Ricardo Mestre e o doping: “É mais ou menos comum, principalmente no pelotão português”
Ricardo Mestre confirmou ter-se dopado quando estava na W52-FC Porto para se manter a par do restante pelotão nacional, além de realizar transfusões de sangue, comprando produtos pela Internet ou na farmácia
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Os ciclistas Ricardo Mestre, vencedor da Volta a Portugal em 2011, e Samuel Caldeira assumiram este sexta-feira em tribunal terem-se dopado depois de 2020, quando estavam na W52-FC Porto, no segundo dia de julgamento de 26 arguidos em Paços de Ferreira.
Mestre confirmou ter-se dopado para se manter a par do restante pelotão nacional, além de realizar transfusões de sangue, comprando produtos pela Internet ou na farmácia.
“O doping é um sistema regular no ciclismo, onde nos adaptamos para conseguirmos atingir o nível que se pretende para chegar ao topo”, declarou Ricardo Mestre.
O vencedor da Volta2011 assumiu também os factos e disse que começou a dopar-se “mais assiduamente a partir de 2020”, mas recusou, mais tarde, responder a perguntas sobre o período anterior à investigação.
“Estava preparado, recebia mensagem para ir ao quarto, com o número do quarto”, contou, sobre o funcionamento em competição quanto a vitaminas injetáveis, explicando depois que era Nuno Ribeiro quem lhe comunicava a disponibilidade.
Os valores biológicos eram transmitidos ao diretor desportivo, e o ciclista confirmou que, em 2020, pediu a este que lhe fizesse chegar dinheiro para pagar uma compra de produtos, e outras ocasiões em que este lhe diz o que administrar.
“Mais que uma vez” recebeu dinheiro por estas compras, tendo confirmado que sabia “dos mais próximos” corredores quem se dopava, até porque chegou a comunicar valores de um outro ciclista ao diretor.
Como João Rodrigues no dia anterior, também este ciclista referiu ter tido receio de tomar a mais e confessou nem sempre seguir essa recomendação, tomando menos por vezes, além de alinhar com Caldeira na noção de que o doping “é mais ou menos comum, principalmente no pelotão português”.
Essa “regra” foi um dos fatores para decidir dopar-se, referiu, um ato que o deixou “envergonhado e arrependido”, e “visto como batoteiro” em Tavira.
Para a tarde estão programadas as declarações de outros três arguidos, os ciclistas Ricardo Vilela, Daniel Mestre e Daniel Freitas, bem como do presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP), Manuel Brito.
A ADoP sancionou os ciclistas presentes, à exceção de Jorge Magalhães, cujo processo ainda decorre na instância desportiva. Todos cumprem sanções por dopagem, com sete deles - Rodrigues, Vinhas, Ricardo e Daniel Mestre, Caldeira, Neves e Vilela – com pena reduzida por terem reconhecido a culpa.
No julgamento que arrancou quinta-feira, todos os 26 arguidos respondem pelo crime de tráfico de substâncias e métodos proibidos, mas apenas 14 deles respondem pelo de administração de substância e métodos proibidos.