“Resiliência das jogadoras foi determinante para alcançarmos um lugar melhor que o do ano passado”
Luís Santos comemora 25 anos de andebol. Com passagens por FC Porto, FC Gaia, ISMAI, Avanca e Santo Tirso, bem como pelo feminino nas Seleções jovens, consolidou-se, lidera agora Almeida Garrett, onde continua a desafiar-se e a elevar o nível competitivo da sua equipa.
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O Almeida Garrett alcançou o 5º lugar na 1ª fase desta temporada, uma melhoria em relação ao 6º lugar da época passada. A que atribui esta evolução?
O crescimento da equipa deve-se a um conjunto de fatores: um grupo muito ambicioso, uma maior sintonia tática e um compromisso ainda mais forte por parte das atletas. Tivemos uma preparação mais focada e a experiência da época passada ajudou-nos a corrigir erros e a potenciar as nossas qualidades. Por último, a manutenção da base da equipa da época passada e reforços com perfil adequado à nossa forma de trabalho ajudou a que isto acontecesse.
Quais foram as maiores dificuldades que enfrentou nesta temporada?
Existiram lesões importantes que nos obrigaram a reajustar estratégias. No entanto, a resiliência das jogadoras foi determinante para alcançarmos um lugar melhor que o do ano passado. Ficamos perto de entrar na Europa e no Grupo A. Agora queremos atingir a manutenção o mais depressa possível.
Durante a sua passagem pelo Avanca, conseguiu a subida de divisão. Como foi essa experiência e que impacto teve na sua carreira?
Foi um marco muito especial na minha trajetória. Subir de divisão é sempre um desafio enorme, e ver o trabalho dar frutos foi extremamente gratificante. Aquele grupo de atletas tinha um espírito de luta único e conseguimos criar uma dinâmica muito positiva. Essa experiência reforçou a minha convicção de que, com dedicação e organização, é possível superar expectativas. Depois conseguimos ainda a manutenção na primeira divisão. Os tempos em Avanca são inesquecíveis.
O que mais aprendeu durante o tempo que esteve nas seleções jovens Femininas de Portugal?
Foi uma fase enriquecedora, pois lidar com jovens talentos requer uma abordagem diferente, em especial no feminino. Há um grande foco na formação e no desenvolvimento individual das atletas. Trabalhar nesse contexto ajudou-me a compreender melhor a evolução do jogo e a preparar melhor as jogadoras para os desafios futuros.
“A subida de divisão com a Artística de Avanca foi inesquecível”
Quais foram os momentos mais marcantes da sua carreira até agora?
São vários! A subida de divisão com a Artística de Avanca foi inesquecível, assim como as primeiras vitórias no comando de equipas seniores. Depois, o apuramento para o campeonato do mundo com a Seleção de Sub-17 feminina. Por último, as conquistas da Taça da Liga e da Taça de Portugal pelo FC Porto, enquanto treinador-adjunto também ficam marcadas na minha carreira.
Como vê a evolução do andebol feminino em Portugal?
O andebol feminino tem dado passos importantes, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Há mais visibilidade, mas precisamos de maior profissionalização para competir de igual para igual com outros países europeus.
Como caracteriza o seu estilo de treino?
Sou um treinador exigente, mas justo. Gosto de equipas organizadas, com forte compromisso defensivo e uma mentalidade competitiva. Acredito que a preparação mental é tão importante quanto a física e tática.
“Não descarto a hipótese de voltar ao andebol masculino”
Quais são os seus objetivos para o futuro? Considera a possibilidade de voltar ao andebol masculino?
Quero continuar a evoluir e a levar as equipas que treino ao melhor patamar possível. Não descarto a hipótese de voltar ao andebol masculino. O meu grande sonho é treinar uma equipa que participe em competições europeias. Neste momento o meu foco é dar o melhor de mim todos os dias pelo Clube Jovem Almeida Garrett, um clube com uma estrutura e uma direção fantástica.
Que conselhos dá a jovens treinadores que querem seguir carreira no andebol?
A primeira coisa é nunca parar de aprender. O andebol está sempre a evoluir, e é essencial acompanhar as tendências e investir na formação. Também é fundamental ter paixão pelo que se faz, pois é isso que nos mantém motivados mesmo nos momentos difíceis.
Há algum treinador que tenha sido uma grande influência na sua carreira?
Sim, ao longo dos anos tive a oportunidade de aprender com vários treinadores que me marcaram. Em especial, o Carlos Resende com quem tive o gosto de trabalhar como treinador-adjunto e que foi essencial para o meu crescimento.
Como lida com a pressão e as expectativas no comando técnico?
A pressão faz parte do desporto de alto rendimento. O segredo é manter o foco no processo e não apenas nos resultados. Acredito que a preparação e a confiança na equipa ajudam a minimizar o impacto da pressão.
O que considera essencial para uma equipa alcançar o sucesso?
Trabalho, disciplina e união. Uma equipa bem-sucedida não se baseia apenas no talento individual, mas na capacidade de funcionar na totalidade. Criar um espírito de grupo forte é fundamental para ultrapassar dificuldades e alcançar objetivos.
Qual foi o jogo mais emocionante que já viveu como treinador?
Houve vários, mas lembro-me especialmente de um jogo decisivo na subida de divisão com a Artística de Avanca. A emoção, a intensidade e a superação da equipa naquele momento foram inesquecíveis.
É formador do Mastercoach da EHF e tem sido sempre convidado para eventos internacionais da EHF. Que importância tem isso para si?
Ter o privilégio de ser convidado para ser formador no Mastercoach da EHF é um orgulho e representa também o reconhecimento da qualidade atribuída aos treinadores portugueses. Além disso, a participação em eventos onde se discute o futuro da formação de treinadores de andebol na Europa é fundamental para compreendermos o que podemos e devemos fazer para continuar a formar profissionais cada vez mais capacitados para enfrentar os desafios da profissão em Portugal e no exterior. Temos dado passos muito consistentes e inovadores neste campo, e é um orgulho poder sentir que faço parte deste desenvolvimento