Peléh, estrela no Fundão: "Perdi amigos para o crime, uns morreram e muitos estão presos"
Uma confiança inabalável foi o segredo de Peléh para ajudar, com dois golos, a formação da Beira Baixa a derrotar o Sporting, na última jornada, e a assumir a liderança da Liga Placard
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"É hoje, é hoje!". Foi este o incentivo de Peléh antes do jogo do Fundão frente ao Sporting na última jornada da Liga Placard, que terminou com a vitória da formação da Beira Baixa por 4-2. O ala brasileiro, de 22 anos, está em Portugal desde a época 2017/18 e foi um dos responsáveis pelo triunfo do Fundão ao apontar dois golos.
"O Sporting é a melhor equipa da Europa, mas nós também temos muito valor. Trabalhamos muito e também somos bons"
A O JOGO, o ala não escondeu a felicidade pelo momento vivido. "Estava mesmo confiante naquele jogo e até disse aos meus colegas: "é difícil, mas não é impossível, lá dentro é cinco para cinco. Vamos conseguir". E assim foi! O Sporting é a melhor equipa da Europa e tem muita qualidade no plantel, mas nós também temos muito valor. Trabalhamos muito e também somos bons. Confesso que foi um dos dias mais felizes da minha vida. No final do jogo liguei para a minha mãe e ela ficou muito feliz também", contou Peléh, sustentando que esta vitória tem ainda mais valor se for alimentada com outros resultados positivos.
"O Sporting já passou, foram três pontos importantes, agora é pensar no próximo jogo e continuar a trabalhar muito para atingirmos os nossos objetivos", partilhou.
Peléh cresceu numa favela de São Paulo, onde viu morrer amigos e outros a enveredar pelo crime. Ali, é "difícil ser bem sucedido"
Líder isolado da Liga Placard, com 12 pontos conquistados nas quatro jornadas disputadas, o Fundão teve um arranque perfeito, conseguido por mérito "do trabalho" da equipa. "Esta época vamos estar muito mais fortes do que na passada, não só pela confiança que nos passam, mas também pelo plantel que temos e pela união existente", expôs, apontando que está nos planos da equipa "estar presente em todas as decisões".
Apaixonado pelo futsal desde tenra idade - jogava no Corinthians quando rumou a Portugal -, o Fundão foi a primeira experiência internacional do jogador brasileiro que teceu elogios à forma como foi recebido pelo clube. "Acolheram-me todos muito bem. É muito difícil estar tão longe da minha família. Costumo dizer que cheguei aqui uma criança e hoje sou um homem", contou, partilhando ainda as maiores dificuldades que sente por estar tão longe do Brasil. "Quando chega ao Natal ou aos aniversários dos meus pais e dos irmãos... dói muito. Toca mesmo na alma. Todos os dias ligo para a minha mãe, se não consigo, o dia já não é o mesmo. Mas estou a fazer aquilo que mais gosto e só posso estar grato", concluiu o ala do líder do campeonato.
No Fundão desde 2017/18, o ala brasileiro, de 22 anos, teceu elogios à forma como o clube o recebeu: "Cheguei aqui uma criança e hoje sou um homem". O mais difícil são as "saudades da família"
Da favela aos palcos da Europa
Criado numa favela de São Paulo, Peléh contou como é fácil para os jovens seguirem pela marginalidade face à falta de perspetivas para o futuro e às poucas oportunidades que têm . No caso do ala, isso não aconteceu e, nos dias de hoje, até sente que é um exemplo para os mais novos. "A vida é feita de escolhas. Normalmente, falo muito para alguns miúdos brasileiros e digo-lhes, muitas vezes, que tive muitas oportunidades para ir para o lado errado, mas sempre fiz as escolhas certas e também contei com a ajuda da minha família. Gosto de lhes dizer para não desistirem dos sonhos, porque com trabalho e humildade tudo acontece", relatou. "Vi muita coisa, perdi muitos amigos para o crime, uns morreram e muitos estão presos, é realmente complicado ser bem sucedido", revelou sobre algumas das pessoas que cresceram com ele.