Pogacar voltou a sorrir mas o campeão do Tour 2023 será Vingegaard
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Tadej Pogacar prometeu e cumpriu, conquistando este sábado a penúltima etapa da Volta a França, uma pequena "vingança" imposta ao virtual bicampeão Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma) que devolveu o sorriso ao ciclista esloveno da UAE Emirates.
"Hoje, finalmente, sinto-me novamente eu", desabafou o segundo da geral, visivelmente contente por despedir-se da mais amarga das edições do Tour com uma vitória de etapa, a segunda nesta edição, e a 11.ª da curta mas impressionante carreira.
Depois do naufrágio no Col de la Loze, "Pogi" tinha prometido tentar vencer uma tirada, para agradecer à equipa todo o trabalho que fez por si, e também para se reencontrar e, hoje, atacou, primeiro, no Col du Platzerwasel e, depois, sprintou nos derradeiros metros da montanhosa 20.ª etapa, não só para ganhar, mas também para desforrar-se do dinamarquês da Jumbo-Visma, apenas terceiro, atrás também do austríaco Felix Gall (AG2R Citroën), mas com as mesmas 03:27.18 horas do vencedor.
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Além da revalidação do título de Vingegaard, a espetacular jornada de ciclismo confirmou ainda que Adam Yates (UAE Emirates) estará, pela primeira vez, no pódio final em Paris, assim como Giulio Ciccone (Lidl-Trek), o merecido rei da montanha desta edição, consagrou definitivamente Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) como favorito dos adeptos locais e derrubou Carlos Rodríguez (INEOS), Sepp Kuss (Jumbo-Visma) e David Gaudu (Groupama-FDJ), com o segundo a sofrer particularmente a crueldade de um desporto que pode ser tão injusto como bonito.
A curta mas intensa ligação de 133,5 quilómetros entre Belfort e Le Markstein, no coração dos Vosges, tinha tanto de especial por definir as contas da geral, como por ser a última etapa de montanha na Volta a França do carismático Thibaut Pinot, talvez o ciclista mais querido dos franceses, e logo nas estradas onde o terceiro classificado do Tour2014, que encostará a bicicleta no final da época, habitualmente treina.
Assim que a bandeira vermelha foi agitada para dar a partida real, Victor Campenaerts, eleito mais combativo das duas jornadas anteriores, e Jasper De Buyst (Lotto Dstny) atacaram, sendo imediatamente perseguidos pelo português Nelson Oliveira (Movistar), que acabaria por ser "absorvido" metros mais adiante pelo pelotão comandado pela Lidl-Trek de Giulio Ciccone.
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A formação norte-americana queria levar a corrida controlada até ao Ballon d"Alsace, uma segunda categoria situada logo ao quilómetro 24, para que o italiano pudesse pontuar e distanciar-se dos seus perseguidores na luta pela camisola das bolinhas vermelhas, e elevou o ritmo para alcançar Campenaerts, que já seguia isolado, numa missão em que foi auxiliada pela UAE Emirates, apostada em conquistar o triunfo na etapa de hoje.
Ciccone foi o primeiro a passar no alto, com a descida que se seguiu a ser "responsável" pelo primeiro momento decisivo na luta pelo pódio, mas também pelo top 10: o quarto classificado Rodríguez caiu e arrastou consigo Kuss, nono, com a queda a custar a ambos, pelas visíveis e sangrentas mazelas com que ficaram, os seus lugares na geral - o norte-americano da Jumbo-Visma, o melhor "escudeiro" de Vingegaard, foi mesmo o mais prejudicado, descendo a 12.º
A queda do jovem espanhol de 22 anos provocou também um corte no pelotão, com o camisola amarela a ficar momentaneamente no grupo de fugitivos, antes de voltar ao "seu" lugar, a pedido dos mesmos.
Na frente continuaram Ciccone, que foi o primeiro nas três contagens seguintes e garantiu virtualmente a vitória na classificação da montanha - festejou-a efusivamente, ou não fosse o primeiro italiano a conquistá-la desde Claudio Chiappucci, em 1992 -, e o seu companheiro Matias Skjelmose, Thomas Pidcock (INEOS), Warren Barguil (Arkéa-Samsic), Maxim van Gils (Lotto Dstny) e Krists Neilands (Israel-Premier Tech), o primeiro a descolar.
A eles se juntaram, Pinot e Valentin Madouas (Groupama-FDJ), Rigoberto Urán (EF Education-EasyPost), Kevin Vermaerke (DSM) e Chris Harper (Jayco AlUla), mas os 10 nunca conseguiram uma vantagem muito superior a um minuto.
No Petit Ballon, diante de uma multidão que gritava o seu nome, o ciclista local desembaraçou-se dos seus companheiros de fuga e passou isolado - com Pidcock e Barguil no encalço - nas pendentes onde estavam milhares dos seus adeptos e até o seu famoso clube de fãs, num dos momentos mais bonitos da 110.ª Grande Boucle.
Enquanto Pinot era celebrado lá à frente, o seu líder David Gaudu caía numa curva a descer, acabando, contudo, por não só segurar o top 10 como por ascender a nono, graças ao infortúnio de Kuss.
Mas o sonho do "querido" dos franceses acabaria quando Pogacar acelerou e levou consigo o camisola amarela e Felix Gall (AG2R Citroën): o trio rapidamente passou todos os fugitivos e ficou na dianteira da corrida, sendo alcançado, a cinco quilómetros da meta, pelos gémeos Yates, que se uniram para condenar definitivamente Carlos Rodríguez, que desceu a quinto da geral, atrás de Adam e Simon (Jayco AlUla), respetivamente terceiro, a 10.56, e quarto, a 12.23.
A maior velocidade do esloveno de 24 anos permitiu-lhe derrotar hoje Vingegaard, mas é o dinamarquês que vai levar para casa, pelo segundo ano consecutivo, a amarela final, conquistada com uma margem de 07.29 minutos para o líder da UAE Emirates.
A jornada, que promoveu o também gaulês Guillaume Martin (Cofidis) a 10.º - é a segunda vez que vai terminar a Volta a França no top 10 -, mostrou o melhor Rui Costa, com o português da Intermarché-Circus-Wanty a ser 22.º, a 05.07 minutos do seu antigo colega de equipa, e a subir a 67.º da geral, a 03:37.37 horas do camisola amarela.
Já Nelson Oliveira (Movistar) foi 47.º, a 12.27, e termina às portas do top 50, mais concretamente no 53.º lugar, a 03:08.26.
Os dois portugueses, e os restantes 148 "resistentes" da prova que arrancou em 01 de julho em Bilbau (Espanha), viverão no domingo a etapa mais especial da 110.ª Volta a França, a da celebração dos vencedores e da chegada a Paris, onde a 21.ª tirada vai acabar, depois de 115,1 quilómetros entre Saint-Quentin-en-Yvelines, com os Campos Elísios como pano de fundo.