ENTREVISTA A RICARDINHO (PARTE 1) - O craque português, jogador do Inter Moviestar (Espanha), seis vezes melhor do mundo, esteve quase a voltar a casa pela mão do Sporting, através de uma oferta milionária, mas o Benfica e Luís Filipe Vieira também entraram em cena...
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Foi em abril que o Sporting acenou com milhões pouco vistos no futsal para ter Ricardinho. O Mágico balançou, mas recusou. Pelo meio, Luís Filipe Vieira abriu as portas do regresso ao Benfica, mas o canhoto optou por ficar no Inter Movistar. Todavia, o craque revela, em entrevista a O JOGO, que o regresso a Portugal pode estar "para breve".
Deu uma entrevista a O JOGO no ano passado, antes de ganhar pela quinta vez o prémio de melhor do mundo. Se o pretexto para uma entrevista for sempre este, por quantos anos mais é que nos vai dar entrevistas?
- Não sei. Cada ano que passa é mais difícil vencer um prémio deste tamanho, também já não sou um jovem, os jovens cada vez estão mais fortes e os que vão ficando em segundo, terceiro ou no quarto posto desta distinção têm cada vez mais vontade de serem os primeiros. Trabalharei mais e melhor, dentro do que me é exigido, para conseguir manter-me mais anos como o melhor.
Já vai em seis prémios de melhor do mundo. Falcão ganhou quatro... vê-se como o melhor de sempre?
- Isso do melhor de sempre é muito difícil de dizer. No futebol, todos falam de Pelé, Maradona, Messi ou Cristiano Ronaldo e ninguém chega a um consenso. No futsal, é verdade que são menos as opções para tal comparação, mas certo é que nos últimos anos me sinto o melhor no momento, com todo o respeito que tenho pelos jogadores do mundo inteiro. O Falcão será sempre o meu ídolo e uma grande referência; estar nessa comparação já é um motivo de orgulho. Por isso estou eternamente grato aos meus companheiros de equipa e Seleção.
"Eu é que falei com o presidente do Inter Movistar. O carinho que tenho por clube, diretores e presidente foi o que me fez ficar"
Arrependeu-se em algum momento de ter rejeitado a proposta do Sporting?
- A única coisa que me arrependo até hoje de fazer foi ter deixado que gravassem um episódio contra um clube - tirando os momentos de quando somos rivais em campo, e isso é "normal" - que nunca me fez mal [vídeo de 2016 no qual surgiu a insultar o Sporting]. De resto, não me arrependo de nada, tomo as decisões com cabeça e as mesmas são pensadas. Foi uma grande oportunidade, sem dúvida, mas não se concretizou e sou um orgulhoso atleta do Inter Movistar. Mas o regresso a Portugal está para breve.
O Benfica contactou-o alguma vez, quando se falou na proposta do Sporting?
- Obviamente que sim... até me fez uma oferta. Mas não se concretizou. Falei com o presidente, ele abriu-me as portas, mas não era viável.
A intervenção junto de si por parte do dono do Inter Movistar foi decisiva para ter ficado?
- Pelo contrário. Eu é que falei com o presidente do Inter, José María García. Falámos em minha casa, expliquei a situação, ele argumentou a parte do clube. Depois, eu e a minha família tomámos as decisões que tínhamos de tomar. O carinho que tenho pelos adeptos, pelos meus companheiros, a ambição de ganhar, o carinho que tenho por clube, diretores e presidente, e porque aqui valorizam mais o que fazes em campo, foi o que me fez ficar. Se fosse por dinheiro ou pelas pessoas da Liga, teria saído.
"Retirada? Ainda é muito cedo para pensar nisso"
Ricardinho completou 33 anos a 3 de setembro. Apesar de a idade ir avançando, o adeus ainda está para longe. "Todos os anos fazemos muitos jogos, o que acarreta um desgaste enorme. No entanto, fisicamente sinto-me bem e preparado. Ainda é muito cedo para decidir algo tão importante", respondeu o Mágico, que gostaria de ser uma espécie de embaixador da modalidade. "Quero muito um dia poder dizer ou saber que ajudei no crescimento da modalidade e, quem sabe, ser um embaixador europeu ou mundial do futsal", referiu.
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"Todos os anos haverá jantar dos campeões"
Há um pacto entre os 14 campeões europeus que fizeram história no ano passado na Eslovénia: a 10 de fevereiro de cada ano, os jogadores vão reunir-se à mesa. Esse dia de 2018 ficou eternamente gravado na história do futsal português, já que foi nessa data que a Seleção Nacional venceu um inédito título de campeã da Europa. Durante a prova, os jogadores portugueses criaram um grupo de WhatsApp com o nome "Campeões Europeus". Pois bem, o grupo ainda se mantém e fez um pacto para ser cumprido durante os próximos anos.
"Vamos manter o grupo por muitos anos, pois foi uma conquista histórica. Aliás, combinámos juntar-nos todos os anos num jantar no dia em que fizemos história", revelou Ricardinho. As trocas de mensagens pela rede social continuam. "Semanalmente existem conversas no grupo, brincadeiras, memórias e muito orgulho", acrescentou. Houve vários paralelismos entre o Europeu ganho pela Seleção de futsal e o triunfo do futebol em França. Um deles foi a lesão de Ricardinho na final, à semelhança do que acontecera com Cristiano Ronaldo em 2016. "Quando me lesionei, a única coisa que me passou na cabeça foi: "Já não posso ajudar os meus companheiros." A confiança na equipa era máxima e eles felizmente mostraram que eu estava certo: éramos os melhores naquele momento!", rematou.
"Quando me lesionei, a única coisa que me passou na cabeça foi: "Já não posso ajudar os meus companheiros."
Só faltou mesmo que o golo que deu o Europeu fosse marcado por Tunha, que poderia ser uma espécie de Éder, o herói de Paris. "Quando disse que gostava que fosse o Tunha a marcar o golo da vitória, não era porque ele fosse o nosso Éder, mas sim por tudo aquilo que o Tunha representava no grupo. Era o jogador mais acarinhado e brincalhão e, enquanto todos o criticavam e olhavam com desconfiança, ele estava na Seleção por qualidade e mérito próprio", vincou.
Em outubro arranca a qualificação para o Mundial"2020. "Todos vão olhar para nós de maneira diferente. Primeiro queremos fazer uma fase de qualificação de qualidade; depois queremos chegar bem preparados e levar os melhores para tentar vencer esse Mundial que tanta ilusão nos faz."