Ciclista fez a estreia nos Jogos Olímpicos sendo o primeiro português a ganhar ouro e prata numa edição. Só poderia ser ele a Personalidade do Ano
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Iúri Gabriel Dantas Leitão, nascido a 3 de julho de 1998 e natural de Santa Marta de Portuzelo, em Viana do Castelo, é o vencedor do Prémio Carlos Machado em 2024, sucedendo a Rúben Amorim (2021), Sérgio Conceição (2022) e Fernando Gomes (2023), como Personalidade do Ano de O JOGO.
Foi uma escolha unânime, atendendo ao feito único na história do desporto português: medalhado de prata em omnium, e de ouro em madison, nos Jogos de Paris’24, foi o primeiro a subir duas vezes ao pódio numa mesma edição dos Jogos Olímpicos. Brilhando no ciclismo de pista, foi também o primeiro campeão fora do atletismo, tendo, como estreante, igualado o ouro e prata de Carlos Lopes (1976 e 1984) e Pedro Pichardo (2020 e 2024) - Rosa Mota e Fernanda Ribeiro ganharam ouro e bronze.
Mas Leitão, que no melhor ano da carreira foi ainda campeão europeu de scratch na pista e venceu três etapas na estrada, não se destacou só pelas medalhas. No omnium, uma competição de quatro corridas, adiou o ataque na última, quando percebeu que o maior rival, o francês Benjamim Thomas, tinha caído, esperando o regresso deste. O gesto, que o impediu de chegar ao ouro, justificou o prémio de Ética Desportiva do Comité Olímpico de Portugal. No madison, e fazendo par com Rui Oliveira, Portugal era décimo quando faltavam 46 das 200 voltas à pista e lançou um ataque que obrigava a ganhar todas voltas até ao fim, ultrapassar o pelotão para chegar ao pódio e vencer a última para ter o ouro. Com a média recorde de 60,18 km/h e um sprint final a 73 km/h, festejaram o título mais incrível do olimpismo nacional!
O lugar cativo do “chefe”
O novato que dava lições
Conheci o Carlos Machado no primeiro ano de existência de O JOGO. Era, como eu, um rapaz em busca de um futuro como jornalista, mas percebi depressa ser mais do que isso. E também entendi porque me ganhara, a mim e a muitos que viriam a fazer grandes carreiras na profissão, num concurso para admissão de jornalistas. Já a puxar para o forte e com a barba a ganhar forma, o Machado era tratado com reverência pelos restantes colaboradores e chamado a dar opiniões a alguns dos profissionais da casa. Uma raridade em qualquer ofício, pois aprendizes não dão conselhos a mestres. A ele ouviam-no porque lhe reconheciam a qualidade da escrita simples, mas encantadora. E porque sabia. A enciclopédia desportiva em que se transformaria já tinha então muitos capítulos. Com naturalidade, o Machado transformou-se no histórico Chefe de Redação de O JOGO. Ir mais acima nunca foi seu desejo ou vocação. O seu habitat natural era o centro da redação, sempre pronto a ouvir e aconselhar. Nunca lhe faltava uma palavra sábia, fossem as dúvidas jornalísticas ou de índole pessoal. Quem tinha problemas sabia que nele encontrava soluções, e na forma tranquila que o caracterizava. Nunca o ouvi levantar a voz, nem disso precisava. Bastava-lhe responder “tu é que sabes” com um olhar reprovador e todos sabíamos que o caminho não era aquele. O JOGO, primeiro diário desportivo português, revolucionário na evolução tecnológica e pioneiro nas edições online, nunca seria o que é hoje sem o Carlos Machado. Ponto.