O'Connor triunfou no Tour: "É a maior corrida do mundo, mas também a mais cruel"
Ben O’Connor foi o único verdadeiro vencedor no "teto" do Tour
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A Visma-Lease a Bike e Red Bull-BORA-hansgrohe tentaram, mas o único vencedor no Col de la Loze foi o ciclista australiano Ben O’Connor, numa 18.ª etapa que prometeu muito e quase nada alterou na Volta a França.
Era talvez a tirada mais aguardada deste Tour, mas os 171,5 quilómetros entre Vif e o teto desta edição, a 2.304 metros de altitude, acabou em desilusão, com os precoces ataques da Visma-Lease a Bike a perderem-se antes da última ascensão e o esperado duelo entre Tadej Pogacar (UAE Emirates) e Jonas Vingegaard a dar lugar a uma exibição do vice-campeão da Vuelta'2024.
Aos 29 anos, Ben O’Connor festejou o segundo triunfo na prova francesa, depois de integrar a fuga do dia e isolar-se a mais de 16 quilómetros do alto, que coroou isolado com o tempo de 05:03.47 horas.
“É a maior corrida do mundo, mas é também a mais cruel. Há tantos anos que perseguia uma nova vitória [a primeira foi em 2021], lutava mas acabava em terceiro, quarto. Não podia estar mais orgulhoso de mim mesmo”, declarou, assumindo que só se preocupou em conhecer as diferenças de tempo para o grupo do camisola amarela, que cortou a meta na segunda posição, a 01.45 minutos.
Esta quinta-feira, não se ouviu ‘I’m gone, I’m dead’, a frase que Pogacar pronunciou rumo ao topo do Col de la Loze no Tour'2023 e que o perseguia desde então, assistindo-se sim a uma demonstração de força e calculismo do esloveno da UAE Emirates, que doseou o esforço e acelerou apenas no derradeiro quilómetro da longa subida para roubar mais uns segundos a Vingegaard, terceiro a 01.54.
Apesar da tática agressiva da Visma-Lease a Bike, que chegou a conseguir isolar o camisola amarela no Col de la Madeleine mas esbarrou na incapacidade do seu líder dinamarquês para fazer a diferença, o campeão mundial de fundo está cada vez mais próximo do quarto triunfo na geral da Grande Boucle, liderando com 04.26 minutos de vantagem sobre o vencedor de 2022 e 2023.
Também a Red Bull-BORA-hansgrohe arriscou e quase perdeu tudo, já que Florian Lipowitz manteve por pouco o terceiro lugar; o líder da juventude está a 11.01 de ‘Pogi’, mas tem o britânico Oscar Onley (Picnic PostNL) a apenas 22 segundos do seu terceiro lugar.
Com três ‘gigantes’ para enfrentar na jornada, para a qual já não partiu o espanhol Carlos Rodríguez (INEOS) – o 10.º classificado da geral abandonou por ter fraturado a pélvis numa queda no dia anterior -, o pelotão manteve-se tranquilo até à passagem no sprint intermédio.
Tim Wellens (UAE Emirates) foi dos primeiros a fugir, mas foi quando Primoz Roglic (Red Bull-BORA-hansgrohe) atacou nos primeiros quilómetros da subida ao Col du Glandon, na companhia de Matteo Jorgenson (Visma-Lease a Bike) e do sétimo classificado Felix Gall (Decathlon AG2R La Mondiale), que a corrida ‘começou’.
A UAE Emirates ainda reagiu à ‘ousadia’ do quatro vezes vencedor da Vuelta, mas ‘levantou o pé’, facto aproveitado por O’Connor ou Thymen Arensman (INEOS), entre outros, para chegarem ao grupo do experiente esloveno, que ganhou mais de três minutos de vantagem.
Na descida após o Glandon, ‘escolhida’ por Enric Mas (Movistar) para desistir – foi mais um Tour falhado para o espanhol, que soma três abandonos nas últimas quatro participações -, isolaram-se Jorgenson e Arensman, com os dois a serem os primeiros ciclistas a enfrentar a Madeleine, onde a Visma-Lease a Bike endureceu a corrida, preparando o ataque de Vingegaard a mais de 70 quilómetros da meta.
Apenas o camisola amarela conseguiu seguir o dinamarquês, com os dois a ‘engatarem’ rapidamente nos fugitivos, deixando para trás Lipowitz, que conseguiu reentrar na descida antes dos 26,4 quilómetros de ascensão ao Col de la Loze, tal como os restantes elementos do top 10 da geral, à exceção de Ben Healy (EF Education-EasyPost), e os companheiros de Pogacar.
O’Connor, Jorgenson e Einer Rubio (Movistar) atacaram a mais de 40 quilómetros da meta e entraram com um minuto de vantagem na última subida, sendo perseguidos pelo alemão da Red Bull-BORA-hansgrohe, que encontrou um novo fôlego e deixou o grupo do camisola amarela a dois minutos.
Quando a UAE Emirates entrou ao serviço, já O’Connor seguia há muito isolado na frente e pouco demorou até Lipowitz ser alcançado, com o alemão a perder posteriormente o contacto com os outros favoritos e a ceder quase dois minutos para Onley na meta.
Em La Loze, Vingegaard ainda tentou, mas as forças já eram ‘justas’ e a audaz tática da Visma-Lease a Bike traduziu-se num imenso nada: os dois últimos vencedores do Tour, com o britânico da Picnic PostNL na roda, seguiram juntos até ao quilómetro final, onde o campeão em título acelerou para ampliar em 11 segundos a sua vantagem.
Roglic foi apenas sétimo e não saiu do quinto lugar da geral, na qual Nelson Oliveira (Movistar) é 66.º, depois de hoje ter chegado à meta na 48.ª posição, a 35.47 minutos do vencedor.
Na sexta-feira, os 129,9 quilómetros entre Albertville e La Plange deverão ser palco de novos ataques ao camisola amarela, com esta nova jornada alpina a incluir cinco contagens de montanha, duas delas de categoria especial, a última das quais a coincidir com a meta.