Andebol voltou à cidade poveira impulsionado por um grupo de ex-atletas e ex-dirigentes do Desportivo da Póvoa
Corpo do artigo
Após um hiato de 11 anos, a Póvoa de Varzim voltou a ter um clube de andebol e, 35 temporadas depois, poderá voltar a ter uma equipa na I Divisão, que será a única representante da cidade ao mais alto nível, depois de o CD Póvoa (hóquei em patins) e de o Póvoa Futsal terem estado no escalão maior em 2014/15 - o Varzim, em futebol, tendo já estado 21 vezes na I Divisão, a última época em que a disputou foi em 2002/03.
"O Póvoa Andebol foi fundado em 2003 por um grupo de ex-dirigentes e atletas do Clube Desportivo da Póvoa. Primeiro, foi-lhes pedido que o clube voltasse a ter andebol, o que foi recusado. Decidiu-se então fundar um clube, tendo começado por uma equipa de seniores "veteranos", mas as coisas não correram bem", explica o presidente, José Oliveira Pereira, que chegou ao clube em 2006, pela mão de Armando Silva, alguém que vinha a fazer "um bom trabalho ao nível da base". Nessa altura, juntaram-se também Castro Lopes, coordenador técnico, e José Henrique Teixeira, vice-presidente e dirigente mais próximo da equipa principal. "Em 2006, havia dois escalões, infantis e iniciados, mas com dificuldades, uma vez que o número de atletas era escasso. A nossa aposta foi claramente ir às escolas, do primeiro e segundo ciclo, fazer a divulgação do nosso projeto e falar com os pais. Fomos a várias escolas da cidade, de freguesias de proximidade e o grande trunfo foi instalarmo-nos como centro de treino numa escola EB 2/3", recorda Castro Lopes. "Fomos crescendo ao ponto de estarmos a pensar em criar equipas B, uma vez que o volume de atletas é de tal forma que só assim permitiremos a todos a prática da modalidade", diz, orgulhoso.
Na equipa sénior, que surgiu em 2015/16, essa subida de rendimento é ainda mais notória. Apesar de estar pela primeira vez na II Divisão, a possibilidade de subida é real, tendo já garantido presença na fase final. "O Póvoa está sempre recetivo a novos desafios, se assim não fosse não teríamos subido à II Divisão", garante José Henrique, explicando que no projeto "há três palavras fundamentais: compromisso, trabalho e querer".
Concertos com nomes grandes
Procurando manter estreita a ligação à sociedade civil, com o objetivo de divulgar tanto o clube como a modalidade, o Póvoa extravasou as "competências" que lhe assistem e é hoje, também, um dinamizador cultural da Póvoa de Varzim. "Decidimos fazer os chamados concertos de São Martinho, primeiro com uma banda de quase 60 músicos, o Vitorino e o coral de um colégio que é nosso patrocinador", assinala José Oliveira Pereira.
"Repetimos a iniciativa no ano passado, com a vinda do Camané em parceria com o Vitorino, uma orquestra de cordas e de novo o coral. Conseguimos mais duas noites com o Garrett [ndr: Cine-Teatro] cheio e, assim, mais pessoas se aproximaram do clube", continua o líder dos poveiros, garantindo: "Já estamos a preparar a edição deste ano, pretendo ter um concerto de grande dimensão".
Uma seleção "feliz" na Póvoa
Será na Póvoa de Varzim, em meados de junho, frente à Sérvia, que a Seleção Nacional vai decidir a presença na fase final do campeonato do mundo do próximo ano. Depois de, em janeiro, já ali ter ganho a pré-qualificação. "O treinador disse algo que nos tocou imenso: "na Póvoa fomos felizes e na Póvoa queremos voltar a ser felizes". Foi uma frase que, de facto, nos marcou", disse o líder do Póvoa Andebol Clube, que será uma das entidades responsáveis pela organização da segunda mão do play-off. A primeira, recorde-se, será jogada na Sérvia, alguns dias antes.
"Era lindo jogar na I Divisão"
"O segredo tem sido o normal nestas situações, ou seja, trabalhar muito. As pessoas da Póvoa gostam de trabalhar e gostam também desta modalidade", responde Bruno Rodrigues, um dos capitães de equipa. "A Póvoa de Varzim já tinha alguma história no andebol e quando vieram falar comigo e me disseram que a palavra de ordem era trabalho, pensei logo que isso era sinónimo de sucesso", continua o irmão de Álvaro Rodrigues - que está a jogar no BM Nava, de Espanha - para justificar o facto de ter confiado desde sempre no êxito da caminhada do Póvoa Andebol Clube: "Acreditei desde logo porque o objetivo era esse, ir subindo, cada etapa a seu tempo, mas chegar à I Divisão foi sempre uma das premissas." Assumindo que seria "lindo jogar na I Divisão pelo Póvoa", Rodrigues lembra que "há equipas que já trabalham há mais tempo para esse objetivo".
Representar a cidade é motivo de orgulho
A eventual chegada à I Divisão, não sendo uma obsessão, seria motivo de regozijo. "A cidade aposta fortemente no desporto, apoia todas as coletividades e neste momento o nosso clube começa a ter visibilidade porque tem resultados. Se tivermos mais e melhores, mais visibilidade teremos e assim dignificaremos a cidade", refere o presidente, José Oliveira Pereira. "Se subirmos, a Póvoa passará a ter uma equipa na I Divisão, o que para nós seria um motivo de enorme orgulho. Seríamos um embaixador da modalidade e do desporto da cidade", continuou. Seja como for, o líder do emblema já se sente realizado. "Sonhei com muitos projetos, mas há um que vejo concretizado: fui jogador de andebol, tenho uma vida estável, quer profissional quer familiar, e o meu compromisso é retribuir o que recebi deste desporto; dar para que outros também o tenham. A minha alegria é ver cada vez mais jovens a treinar, a desfrutar desta modalidade e sentir que as pessoas são felizes aqui. E eu sinto-me feliz por fazer algo pela comunidade", assegura
Miguel Solha: "Encontrei um grupo de trabalho preparado para chegar ao sucesso"
Miguel Solha, 39 anos, é o técnico do Póvoa. Começou no CA Leça, passou pelo Santa Joana (feminino), pelo Gondomar Cultural - clube que subiu à II Divisão - e está a cumprir a segunda época no emblema da cidade balnear, que guiou também ao segundo escalão, lutando por nova subida. "Encontrei um grupo de trabalho preparado para chegar ao sucesso. Toda a gente me apoiou e deram-me liberdade para tomar as rédeas da equipa sénior e propor objetivos, que, para mim, passavam pela chegada à I Divisão em cinco anos", conta Solha. A verdade é que essa meta pode ser alcançada em apenas dois...
Presente: experiência que vale ouro
Joel Rodrigues e Jorge Sousa somam algumas temporadas a atuar nos mesmos plantéis. Foi assim em Águas Santas, em que coincidiram quatro épocas, e está a ser assim no Póvoa pelo segundo ano consecutivo, situação que deverá manter-se na próxima época. São dois dos elementos mais experientes e produtivos da equipa.
Futuro: dá gosto ver
São muitos, cerca de 180, e treinam com grande entusiasmo. Os escalões de formação do Póvoa estão cada vez preenchidos e não lhes falta apoio. Como a foto documenta, há mascote e claque para os jogos dos mais pequenos.