Desconhecia a modalidade, mas, desafiado, com dez anos foi experimentar. No ano seguinte já estava federado e a carreira desta lenda do FC Porto e também já do Sporting dura até hoje como técnico
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Colégio dos Carvalhos, Vila Nova de Gaia, 1986. Ricardo Costa, com dez anos, era um dos muitos alunos na aula de Educação Física, estando três turmas em simultâneo a jogar futebol. Um dos professores, que não o dele, percebendo aptidões físicas, aproximou-se e perguntou-lhe se sabia o que era andebol. Perante a resposta negativa, José Magalhães, com 33 anos de ligação ao FC Porto, os últimos 28 consecutivos, desafiou-o a experimentar. Assim começou a carreira na modalidade desconhecida do homem que, anteontem, se tornou no primeiro treinador português a ganhar os três títulos na mesma temporada: Campeonato, Taça de Portugal e Supertaça. Ao serviço do Sporting - que passou a ser o segundo clube luso a alcançar o pleno, depois das quatro vezes do ABC, nos anos 90, com Aleksander Donner -, Costa, natural da freguesia de Santo Ildefonso, no Porto, está a exponenciar todas as qualidades. “Sempre demonstrou grande interesse pelo treino, saber o que se fazia e porquê”, contou-nos Cândida Mota, a mulher, também ela antiga internacional A de andebol.
Mas voltemos no tempo: aos 11 anos Ricardo Costa começou a jogar no Colégio, aos 15 mudou-se para o Boavista, onde fez parte da equipa que conseguiu a melhor classificação de sempre do clube (3.º lugar) e, com 18 anos, chegou ao FC Porto, tudo isto sempre pela mão de Magalhães. Ficou sete temporadas nos azuis e brancos e ganhou três campeonatos, duas Supertaças e foi ainda distinguido com o Dragão de Ouro para atleta revelação do ano (1996). Dos portistas mudou-se para o Águas Santas, onde esteve dois anos, para, em 2005/06, lançar-se à aventura em Espanha, no Algeciras, primeiro e por uma época, e as restantes cinco no Ademar Leon, clube ao serviço do qual jogou uma final da Taça EHF e conquistou uma Taça do Rei. “Lembro-me de, em Leon, ele passar tardes em casa do Manolo Cadenas a falar e a tirar apontamentos. Tinha um caderno onde escrevia tudo o que achava de importante”, recorda ainda Cândida Mota. De resto, Cadenas e Jordi Ribera são as grandes referências do treinador leonino de 47 anos, também empresário na área dos mármores e granitos. Termina a carreira de jogador, ponta-direita de exceção - é o sétimo português mais internacional de sempre, com 210 internacionalizações, 147 A, com 399 golos -, num regresso a casa para uma última época, 2011/12, onde vence o quarto título de campeão nacional pelo FC Porto.
Cedeu no FC Porto e triunfou no Sporting
Durante a última temporada como atleta, em 2011/12, no FC Porto, Ricardo Costa já acumulou as funções de treinador-adjunto de Ljubomir Obradovic, para, em 2012/13 coordenar o andebol do Colégio dos Carvalhos - onde tudo começou - treinar os juvenis da instituição de ensino e fazer o mesmo nos juniores e equipa B dos dragões e ainda acompanhar o sérvio na equipa A. Depois de passar pelo ISMAI e ter sido selecionador de Cabo Verde, regressou aos azuis e brancos como técnico principal. Assinou por duas épocas e, após fases regulares só com vitórias, cedeu nas decisões, uma num modelo competitivo como o deste ano, outra em play-off. Seguem-se FC Gaia, onde se sagrou campeão nacional da II Divisão, Avanca e, de 2021/22 para cá, o Sporting. De leão ao peito tem um campeonato, três Taças de Portugal e uma Supertaça.
Paixão é a base do sucesso de costa
“Quem vive o que faz com paixão, tem tudo para ter sucesso”, assegurou a interlocutora de O JOGO para este traçar de perfil do marido. De facto, Ricardo sempre foi assim: irreverente e guerreiro são adjetivos que lhe assentavam na perfeição nos muitos anos que levou como jogador, tendo essas características também estado na origem do desafio que Magalhães lhe lançou quando tinha dez anos.
Amigo com que se pode contar
Excluindo os pais, Lídia e Benjamim, e os irmãos Sérgio e João, Cândida Mota é quem melhor identifica Ricardo. Conhecem-se desde os 17 anos, têm 31 de vida em comum e dois filhos, dos maiores craques da atualidade, Martim e Kiko, com 21 e 19 anos e internacionais A. “Valoriza a família e os amigos. Faz tudo por eles”, refere Cândida, uma orgulhosa mulher de um “inspirador nato”.