O diretor de corrida Joaquim Gomes é adepto de uma subida de escalão, mas diz que para ter grandes equipas só com mudança radical de data
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“A Volta a Portugal esteve num escalão superior até 2009, na altura designado como HC. Como a União Ciclista Internacional começou a licenciar muitas provas para o mês de agosto, e em países de onde as equipas eram oriundas, passámos a ter bastantes dificuldades em ter cá equipas World Tour e cumprir com o regulamentado, além de essa categoria nos impedir de convidar equipas continentais estrangeiras, gerando o risco de termos um pelotão de 80 corredores. A solução foi baixar de categoria”, explicou Joaquim Gomes, diretor da Volta a Portugal, sobre a presença da maior corrida nacional no terceiro escalão mundial (2.1). A maioria dos diretores desportivos das equipas lusas é a favor de nova subida – para a atual 2.Pro, a categoria da Volta ao Algarve –, mas Gomes lembra que isso deve ser analisado com cautela.
Volta a Portugal teve de descer de escalão, após 2009, devido à concorrência de provas nas mesmas datas, que “roubaram” as equipas de topo. Essa premissa mantém-se, alerta Gomes.
A atual Volta, com nove equipas portuguesas e sete estrangeiras do mesmo terceiro escalão (Continental), tem gerado preocupações entre os técnicos, que temem estar o ciclismo a perder popularidade, mas o diretor da corrida acha que Portugal continuará a “não conseguir chamar o mínimo de equipas World Tour e ProContinentais”. “Subir também é do nosso interesse, mas é necessária uma discussão de fundo, até porque a Volta pertence à Federação Portuguesa de Ciclismo e só essa pode analisar a possibilidade de alterar as datas”, disse Gomes, apontando a uma solução radical: “Para ter as maiores equipas teríamos de deixar cair algumas das premissas que fizeram da Volta o que ela é, em agosto, com os portugueses de férias. Queremos correr o risco de a passar para março ou abril? E recordo que a Volta ao Algarve, se fosse em julho ou agosto, não teria as mesmas equipas”.
20 mil euros é o custo de uma equipa estrangeira de escalão inferior na Volta a Portugal. Uma World Tour cobraria 40 ou 50 mil
Existe outra solução, mas que obriga a “uma folga financeira que não temos”, referiu. As atuais equipas estrangeiras “custam bem mais de mil euros por dia” a uma organização que paga tudo, num total que “vai de 17 a 20 mil euros”. Com equipas World Tour as contas seriam diferentes. “Que orçamento têm essas? Talvez de dez a 15 milhões, e as mais baratas. Se somarmos o de todas as equipas portuguesas, mais os três milhões da Volta a Portugal, mais o valor das restantes provas nacionais, eventualmente não chegamos a tanto”, contabiliza, para explicar que teria de pagar uns “40 e 50 mil euros para os fazer pensar” e nem isso garantia a presença na Volta, pois “eles sabem que é uma corrida com muita montanha, de quebra-pernas, como dizem, e com temperaturas diárias acima de 30 graus”.