
Paulo Jorge Pereira, selecionador português de andebol
AFP
Paulo Jorge Pereira, selecionador nacional de andebol falou aos jornalistas e garantiu que ambição será algo que jamais lhe faltará
Na entrevista possível, porque a internet no Egito começou a dar problemas e a falhar, Paulo Jorge Pereira, como é hábito no selecionador, falou abertamente de todas as situações.
Como considera que foi a presença de Portugal no Mundial do Egito?
-A presença de Portugal foi ótima, condicionada ao nível da planificação, tendo nós perdemos com a Noruega, por um, e com a França por nove golos. Só fico triste porque estivemos um pouco mal e à França tudo bem, De resto, estou orgulhoso desta seleção.
No ano passado, após o Europeu, a palavra que deixou aos jogadores foi "obrigado". Desta vez mantém essa palavra?
-Manteho esse obrigado, mantenho. Mas vamos tendo essas experiências... Reparem, iniciamos o estágio mais tarde e começámos a competição mais cedo. Andávamos nós a jogar a qualificação para o Europeu [2022] com a Islândia e a Noruega andava a treinar para o Mundial. A Espanha também entrou meio titubeante, mas já se acertou. E eu sei porquê, porque sei como eles trabalham.
O que é que foi diferente no Europeu?
No Europeu o estágio começou dia 26 de dezembro e começamos a jogar dia 14, é uma diferença grande. Além disso, desta vez nunca tivemos os pivôs todos, depois o Cavalcanti também se aleijou no jogo de Matosinhos contra a Islândia, o próprio André Gomes, mas só perdemos com duas enormes seleções, a Noruega e a França.
Portugal, com uma pesada derrota contra a França, não conseguiu o objetivo de passar aos quartos-de-final. Mesmo assim, o técnico diz-se orgulhoso dos jogadores e augura um grande futuro à Seleção
Ou seja, acaba por estar contente com o desempenho dos atletas?
-A França estava mais focada no Mundial e nós jogamos sempre no limite. Mas sim, estou muito contente com todo o meu staff, nós estivemos sempre no limite, tínhamos de ganhar sempre menos esse segundo jogo com a Islândia [apuramento para o Europeu de 2022]. No primeiro jogo com o Mundial houve pelo menos três conteúdos que usamos e nunca tínhamos usado, três jogadas táticas se assim lhe quiserem chamar. Quando jogamos jogos de altíssimo nível consecutivamente, e aqui foi a cada dois dias, não aguentamos. Mas estou orgulhoso e passamos uma mensagem de esperança.
Tinha a meta de chegar aos "quartos". Portanto, presume-se que não esperava nada perder por novo golos...
-Não, não estava.
Acha que a diferença de experiência entre as duas seleções teve peso. Portugal esteve pela quarta vez num Mundial e a França vai na 22.ª participação...
-Claro que nota, estamos a falar de atletas que jogam nas melhores ligas dos mundo e todos jogam na Liga dos Campeões, para além de estarem sempre nos mundiais e nos Europeus. No ano passado tivemos aquele Europeu, mas também começámos a treinar mais cedo. Falta-nos esse percurso no alto nível, mas há que o consolidar.
Mas é essa a única diferença entre a França e Portugal, a experiência?
-Não é só a experiência, claro que não. Sabem quantas licenças [inscrições] tem a França? A França deve ter 30 vezes mais praticantes do que nós. Além disso, gasta milhões de euros em centros de formação, mas é isto que estamos a a tentar fazer. Temos um grupo de atletas que nos permite encarar o presente com otimismo e almejar objetivos ambiciosos.
"Sem falsos moralismos, queríamos a vitória de ontem [anteontem] para a dedicar a quem está a passar mal em Portugal. Falámos nisso mesmo antes do jogo"
Não acha que foi ambicioso demais?
-Não. Repare, nós podíamos não pensar assim, podíamos dizer que só queríamos melhor o 12.º lugar do Mundial de 2003, mas acho que com o grupo de atletas que temos devemos ter objetivos ambiciosos e, se não os tivéssemos seria uma cobardia e eu prefiro que me chamem irrealista do que cobarde.
É preciso ser-se corajoso para começar por falar em medalhas e até mesmo no top-8 a uma seleção que não ia a um Mundial há 18 anos...
-Sabe, nós somos ricos em muita coisa, os ricos não são só os que têm petróleo. O que eu quero perguntar é se nós fazemos as coisas direitas em muitos domínios? E não estou a falar apenas do andebol nem do desporto em geral. Temos de ser arrojados e procurar sempre os limites, nunca podemos estar confortáveis, é preciso ter coragem. Prefiro ter a expectativas altas do que viver escondido em objetivos naturais. De resto, sinto que as pessoas ficaram extremamente orgulhosas de serem portugueses e tem um excelente sabor fazê-las acreditar que as coisas são possíveis de se concretizar.
