"Parecemos loucos atrás da loucura dele. A medalha, é óbvio que a queremos"
CONVERSAS COM CAMPEÕES - Rui Silva e Victor Iturriza estiveram ontem na Torre do Lidador, na Maia, a recordar o mítico quarto lugar da Seleção de andebol no Mundial’2025
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Rui Silva e Victor Iturriza, jogadores do FC Porto e da Seleção Nacional de andebol, foram os convidados de ontem de mais uma das conversas que assinalam o 40.º aniversário do jornal O JOGO. Impulsionados pelas conquistas nos últimos tempos, desde a presença inédita nos Jogos Olímpicos, em 2021, no Japão, à histórica passagem às meias-finais do Mundial’2025 depois de terem derrotado a detentora da prata olímpica, Alemanha, os dois andebolistas salientaram o “sonho”, concretizado com “muito trabalho” e com os incentivos do selecionador Paulo Jorge Pereira, que continua a reclamar uma medalha.
“O professor é um apaixonado pela modalidade. É de uma loucura muito grande, e nós parecemos loucos atrás da loucura dele. A medalha, é óbvio que a queremos, mas há seleções que estão há 20 anos a trabalhar e têm outros apoios do próprio país e outra cultura mais virada para o andebol. Oxalá possamos ganhar com o professor, mas o caminho faz-se devagar”, salientou o capitão Rui Silva, ressalvando, contudo, que a equipa das Quinas tem feito um percurso notável desde 2020, visto que só falhou um apuramento para competições internacionais, no caso, os Jogos Olímpicos de 2024.
O quarto lugar no recente Campeonato do Mundo, feito histórico e motivo de orgulho, já que Portugal não se apurava para esta competição há 18 anos, mereceu destaque óbvio na primeira página de O JOGO. E, na verdade, a medalha de bronze foi parar às mãos francesas por muito pouco. Para Victor Iturriza, que regressava após um ano a recuperar de uma lesão num joelho, foi um percurso notável, tanto pessoal como coletivo. “Fui ao Mundial com muito orgulho, porque não tinha sido um ano fácil. Ser chamado para a Seleção foi uma motivação extra. O empenho que fiz para jogar, o trabalho e as muitas horas de ginásio sozinho, sem folgas, valeram a pena”, recordou. Valeram tanto a pena que o jogador concretizou 36 dos 42 remates que fez na competição frente aos melhores guarda-redes do mundo. No final, foi distinguido como “melhor pivô do mundo” e a camisola usada passou a estar exposta no Museu do FC Porto.
“Não são todos os jogadores que podem ter camisola no museu. Dá vontade de continuar a trabalhar, mas esse título foi um extra. Tenho é muito orgulho de fazer parte da história do andebol português”, garantiu Victor Iturriza, que nasceu em Cuba e joga por Portugal desde 2020.
A Seleção Nacional de andebol continua a fazer história com a presença no Euro’2026 já garantida, depois de ter vencido a Polónia, por 33-27. “Encaramos as qualificações e os jogos sabendo que, teoricamente, podemos ser superiores. Mas há sempre alguém a querer passar-nos a perna, por isso, temos que continuar a trabalhar”, apontou o capitão.
Exposição mantém-se até dia 28
A exposição “40 anos, 40 histórias”, com primeiras páginas históricas do jornal O JOGO, continua a poder ser vista no átrio da Torre do Lidador, na Maia, até ao próximo dia 28, com entrada livre. O ciclo de “Conversas com Campeões”, que assinalam o quadragésimo aniversário do jornal, encerrará nesse mesmo dia, com a presença de um campeão da Europa de futebol em 2016. As conversas com os campeões que se associaram a este aniversário estão disponíveis no YouTube de O JOGO.
A “cabeça” que põe tudo na linha
Como bom capitão de equipa, Rui Silva é, a par do selecionador, um dos responsáveis pelos discursos motivacionais no balneário. Victor Iturriza diz mesmo que o colega é “a cabeça” da equipa das Quinas e uma ajuda imprescindível na hora de marcar. “Ele diz-nos quando temos ou não de jogar. É a pessoa que me oferece a bola para fazer golo. Sem ele, seria muito mais difícil jogar no FC Porto ou na Seleção”, afirmou. Central e pivô têm também uma relação de amizade fora dos pavilhões e conhecem-se tão bem que Rui Silva soube logo que o colega poderia ser o melhor do Mundo. “Agora peço-lhe que continue a jogar ao mais alto nível durante alguns anos”, acrescentou. Com 150 internacionalizações, Rui Silva, de 31 anos, é o terceiro andebolista mais internacional de sempre, tendo já ultrapassado Rui Rocha.
Vitórias e homenagens a Quintana
Os andebolistas recordaram Alfredo Quintana e as homenagens que continuam a prestar-lhe, quatro anos após a morte inesperada. Em 2021, no jogo frente à França, Rui Silva marcou o golo que garantiu o apuramento para os Jogos Olímpicos de Tóquio e, com a mão apontada ao céu, dedicou-o ao colega. “Acreditámos que era a melhor forma de o manter vivo”, revelou. Victor Iturriza sonhava ser dono de um restaurante com Quintana, e cumpriu. Fica em Ermesinde e chama-se Q’Bolá. “É uma forma bonita de o celebrar e estou muito orgulhoso de o ter feito”.
Percurso de conquistas
Com 150 internacionalizações pela Seleção Nacional de andebol, Rui Silva - estreou-se numa equipa nacional com apenas 13 anos, na altura nos juniores -, já ultrapassou grandes nomes, como Rui Rocha, que marcou presença na Maia. A conversa na Torre do Lidador, conduzida por Rui Guimarães, jornalista de O JOGO, relembrou também a importância do capitão na primeira qualificação de Portugal para os Jogos Olímpicos (Tóquio’2021) e a presença de Victor Iturriza no “sete” ideal do Mundial’2025.