Dirigentes de Soudal e Visma não chegaram a acordo e até a Amazon saiu. Evenepoel fica num impasse; Patrick Lefevere e Zdenek Bakala, investidor milionário da Soudal-Quick Step, mantêm a equipa belga e Richard Plugge fica com a aflição de achar uma alternativa à Jumbo, pois a Amazon retraiu-se.
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O negócio mais estrondoso na história do ciclismo, a fusão das equipas Jumbo-Visma e Soudal-Quick Step, segunda e terceira do ranking mundial, respetivamente, ficou ontem sem efeito, informou o jornal belga "Sporza", embora isso não signifique ter terminado a agitação. Entretanto a equipa neerlandesa já perdeu Primoz Roglic para a Bora-hansgrohe, enquanto Remco Evenepoel, que previa ter o seu contrato com a formação belga anulado, aproveitou para se comprometer com a Ineos.
A ideia de juntar duas das maiores equipas mundiais numa única começou por ser vista como uma bela solução entre quatro homens de negócios. Richard Plugge, diretor da equipa que este ano ganhou as três Grandes Voltas, e Robert van der Wallen, o bilionário que além de investir na maior formação neerlandesa tem capital no futebol do PSV, sabiam que iam perder o patrocínio dos supermercados Jumbo, precisando de uma empresa para juntar à Visma; o belga Patrick Lefevere, que aos 68 anos procura um cargo dourado para se reformar, e o checo Zdenek Bakala, bilionário e proprietário da Soudal-Quick Step, que tem o sonho de "vencer o Tour", viram uma oportunidade para festejar a maior conquista desde o sofá. Desportivamente, juntar Remco Evenepoel a Jonas Vingegaard (mais Sepp Kuss e Wout van Aert) também parecia boa ideia e colmatava-se a saída de Primoz Roglic, zangado por não ter ganho a Volta a Espanha.
Os problemas não tardaram. Evenepoel não gosta da equipa neerlandesa, e o sentimento é recíproco, tendo aproveitado a possibilidade de o seu contrato ficar sem efeito - a fusão anularia a equipa Quick-Step - para se comprometer com a britânica Ineos, um namoro antigo. Do lado da equipa belga, o desagrado de corredores e staff, dada a iminência de mais de metade deles ficarem desempregados, criou tantos anticorpos que Ilan van Wilder até celebrou um triunfo com uma frase marcante: "Não concordo com esta merda, quero continuar a ser Soudal-Quick Step".
Mas o ponto final, para empresários pouco dados a sentimentos, foi outro: a Amazon, associada à Jumbo-Visma na produção de um documentário sobre a equipa, interessou-se pelo negócio e terá oferecido 15 milhões. Tal verba valia um lugar na nomenclatura da equipa, Visma e Soudal não gostaram e as partes deixaram de estar de acordo, ao mesmo tempo que Lefevere recebia outra má notícia: a União Ciclista Internacional impedia-o de vender a sua licença de equipa World Tour por alguns milhões.
Era o fim do negócio, visto com agrado por muitos. "Queremos vencer o Tour com o Remco", disseram na Soudal. "Foi uma boa notícia para todos e também para o ciclismo", reagiu Davide Bramati, diretor-desportivo da equipa belga.