“Ditador e mestre da manipulação”, atirou Ribeiro no tribunal, acusando o empresário de “gastar milhares a patrocinar práticas dopantes”. Quintanilha negou tudo a O JOGO e diz-se inocente
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Nuno Ribeiro falou ontem pela primeira vez no julgamento da Operação Prova Limpa, que decorre no pavilhão anexo ao Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, lançado uma pequena “bomba”. Nas palavras do diretor-desportivo, era Adriano Quintanilha, principal patrocinador da W52-FC Porto, o responsável pelo esquema de doping que gerou 26 arguidos, incluindo ciclistas, e levou à extinção da equipa. O empresário, a O JOGO, negou tudo e chamou-lhe “mentiroso”.
“Não me senti um criminoso e fui fraco por ceder. Devia ter dito não. Estou triste e arrependido. Sei o quanto errei e peço desculpa à sociedade, mas sobretudo aos meus atletas”, declarou Nuno Ribeiro, que pediu a saída dos outros arguidos antes de ler a sua declaração escrita.
“Nunca tive dinheiro para o doping, nem instiguei ao uso. Foi sempre o senhor Adriano que o fez. Gastava milhares de euros a patrocinar as práticas dopantes”, declarou Nuno Ribeiro, que, citado pela Lusa, chamou ao empresário “ditador e mestre da manipulação”, tendo uma atitude de “quero, posso, mando e pago”. “Ele sabia de tudo, queria ganhar a todo o custo e dizia: ‘pago para ganhar e ganho’. Atirava isso à cara dos ciclistas, o ambiente era infernal”, contou o antigo técnico, explicando que a compra das substâncias dopantes era “mascarada” com “ajudas de custo fictícias”. A defesa de Ribeiro, na sequência desta afirmação, pediu ao tribunal o levantamento do sigilo bancário de uma conta da Associação Calvário Várzea Clube de Ciclismo, que faria os pagamentos.
Nuno Ribeiro acusou ainda Quintanilha de “pressões e ameaças”, afirmando que o abordou três vezes para “assumir a culpa toda”, pagando-lhe em troca dois mil euros mensais durante dois anos, o que nunca aceitou, embora, alegou, tivesse saído do último encontro “cheio de medo”.
O empresário, contactado por O JOGO, respondeu simplesmente que Nuno Ribeiro é “um grande mentiroso e homem sem escrúpulos”. Recordando que nenhum dos testemunhos em tribunal o tinha até agora acusado, Adriano Quintanilha diz que pretende ser ouvido de novo e que está “de consciência tranquila”. “Nunca dei um cêntimo para dopagem”, completou.
O julgamento do caso W52-FC Porto, iniciado em fevereiro, ainda vai prosseguir, tendo a justiça desportiva já suspendido dez ciclistas e dois técnicos.