Português viu o menos cotado Brad Binder entrar direto na KTM, mas terá ficado na Tech3 a pedido desta. Ao puxar dos galões pode garantir melhor tratamento
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"Quando se está numa equipa de fábrica, tem-se a garantia de receber primeiro as peças, está-se envolvido no seu desenvolvimento, testa-se mais. Já tenho um ano de experiência, faria mais sentido que esse lugar fosse meu e não para um rookie. A KTM pensa de forma diferente e é nesse ponto que discordamos", afirmou ontem Miguel Oliveira em Philip Island, onde esta madrugada iniciava os treinos livres para o Grande Prémio da Austrália. O construtor austríaco tinha acabado de anunciar os seus pilotos para 2020, com o sul-africano Brad Binder, de 24 anos e atual quinto em Moto2, a juntar-se ao espanhol Pol Espargaró na equipa principal, enquanto Iker Lecuona, espanhol de 19 anos que apenas foi a um pódio em Moto2, se juntava ao português na Tech3. Oliveira protestou, e com razão.
Mike Leitner, manager da KTM, apressou-se a dizer que a primeira opção tinha sido Oliveira, mas este recusara. "Num mau momento, quando o Johann [Zarco] quis romper o contrato, o primeiro passo foi claro: perguntar ao Miguel se queria o lugar. A sua resposta também foi clara, queria continuar na mesma equipa, com o seu engenheiro, que estava feliz", contou o austríaco, com o francês Hervé Poncharal, dono da Tech3, a reforçar a ideia: "Disseram-me que o Miguel queria continuar aqui, desde que tivesse o mesmo tratamento".
A resposta de Oliveira foi, no entanto, novo embaraço para os responsáveis. "A KTM falou comigo em Misano [em setembro], mas não foi bem uma pergunta, não era uma opção. Informaram-me que havia um lugar vago e que pensavam no Mika Kallio. Respondi que por mim tudo bem, tinha uma boa relação na Tech3 e não fazia sentido mudar. Agora ter um rookie no lugar do Mika, e alguém da minha idade, faz-me pensar se me querem na equipa de fábrica", disse, lembrando ainda que "era suposto ter uma moto igual à de fábrica e isso só aconteceu recentemente".
Dizendo ainda que as conversas foram "para perder tempo", o português afirma que "o futuro não se pode prever". E a sua ideia mais importante ficava transmitida: Miguel Oliveira, já com um oitavo lugar e sendo uma das revelações do ano, quer tratamento de piloto de fábrica, promessa que neste ano demorou a ser cumprida. Sendo agora o segundo piloto mais importante da KTM, a sua continuação na Tech3 só se percebe como sendo uma exigência da equipa francesa, que não quer ficar com dois "rookies" e pior material. Irá a pretensão de Oliveira, que de positivo sabe que conservará o famoso engenheiro Guy Coulon consigo, ser cumprida? "Vamos esperar para ver", responde o próprio.
Equipas que demoram a ser iguais
Quando, em março de 2018, a Tech3 assinou um acordo de três anos com a KTM, deixando a ligação à Yamaha, a promessa era de tratamento igual. No início desta época, é um facto, as quatro motos eram idênticas, mas ao longo do ano todos os desenvolvimentos foram primeiro para Pol Espargaró e Johann Zarco e só mais tarde para Miguel Oliveira. Com a saída do piloto francês e a evolução do português, essa preferência deixou de fazer sentido.
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