Egan Bernal venceu uma etapa terminada de forma súbita e com geral inalterada, pois os protestos contra Israel invadiram a meta. Embate entre Vingegaard e João Almeida ficou ontem adiado, após as palavras desafiadoras dos israelitas terem aumentado os protestos para uma dimensão preocupante. E ainda falta o “crono”...
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“Pela segunda vez tivemos de tirar os tempos antes da meta. Felizmente, tivemos vencedor. Quero dizer que vamos continuar com a Vuelta e que queremos chegar a Madrid”, disse Javier Guillén, diretor da Volta a Espanha, lembrando que “cortar as etapas ou bloquear a passagem dos corredores é ilegal e está previsto no Código Penal”. “Entendemos que queiram utilizar a Vuelta para passar a mensagem pró-Palestina. O que se passa lá é terrível, todos queremos paz em Gaza, mas a Vuelta não serve para esse debate”, afirmou, lembrando que “ontem houve um Israel-Itália em futebol, porque nenhuma federação internacional proibiu a presença das suas equipas”.
Na Vuelta, a Israel-Premier Tech foi convidada a abandonar e recusou fazê-lo. “Haverá quem não concorde, mas temos de nos submeter ao regulamento”, terminou Guillén.
Vuelta irá a Madrid, falta saber como
Uma árvore abatida por forma a barrar a estrada ainda foi retirada, mas uma invasão de centenas de pessoas na zona de meta, em conflito com a polícia de choque, impediu a chegada da 16.ª etapa da Volta a Espanha a Mos, na Galiza, e criaram dúvidas sobre o futuro da corrida, que tem mais cinco etapas até Madrid. Egan Bernal, que seguia em fuga com Mikel Landa, venceu a tirada num sprint improvisado à entrada da subida final e ao local chegou já de mãos nos travões um mini pelotão de 11 ciclistas, liderado por Jonas Vingegaard e João Almeida, que viram a sua batalha pela “roja” novamente adiada.
Os protestos em defesa da Palestina e pedindo a expulsão da Israel-Premier Tech impediram pela segunda vez um final de etapa no local previsto, geraram ontem o abandono de Javier Romo (Movistar), ferido pela queda de há três dias ao desviar-se de um manifestante, e ganharam uma dimensão superior à vista em Bilbau, provavelmente em resposta às palavras agressivas de Sylvan Adams, proprietário da equipa que recusou o pedido para abandonar feito pela organização. “Tivemos dias duros no País Basco, mas a região é conhecida por ser um bastião de ativistas de extrema-esquerda que gostam de protestar. Nunca foram nossos amigos. Lembro que eles tinham a ETA, uma aliada da OLP”, disse o bilionário canadiano, respaldado por Benjamin Netanyahu, que elogiou a “coragem” da equipa.
A resposta dos galegos foi forte (embora havendo apenas um detido) e gerou preocupações acrescidas para o final em montanha de hoje e sobretudo para o contrarrelógio de amanhã, em Valladolid, dias chave para se perceber se a corrida irá até Madrid. Entre os ciclistas, Jonas Vingegaard voltou a mostrar-se compreensivo: “É uma pena ter acontecido de novo. Todos têm direito a protestar, mas é pena não nos deixarem acabar a corrida”. Na UAE Emirates, Joxean Matxin, manager de João Almeida, lamentou ficar anulado “o ataque na subida final”. “Disseram-nos que a corrida acabava oito quilómetros antes, mas não sabíamos bem onde. Foi uma confusão”, revelou.
Restou o triunfo de Egan Bernal, batendo um surpreendido Mikel Landa e quase seis minutos à frente dos favoritos. “Foi um grande dia. Queria muito vencer com a camisola de campeão da Colômbia”, disse o corredor da Ineos, que regressou aos triunfos numa Grande Volta após as conquistas de Tour – em 2019, e vestindo a amarela numa etapa interrompida pelo mau tempo… – e Giro de 2021.