Joana Resende começou por jogar futebol com os vizinhos e "ia à baliza", mas foi pelo voleibol, modalidade que a mãe já jogara, que se apaixonou. Tem 30 anos, é nutricionista e jogadora profissional
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Joana Resende, grande figura da AJM/FC Porto e recente dragão de ouro, conversou em exclusivo com O JOGO.
A Joana é profissional de voleibol ou faz mais alguma coisa?
-Eu considero-me profissional, porque tenho de estar sempre disponível para os compromissos do clube. Nas folgas, ou no pouco tempo livre que tenho, sou nutricionista. Eu costumo dizer que sou profissional de voleibol e nutricionista em part-time. Sou licenciada em Ciências da Nutrição.
Então não exerce verdadeiramente a profissão?
-Exerço, porque dou consultas e colaboro com o CDUP. Basicamente, tenho uma agenda aberta e ainda crio conteúdos para as redes sociais. A verdade é que a carreira de voleibolista em Portugal não garante uma grande estabilidade.
É esse o ponto essencial: sendo o voleibol em Portugal mais jogado por mulheres do que por homens (cerca de 70% para 30%), elas são bem pagas?
-A responsabilidade é apenas essa, a da proporção. De resto, o país não atravessa um momento fácil. Há uns anos, o nível do campeonato e a relação das empresas com os clubes era menor, porque há muitos anos, eu ainda nem era sénior, o Boavista investia muito forte, o Castêlo da Maia também. Eram grandes investimentos.
E neste momento?
-Creio que de há dois ou três anos para cá os clubes estão a tentar investir de novo, se bem que a pandemia só veio prejudicar. No entanto, os clubes querem tentar proporcionar melhores condições de trabalho e financeiras às jogadoras. Neste período, houve um aumento exponencial de jogadoras a viver do voleibol e um incremento muito grande de estrangeiras.
Consegue viver-se do voleibol?
- Se me perguntar se eu acho que as atletas mais jovens devem abdicar dos estudos para serem profissionais, parece-me uma decisão muito difícil. Dá para viver, mas, entre aspas, não dá para criar um pé de meia. Por isso acho que vamos ter sempre de trabalhar para além de sermos praticantes de voleibol.
O facto de FC Porto, Benfica e Sporting terem entrado na I Divisão não puxou um bocadinho?
- Puxou. Desde logo são os três grandes, o que por si só traz mais visibilidade. Depois, são três clubes com canais televisivos e isso permite às pessoas ver um pouco mais de voleibol. Além disso, tudo o que tem os três grandes gera uma rivalidade enorme e quando estes três clubes estão envolvidos ninguém joga para perder. Isso faz com que as outras equipas tentem acompanhar, embora saibamos que não na mesma proporção.
Sente isso ao jogar no FC Porto?
- Sinto muito. Há um contacto com os adeptos super próximo. Nós recebemos bastantes mensagens nas redes sociais, recebemos um carinho muito grande e as pessoas veem, seja em casa, seja no pavilhão, estão sempre muito atentas a tudo. Isso trouxe uma visibilidade muito grande à modalidade.
>> "Vestir a camisola do FC Porto é ser modelo"
"Há coisas que nem nos nossos melhores sonhos imaginamos que podem acontecer e eu tenho tido essa sorte. A primeira vez que vesti a camisola do FC Porto foi muito emocionante. Mas mesmo muito", disse Joana Resende a O JOGO, justificando: "É uma camisola pesada, tem um simbolismo enorme e não se pode achar que isto são só flores, vestir a camisola do FC Porto é uma responsabilidade muito grande, é ser modelo na sociedade e não apenas no voleibol". Joana considera ainda que "o momento mais emocionante foi a conquista do primeiro título, a Supertaça".