romândia, já a pensar na Suíça e no Tour.
A Suíça, onde tem três vitórias e seis top-10 em dez presenças, é a sua corrida preferida?
-Tenho sempre um carinho especial pela Volta à Suíça, até por ter o recorde das três vitórias consecutivas. Não lhe posso chamar corrida favorita, é mais uma corrida talismã. Atualmente tornou-se difícil ganhar lá. Muitos dos candidatos a ganhar a Volta a França estão a preferir a Suíça, por não ter o stress do Dauphiné, portanto a concorrência aumentou.
Foi quarto na Clássica da Figueira do passado domingo, mas essa prova ficou marcada pelo entusiasmo da multidão que o apoiou. Voltou a ter o carinho dos portugueses, ou acha que nunca o tinha perdido?
-Sempre senti o entusiasmo dos portugueses, isso nunca se perdeu, mas é normal que quando um atleta está na ribalta as pessoas se lembrem mais dele. O que aconteceu na Figueira da Foz foi algo de especial, até fiquei arrepiado ao ouvir tantas vezes o meu nome. Foi uma surpresa, até porque se tratava da primeira clássica nacional com equipas do World Tour, e consegui estar até ao fim com opções de lutar pela vitória. No sprint queria um lugar no pódio, que aquelas pessoas mereciam, mas tenho de ficar contente com o quarto lugar.