"Renovação natural e planificada. Há oito meses disse ao Kiko que ia ao Mundial"
Paulo Jorge Pereira, selecionador nacional, falou a O JOGO sobre o Mundial de janeiro, o futuro, as dificuldades de deixar atletas de fora e o recrutamento
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Dois dias depois de lançar a convocatória, Paulo Jorge Pereira falou a O JOGO sobre muitos temas.
Qual é a meta da Seleção Nacional para o Mundial?
-A meta é melhorar a classificação máxima num Mundial, que também foi nossa, o 10.º lugar em 2021. Já é uma meta ambiciosa. Concretizado, assumiremos outra. Ainda que não esteja claro até que posição, este Mundial também apura para os pré- olímpicos. Mas essas contas não vale a pena fazer, porque se não chegarmos ao main round é perda tempo.
Disse que melhorar o 10.º lugar é uma meta ambiciosa. Porquê?
-Todos sabemos que a Islândia, em termos ofensivos, posiciona-se entre as melhores equipas do mundo, basta ver os jogos do Magdeburgo e até do [Aron] Pálmarsson no Aalborg. Os islandeses alcançaram níveis ofensivos fenomenais. Com a Hungria batemo-nos, mas qualquer um pode ganhar. A Coreia do Sul baseia o jogo no 1x1 e isso é sempre complicado para nós.
Ao serviço de Portugal, esta será a quinta presença numa grande prova. Já se tornou rotina?
-Começa a tornar-se rotina, mas não nos podemos esquecer da forma como chegámos a este Mundial: eliminámos os Países Baixos, que vão com wildcard. Depende sempre de muita coisa, mas, nos sorteios, estamos agora em melhor posição. No Europeu deste ano, por exemplo, em que tivemos os dez casos de covid e as coisas não correram como queríamos, o sorteio ficou logo condicionado: tivemos de eliminar a Suíça e depois os Países Baixos. Ou seja, tem sido hábito, mas para isso temos de fazer as coisas bem.
Mesmo já sendo um hábito, estes ainda são sempre momentos especiais?
-Para quem anda no desporto, ouvir o hino e lutar por algo importante é das melhores coisas que pode acontecer. Costuma dizer-se: "Vive como se fosse a última vez". Eu prefiro viver como se fosse a primeira, como foi no Europeu de 2020, que, para muita gente, foi mesmo a primeira vez. O que precisamos é desse mesmo estado emocional.
Nota-se que existe uma renovação na Seleção...
-Sim, uma renovação natural e planificada. Há oito meses disse ao Kiko que ia jogar o Mundial. Uma das coisas que me custou, por exemplo, foi ver o André José lesionar-se, que foi um dos atletas que também já passou pelos estágios. Vamos introduzindo os atletas devagarinho, vão estando nas concentrações e depois vão sendo chamados. O Gabriel [Cavalcanti] teve agora esta oportunidade, pelo facto do André Gomes chegar mais tarde , e isso é fantástico. Foi uma pena não incluir o Daymaro Salina, porque começamos aqui a ter mais atletas para o centro da defesa. O Daymaro deu-nos muito e é um atleta a quem temos de estar eternamente agradecidos.
Fazer uma convocatória implica decisões duras?
-O bom é poder incluir gente nova, mas depois, nalguns casos, custa com o Tiago Rocha, o Humberto Gomes... É custoso porque temos sempre de deixar alguém de fora. De resto, é mais fácil do que em 2016, temos mais opções e gente espetacular.
"Somos uma gotinha no oceano"
"É muito difícil dizer se com estes jovens o futuro da modalidade está garantido", respondeu Paulo Jorge Pereira. "O andebol é um microssistema de um sistema mais alargado que é o desporto nacional. Tendo em conta o nosso modelo para o desporto, temos pouca gente para recrutar. Vamos encontrando, mas sempre no limite. Ou seja, nunca se pode parar de trabalhar na deteção de talento. Teremos cerca de 30 mil licenças, o que, comparado com outros países, faz de nós uma gotinha no oceano", explicou. "No Europeu de sub-20, tínhamos seis atletas sub-18 e, se tivéssemos muita gente, provavelmente não estaria lá nenhum. Temos de agradecer a todos os que trabalham, diariamente, para encontrar atletas e os vincular ao andebol. Tenho esperança que algum dia o desporto seja de facto um dimensão importante da sociedade portuguesa", concluiu.
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