De Lavra a Varsóvia, com uma aventura de Erasmus, um amor e o futsal pelo meio, Duarte Araújo acaba de ser promovido à Ekstraklasa. Tem 31 anos, nunca foi profissional e chegou à elite da Polónia.
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Quando, em março, a covid-19 fez com que a Polónia se fechasse em casa, para conter a propagação da epidemia, o campeonato do segundo escalão polaco de futsal estava a seis jornadas do fim e a AZS UW Wilanów de Duarte Araújo, 31 anos, seguia embalada para a subida, "empatada em pontos com o primeiro, mas com uma partida a menos e melhor coeficiente", contou o pivô que, dois meses de confinamento e incerteza depois, fez a festa:
"Estávamos todos no pavilhão, para iniciar o treino. O treinador reuniu-nos num círculo e leu o comunicado da federação. Começámos a saltar, quase a chorar de alegria". "Obviamente, queríamos ter cumprido o objetivo em campo, até ao fim, mas temos de respeitar", sublinhou, certo de que o final feliz estava ao alcance da equipa universitária onde joga há três épocas. "De acordo com os regulamentos, devíamos ter ficado em primeiro, porque tínhamos um coeficiente melhor do que o primeiro da série", explicou; ao segundo estava reservado um playoff de subida e a federação optou pela promoção automática. Para Duarte Araújo, foi "um sonho tornado realidade". Por chegar à elite, mas não só: "Depois de me terem contado que há 14 anos não havia uma equipa da capital da Polónia na Ekstraklasa, criei esse objetivo e sinto-me realizado".
Pivô português do AZS UW Wilanów foi promovido ao escalão maior da Polónia, meta pessoal e não só: Varsóvia estava fora desse mapa há 14 anos
A nova época reserva-lhe uma realidade bem diferente. "Os jogos são transmitidos em sinal fechado", contou, para ilustrar a dimensão do salto. Mesmo no segundo escalão, há clubes que até "pagam bem", mas nesta mistura de "experiência e jovens universitários" que dá corpo à AZS UW Wilanów não há profissionais. "Recebemos um prémio, em dezembro, porque conseguimos um feito inédito, ganhámos dez jogos consecutivos e um dos patrocinadores decidiu oferecer um bónus à equipa".
Em termos profissionais, a vida de Duarte Araújo joga-se fora do pavilhão e também aí o analista de dados se sente "realizado" em Varsóvia, para onde, primeiro, se mudou para fazer Erasmus, a estudar Direito, e depois por amor: no fim do programa académico, regressou a Portugal com uma namorada; era a vez de ela fazer Erasmus, e foi quando voltaram à Polónia que procurou uma equipa para "manter o ritmo". Descobrira o futsal na escola da Boa Nova, em Leça da Palmeira, recorda com carinho, grato ao "professor de Educação Física Rui Faria". Saltou do desporto escolar para o Freixieiro, referência da modalidade, mas entre a bola e a universidade foi pela segunda via. Jogou num clube amador, o Água Viva, até se mudar para a Polónia. "Olho para trás e vejo o percurso com orgulho. O esforço compensa".