Pedro Portela explica o dia a dia em França: "Temos de preencher um papel para sair de casa"
Jogador do Tremblay contou a O JOGO como vive estes dias de Covid-19 a cerca de 30 km de Paris, onde sábado houve uma manifestação com duas mil pessoas
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"Eu não posso sair daqui. Só por um motivo muito forte é que o clube nos deixa sair. Fomos aconselhados a ficar cá e, além disso, também não sei se posso apanhar o vírus e correria o risco de por a minha família em perigo. Por isso vou ficar aqui até que isto passe", disse Pedro Portela, jogador do Tremblay, de França, a O JOGO.
"As provas estão todas paradas, nem treinos há. Tenho treinado sozinho, saio para treinar, indo a casa do Felipe Borges [jogador brasileiro, ex-Sporting], que tem lá espaço e levou aparelhos do clube, ou indo correr, ainda hoje fui correr", contou o ponta-direita internacional A, explicando, todavia, que há regras para sair num dos países da Europa onde o Covid-19 tem causado mais vítimas (10 995 casos, 1861 desta quinta-feira e 372 mortes, 108 de hoje): "Temos de preencher um papel para o caso da polícia nos questionar na rua. Tenho sempre de o apresentar, ou levar no telemóvel, que também há essa possibilidade, porque caso não apresente posso ser multado. Eu nunca fui, mas acho que as coimas vão até aos 135 euros".
Portela, de 30 anos, falou também sobre outras regras que os franceses estão obrigados a cumprir. "Todas as pessoas, desde que levem o tal papel, podem sair para correr, embora não possam distanciar-se mais do que dois quilómetros do domicilio. De resto, só se pode sair para comprar bens essenciais, ou seja, ir ao supermercado, à farmácia, também por questões de saúde, por motivos, mas excecionais, de ordem familiar, isto para além dos profissionais de saúde, sejam médicos, sejam enfermeiros", relatou.
"No sábado houve uma manifestação em Paris que juntou cerca de duas mil pessoas e no domingo havia mercados ao ar livre onde muitas pessoas se aglomeram também"
Sendo então um dos países europeus mais afetados, Portela admitiu a O JOGO ter receio. "Encaro isto com muita precaução e com receio também, mas uma das razões pelas quais me sinto mais preocupado tem a ver com as pessoas, que não seguiam os conselhos que eram dados e as medidas impostas", justificou, dando dois exemplos: "No sábado houve uma manifestação em Paris que juntou cerca de duas mil pessoas e no domingo havia mercados ao ar livre onde muitas pessoas se aglomeram também", disse o leiriense que vive a 30 km da capital francesa.
Voltando à competição, que está suspensa, o extremo-direito, que estará perto de voltar ao Sporting na próxima época, admitiu ter muitas dúvidas: "Aquilo que estamos a fazer por si só não serve para quando voltarmos a competir. Não sei quando voltaremos a jogar, mas isto serve basicamente para manter a forma, mas não é o suficiente para jogar, falta-nos a bola. Vai ser muito difícil no regresso aos jogos. Sei que estão a haver reuniões para saber se continua ou não, em que moldes poderá a Liga continuar, sabendo-se apenas que antes de 22 de abril não haverá nada".
Pedro Portela disse ainda estar "a acompanhar o que se passa em Portugal" e que "perante a excelente época que a Seleção Nacional está a fazer será uma grande tristeza se não puder haver Jogos Olímpicos".
A finalizar, o jogador do Tremblay, da starligue francesa, fez questão de deixar um apelo através de O JOGO: "Que todas as pessoas fiquem em casa, é esta a mensagem que tem sido passada e que eu quero realçar. Há que cumprir as medidas, sair o menos possível e aconselhar as pessoas dos grupos de risco a não saírem mesmo. Se precisarem de algum bem essencial, que peçam ajuda a familiares para fazerem as compras por eles".