Reynier Mena em entrevista a O JOGO: "O meu sonho é ir a Paris'2024 por Portugal"
É cubano, mas quer ser português e não faz provas internacionais pelo seu país natal desde 2019, para poder vestir as novas cores no próximo ano. Evolução no Benfica pode fazer dele um novo Obikwelu. É o terceiro mundial nos 200 metros e corre os 100 em 9,99s.
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Reynier Mena chegou ao Benfica em abril, já com a ideia fixa de ser português. Veio na companhia do amigo Roger Iribarne, um especialista nas barreiras, e ambos espantaram pela evolução que exibiram no início do mês, ao correrem um meeting na Suíça. Iribarne fez os 110 barreiras em 13,26 segundos, 21.ª marca do ano, mas que o levaria à final do Mundial de Oregon. Mena arrasou: com 19,63s nos 200 metros, tornou-se no décimo mais rápido de sempre e poderia ter ido à prata no Mundial; com 9,99s nos 100 metros, iria à final. Conseguindo naturalizar-se português - e não faz provas internacionais por Cuba desde 2019, para poder ter um novo país já a partir deste ano -, será o mais rápido da história, depois de Francis Obikwelu. No Meeting da Maia, depois de fazer os 100 metros em 10,12 segundos, falou a O JOGO.
Como descobriu Portugal e o Benfica?
-Já conhecia o clube. Alguns compatriotas de Cuba tinham vindo para cá e falaram-me muito bem do Benfica. Sempre tive noção de que é um dos melhores clubes de atletismo. Aliás, para mim é o melhor.
A sua recente evolução já foi a treinar em Portugal?
-Tomei a decisão de vir para cá porque em Cuba não acreditavam em mim. Não tinha muitas oportunidades para evoluir e vim para um clube que me deu todas as condições para recomeçar a carreira. Sinto-me com vontade de ficar aqui para o resto da vida. Não pretendo voltar a Cuba.
Já está a tratar da naturalização portuguesa?
-Sim. O pedido foi feito. Espero que em breve a Federação Portuguesa de Atletismo já me dê a oportunidade de representar Portugal. Não sei quando terminará este processo, mas está em andamento.
Custou-lhe não ir ao Mundial de Oregon?
-Fiquei muito triste por não ir aos Mundiais, pois a temporada tem sido boa para mim. Estou em terceiro lugar no ranking mundial dos 200 metros e, pelos tempos que houve na final dos Mundiais, podia ter alcançado uma medalha.
Tendo 19,63s nos 200 metros, sabe que pode lutar por uma medalha olímpica? É esse o seu sonho?
-Sim. O meu sonho é ir aos Jogos Olímpicos de Paris"2024, e espero que Portugal me dê essa oportunidade. Quero muito representar este país e contribuir para o sucesso do atletismo nacional.
"Obikwelu dá-me conselhos"
Francis Obikwelu é, ainda hoje, o detentor do recorde nacional nos 100 metros, com os 9,86 segundos que lhe valeram a medalha de prata numa das mais emocionantes finais dos Jogos Olímpicos de 2004, em Atenas, e um recorde da Europa que durou até Tóquio"20, sendo batido pelo italiano Lamont Jacobs (9,80s). Em Portugal, nunca mais se correu abaixo dos 10 segundos e, 18 anos depois, surge aquele que poderá ser o sucessor de Obikwelu. Reynier Mena não está muito longe nos 100 metros (9,99s) e nos 200m, com 19,63s, já fez bem melhor do que o recorde português - Obikwelu tem 20,21s desde 2006.
Francis Obikwelu tem 9,86 nos 100 metros. Acredita que pode lá chegar?
-Espero um dia poder alcançar essa marca dos 9,86 segundos de Obikwelu. Para mim, ele é um dos melhores atletas mundiais de sempre na velocidade. É uma referência. Ele tem-me dado muitos conselhos para melhorar e espero, um dia, chegar perto das suas marcas.
Amigos no Benfica: "Este país trata-me como se fosse família"
"Gosto muito de estar em Portugal. Este país, e o Benfica em particular, trata-me como se fosse família desde o primeiro dia que cheguei", diz Reynier Mena, explicando que já tinha alguns amigos cubanos no clube, "o que facilita ainda mais" a sua integração. Mas a sua relação é mais próxima com Roger Iribarne, que também competiu no Meeting da Maia, vencendo a prova dos 110 metros barreiras (13,56 segundos). Foi Mena quem aconselhou o compatriota a seguir-lhe as pisadas e a vir para a Luz, em abril passado. Consideram os portugueses "calorosos", mas não o clima. "Nós, cubanos, não estamos habituados ao frio como o desta noite na Maia", brincou Mena.