
João Almeida
EPA
Vencedores das três Grandes Voltas têm todos 26 anos ou menos e há uma dezena de jovens prontos a dominar. Com Almeida na lista.
No domingo despediram-se Vincenzo Nibali e Alejandro Valverde, Chris Froome "arrasta-se" desde que um grave acidente lhe estragou a carreira mais brilhante deste século em Grandes Voltas, mas o ciclismo não anda nostálgico com o desaparecimento das antigas figuras.
Equipas World Tour começaram a evoluir os talentos em equipas sub-23 e o resultado está à vista: nunca houve tantos campeões jovens e duelos Pogacar, Vingegaard, Bernal e Evenepoel prometem.
O lote de talentos entre os 19 e os 25 ou 26 anos não pára de crescer e eles ganham cada vez mais novos e de forma entusiasmante. Ter uma Volta a França discutida entre Tadej Pogacar, Jonas Vingegaard, Remco Evenepoel e Egan Bernal, todos ainda em início de carreira e já com corridas de três semanas no palmarés, faz salivar qualquer adepto. E para os portugueses há ainda João Almeida, o melhor de sempre nas maiores corridas desde Joaquim Agostinho e José Azevedo.
"Quem me dera vê-lo no pódio de uma grande", diz-nos Azevedo, entusiasmado por ter um jovem português entre as novas estrelas. "O João Almeida tem estado sempre nos dez primeiros das Grandes Voltas e já ganhou corridas de uma semana. O seu próximo passo terá de ser lutar pelo pódio, isto sabendo-se que nas Grandes Voltas poderemos considerar que há quatro escalões: entrar nos dez primeiros; lutar entre quarto e quinto até oitavo ou nono; sendo quinto, procurar chegar a terceiro; e depois há primeiro e segundo, os que lutam para ganhar e normalmente marcam uma diferença. O João tem de ter a ambição de ganhar uma Grande Volta. Se o conseguirá, só o futuro o dirá. Mas na sua idade os objetivos devem ser elevados", conta o atual técnico da Efapel.
"Em todos os desportos têm surgido talentos muito novos, mas no ciclismo há uma mudança essencial: o planeamento do treino desde os escalões jovens"
Numa época em que as três Grandes Voltas tiveram vencedores em estreia, todos jovens - Jay Hindley (26 anos) no Giro, Jonas Vingegaard (25) no Tour e Remco Evenepoel (22) na Vuelta -, a corrida espanhola aplaudiu o pódio de menor idade desde 1937 e lançou outros três nomes para o estrelato: Juan Ayuso, de 19 anos, Carlos Rodríguez, de 21, e o neerlandês Thymen Arensman, de 22. O Tour teve cinco ciclistas com 26 anos ou menos no top 10, na Vuelta foram sete!
"Em todos os desportos têm surgido talentos muito novos, como se viu domingo no ténis. Mas no ciclismo há um aspeto essencial, a evolução no planeamento do treino", explica José Azevedo, único português que foi manager e diretor-desportivo no World Tour. "Antigamente, e aconteceu comigo até aos 20 anos, só existia planeamento quando os ciclistas passavam a profissionais. Em júnior, era eu que decidia o meu treino e estava "verde" quando subi de escalão. Agora, quase todas as equipas World Tour possuem formações de sub-23, contratando ciclistas ainda juniores e dando-lhes uma planificação que lhes garante uma evolução mais rápida", diz.
A revolução na preparação dos jovens passou também por uma equipa norte-americana, a Hagens Berman Axeon, "que tem uma estrutura profissional no escalão sub-23 e reúne muitos dos melhores jovens mundiais", lembra Azevedo sobre a formação que lançou Ruben Guerreiro, os irmãos Ivo e Rui Oliveira e também João Almeida. Agora a equipa do filho de Mercx tem muitos concorrentes e, também por isso, o número de rivais de Almeida na corrida ao estrelato não pára de crescer.
