Há um ano, a Volta arrancou com temperaturas de 40 graus; ontem, sexta-feira, partiu-se sob ameaça de chuva. Os ciclistas não têm dúvidas, o clima "está maluco" e a culpa é... de todos nós
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Zelar pelo planeta deverá ser, defende Henrique Casimiro, recente vencedor do Grande Pérmio de Torres Vedras, "uma preocupação de todos".
"Temos de reduzir o consumo de plásticos. A natureza está a devolver o que lhe temos feito. É bom pensarmos nas nossas ações, não tanto pelo nosso futuro, mas pelo dos nossos filhos e netos", diz o alentejano de 33 anos da Efapel, um dos que estranhou o céu carregado e a temperatura abaixo dos 20 graus que encontrou na Marinha Grande, à partida da segunda etapa da Volta.
Pedalando todos os dias do ano, os ciclistas sentem na pele as alterações climáticas. "Se tanto se fala nisso, será essa a explicação. A verdade é que o tempo não é o mesmo e nós vemos o porquê diariamente", comenta Daniel Silva, trofense de 34 anos que corre pela Rádio Popular-Boavista e tem um bom exemplo: "Lembro-me de há uma década encontrar poucos carros quando treinava a meio da manhã ou a meio da tarde e agora as estradas estão sempre cheias. Temos de ter a consciência de que estamos a poluir".
"Nós sentimos as mudanças, são evidentes. Agora temos um clima extremo", desabafa Gustavo Veloso, da W52-FC Porto e novo camisola amarela, para quem o "clima anda maluco".
Casimiro concorda: "Tornou-se incerto e afeta-nos a preparação. Temos sentido invernos mais rigorosos, mas também temos chegado a outubro com mais de 20 graus e a ficar assim até dezembro; ou então temos dias de chuva muito intensa e um verão que não é verão."
Dar o exemplo... de bicicleta
"Se olharmos a países mais a norte da Europa, vemos que eles andam cada vez mais de bicicleta. É uma sensibilização que tem de chegar a mais gente", defende Daniel Silva, enquanto Henrique Casimiro, lembrando que o seu filho de quatro anos "está a crescer habituando-se a fazer a separação do lixo", recorda que "as gerações anteriores faziam sete quilómetros a pé para ir buscar água à fonte". "Agora, há gente a quem custa caminhar um quilómetro...", observa.