Nova paragem das modalidades de pavilhão gera indignação: "Olhamos para o lado..."
Adiamento total dos jogos nas modalidades de pavilhão não agradou a clubes nem federações.
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A decisão de suspender as competições desportivas não profissionais entre sexta e terça-feira, período em que não será permitida a circulação entre concelhos, custou o adiamento de 58 partidas nos principais escalões de andebol, basquetebol, hóquei em patins e voleibol (masculino e feminino).
As federações envolvidas, avisadas na noite de quinta-feira, aceitaram mas não concordaram.
"Cumprimos as regras sanitárias, não podemos aceitar que o desporto seja desconsiderado"
Os organismos sentiram que o desporto foi "novamente desconsiderado", nas palavras de Miguel Laranjeiro, presidente da Federação de Andebol de Portugal; e temem o que possa resultar do Conselho de Ministros Extraordinário de hoje. "Estamos preocupadíssimos com o futuro. O futuro é já amanhã, é mesmo amanhã. Naturalmente, estamos preocupados que o desporto fique outra vez na cauda", disse o presidente da Federação de Basquetebol, Manuel Fernandes, a O JOGO.
Da parte dos clubes, principalmente os que já tinham viagens e estadias marcadas, a decisão gerou muita revolta. Foi o caso, no andebol, de FC Gaia e Póvoa AC, que iam jogar com Sporting da Horta e Madeira SAD, respetivamente; e da equipa de basquetebol do CAB Madeira, que viria ao continente defrontar a Oliveirense. Apenas o desafio entre Lusitânia e Barreirense foi exceção nesta paragem forçada, mas só porque a formação da Margem Sul do Tejo e os árbitros do encontro já estavam em Angra do Heroísmo quando a medida foi conhecida.
Decisão foi conhecida já noite dentro e os gastos com viagens e estadias estavam feitos há muito
Por isso, o timing (anúncio na madrugada de sexta-feira) desagradou, até porque, durante a semana, não havia indicações de que o desporto voltaria a parar. "Foi-nos reforçado que a própria Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto não iria colocar em causa, pelo menos, as competições seniores", contou, em declarações à BTV, Rui Lança, diretor das modalidades de pavilhão do Benfica, considerando a decisão "incoerente". "Olhamos para o lado e percebemos que outras áreas - se calhar até com menos organização do que os jogos das modalidades - estão a ter carta-branca", reforçou.
Dos três grandes, os encarnados foram os únicos a tomar uma posição oficial, mas no FC Porto, cuja equipa de basquetebol registou quatro casos positivos de covid-19, era sabido o desejo era ir a jogo, havendo o mínimo de disponíveis, para não causar mais ajustes de calendário. Afinal, este vai ter mesmo de ser mexido, e por completo!
Três questões a Manuel Fernandes, presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol
1 - Concorda com a suspensão de todas as competições este fim de semana?
-Não concordo. As federações procuraram sensibilizar o Governo, que só manteve o desporto profissional. Até nisto há um contrassenso, porque basquetebol, futsal, voleibol, andebol e hóquei em patins têm centenas de pessoas que são profissionais. E a verdade é que todos os trabalhadores, nas suas profissões, tiveram a oportunidade de ter autorização para circular. Os únicos profissionais impedidos foram os do desporto. A nossa atividade pode não ser completamente profissional, mas também não é amadora e o amadorismo tem uma carga negativa.
"Decisão foi um contrassenso", diz Manuel Fernandes
2 - Este processo não deveria ter sido resolvido mais cedo?
-Ultimamente fizeram-se reuniões sobre esta matéria, porque achávamos todos que era importante a continuidade da atividade. Procurámos a tutela e não foi por falta de disponibilidade do secretário de Estado da Juventude e do Desporto que não foi conseguido. Estas situações causam sempre inconvenientes. Os clubes compram viagens com muita antecedência - esperemos que sejam ressarcidos ou que possam viajar mais tarde sem custos acrescidos. Não podem ser prejudicados, não têm culpa destas medidas.
3 - Terá sido este o primeiro passo para mais uma longa paragem do desporto?
-[pausa] Eu acho que há uma maior sensibilidade para a importância da prática desportiva e que o desporto não é visto como um inimigo do combate à infeção. Pelo menos, é a nossa convicção.