15161143
Fixe este nome: Cian Uijtdebroeks
Aqui em baixo pode anotar oito das maiores novas figuras da atualidade, mas a lista ainda poderia ter Thymen Arensman, ciclista de 22 anos da DSM que ganhou na Sierra Nevada e tentou tirar o quinto lugar da Vuelta a João Almeida. E José Azevedo chama também a atenção para jovens como Olav Kooij (Jumbo-Visma), que leva 12 triunfos este ano, Filippo Baroncini (Trek), campeão mundial de sub-23, ou Ethan Hayter e Luke Plapp, ambos da INEOS, havendo mais um nome para fixar: Cian Uijtdebroeks, belga de 19 anos da Bora-hansgrohe, ganhou a recente Volta a França do Futuro desenvolvendo potencias raramente vistas nas montanhas.
As novas estrelas
Tadej Pogacar
Eslovénia UAE Team Emirates
23 anos (21.09.1998) 44 vitórias
É o líder mundial e maior estrela do ciclismo atual, recebendo seis milhões de euros anuais. Em quatro anos no World Tour, ganhou duas vezes a Volta a França (mais nove etapas), onde foi segundo este ano, e foi terceiro na Vuelta de 2019 (mais três etapas). Ainda com duas clássicas Monumento no palmarés, era considerado imbatível até ao último Tour.
Jonas Vingegaard
Dinamarca Jumbo-Visma
25 anos (10.12.1996) 10 vitórias
Chegou mais tarde ao World Tour, onde vai na quarta época, tendo feito três Grandes Voltas. Surpreendeu há um ano, ao render o azarado Primoz Roglic como líder da Jumbo-Visma e ser segundo no Tour, que conquistou esta época, superando Pogacar tanto a subir como no contrarrelógio. Só ganhava 200 mil euros anuais, não foi revelado o seu aumento ao renovar até 2024.
Remco Evenepoel
Bélgica Quick Step-Alpha Vinyl
22 anos (25.01.2000) 36 vitórias
Já tem uma estátua no alto da Fóia e provou na Vuelta ter pernas para três semanas, depois de se ter revelado indomável em clássicas e provas de uma semana. Pogacar quer vê-lo no Tour, mas talvez não seja para já.
Egan Bernal
Colômbia INEOS Grenadiers
25 anos (13.01.1997) 19 vitórias
Pioneiro da nova fornada de jovens, ganhou o Tour em 2019 (e o Giro em 2021), mas uma perna mais curta que outra gerou-lhe dores nas costas e no início desta época sofreu um grave acidente. Falta saber se será o mesmo.
João Almeida
Portugal UAE Team Emirates
24 anos (05.08.1998) 9 vitórias
Três top 10 em dois Giro e uma Vuelta e recorde de dias de camisola rosa para um jovem fazem dele o melhor português desde Agostinho e Azevedo. Lutar pelo pódio das Grandes Voltas será a meta seguinte.
Juan Ayuso
Espanha UAE Team Emirates
19 anos (16.09.2002) 1 vitória
Segundo mais novo da história no pódio de uma Grande Volta, é a grande promessa espanhola, embora não revele no "crono" a qualidade que exibe a subir. Terá de cimentar o estatuto numa equipa com Pogacar e Almeida.
15161013
Carlos Rodríguez
Espanha INEOS Grenadiers
21 anos (02.02.2001) 2 vitórias
Campeão nacional de Espanha e com cinco top 10 em sete corridas por etapas esta época, perdeu o quinto lugar na Vuelta devido a queda. É a mais recente descoberta da INEOS e provou ser dos melhores tanto a subir como nos contrarrelógios.
Thomas Pidcock
Grã-Bretanha INEOS Grenadiers
23 anos (30.07.1999) 2 vitórias
Campeão olímpico, mundial e europeu de BTT e campeão mundial de ciclocrosse, vai no segundo ano de World Tour e já ganhou a etapa de Alpe d"Huez na Volta a França. Gosta de atacar - quatro longas fugas este ano - e será a maior esperança britânica.

