Pisa os grandes palcos da MMA e leva a bandeira portuguesa: "O meu foco é o número um do UFC"
Manel Kape, figura proeminente do mundo das artes marciais mistas no panorama internacional, falou a O JOGO sobre o passado, o presente e o futuro
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A 14 de Novembro de 1993, em Luanda, nascia Manuel Pedro Gomes, filho de Manuel Gomes, um antigo campeão mundial de boxe e atleta olímpico de renome em Angola. Aos dois anos de idade mudou-se para Portugal e, seguindo as pisadas do pai, começou cedo a fazer história nas artes marciais. Hoje, prestes a fazer 30 anos, pisa os grandes palcos da MMA e leva a bandeira portuguesa consigo.
Nasceu em Angola e cresceu em Portugal. Porquê?
-Cheguei a Portugal aos dois anos, devido ao meu pai. Ele era atleta profissional de boxe do Boavista e trouxe a família. Inicialmente vivíamos em Vila Nova de Gaia, mas isso não durou cinco meses. O Valentim Loureiro, como era presidente do clube e da Câmara de Gondomar, propôs ao meu pai mudar-se para Rio Tinto.
Fez-se um verdadeiro riotintense, ou agora Portugal é só para visitar a família?
-Sempre me senti um riotintense. Foi aqui que cresci. A Quinta das Freiras foi onde comecei a treinar, a jogar futebol - joguei no Sport Clube de Rio Tinto e no Boavista - e vinha para o campo praticar as técnicas e fazer jogos aos fins de semana. Este foi o meu primeiro ginásio. Usava todos os equipamentos disponíveis para fazer barras, flexões e corridas.
Como surge a paixão pelos desportos de combate? Foi por influência do pai?
-Sim. Nós sempre fizemos boxe desde crianças. O meu pai queria que continuássemos no futebol, mas a chama pelo desporto de combate falou mais alto. Até tinha bastante talento para o futebol...
Como chegou à UFC?
-O boxe sempre fez parte da minha vida. Era uma coisa natural. Depois comecei a praticar jiu-jitsu, kickboxing e o MMA. Apaixonei-me realmente quando comecei a fazer jiu-jitsu e MMA em Matosinhos. Competi em campeonatos de jiu-jitsu e fui campeão nacional. No MMA comecei como amador, em Vila do Conde, participei em vários torneios e ganhei tudo. Tornei-me no melhor lutador amador em Portugal aos 14 anos. Com 17 profissionalizei-me, o que até era ilegal, pois só a partir dos 18 é que se pode lutar como profissional. Fui campeão em Portugal, Espanha e França. A partir daí, entendi que precisava melhorar outras áreas e implementar outras artes marciais. Juntei-me à organização do Rizin Fighting Federation, no Japão, uma das maiores ligas do mundo, onde o meu nome começou a ser conhecido e aperfeiçoei o karaté. Meti na cabeça que só ia sair do Japão quando fosse campeão mundial e, em 2020, concretizei esse desejo. Passei ainda pela Tailândia, para aperfeiçoar o muay thai. Em 2021 dei o salto para o Ultimate Fighting Championship (UFC), a maior organização de MMA do mundo.
Porque lhe chamam “StarBoy”?
-É só olhar para mim. A forma como me visto, falo, e me sinto à vontade perante as câmaras e as pessoas faz de mim um “starboy”.
Já sofreu lesões graves?
-Rompi os ligamentos do tornozelo, tive problemas nos joelhos e nos ombros, mas sou teimoso. Quando o médico diz que terei um ano de recuperação, eu estabeleço meio ano... Mas faço uma reabilitação cuidadosa, sem me exceder e ouvindo sempre o corpo.
Que restrições tem antes de um combate?
-Tenho uma equipa fantástica, que cuida de tudo. Quando falta um mês para o combate começo a restringir a alimentação, porque trabalhamos com um corte de peso que, no meu caso, é brutal. Peso 74 kg no dia a dia e demoro uma a duas semanas até chegar aos 57 kg, que é o peso em que luto. É intenso, mas faço-o bem estruturado.
É sétimo no ranking da UFC. É pouco?
-O meu foco é o número um. Sempre fui o número um, por isso ser o número sete é muito pouco. Aliás, devia lutar já este ano pelo cinturão, não fossem os sucessivos combates cancelados que tive - cinco -, devido aos meus oponentes. Mas 2024 vai ser um bom ano e tenho a certeza que vou ser campeão novamente.