A maior liga de basquetebol do mundo nunca se vira em tal apuro. Entrou em contradição em relação à polémica gerada por Daryl Morey, arrisca-se a perder o maior mercado e é criticada internamente.
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Desta vez não foi um tweet de Donald Trump, mas as confusões que os excessos nas redes sociais do presidente dos Estados Unidos por vezes geram estão a fazer escola: uma simples frase de Daryl Morey, diretor-geral dos Houston Rockets, a apoiar os manifestantes de Hong Kong via Twitter - "Lutem pela liberdade. Apoio a Hong Kong" - gerou uma discussão entre a China e a NBA que já levou ao cancelamento de transmissões televisivas e que não se imagina onde poderá chegar.
Se o problema começou por ser dos Houston Rockets, uma das franquias mais apoiadas pelos chineses, por lá ter jogado Yao Ming, ontem alastrou-se a toda a NBA, depois de o comissário Adam Silver, que estava no Japão a promover um jogo de exibição, ter comentado o caso. "É inevitável que as pessoas por todo o mundo - incluindo América e China - tenham opiniões diferentes sobre vários assuntos. Não é o papel da NBA julgar essas diferenças", escreveu em comunicado, naquilo que os chineses consideraram uma mensagem de apoio a Morey. E seguiu-se um verdadeiro terramoto!
James Harden: "Pedimos desculpa. Nós adoramos a China e gosto de lá jogar"
A Vivo, empresa de telemóveis que era a principal patrocinadora das transmissões da NBA na China, anunciou a suspensão de todas as relações com a liga; a ANTA, empresa de material desportivo, comunicou ter travado todas as negociações de patrocínios ligadas à NBA, o que deverá afetar jogadores como Klay Thompson (Golden State) e Gordon Hayward (Boston); a CCTV, estação televisiva com os direitos dos jogos, cancelou as transmissões das partidas da pré-época, faltando saber como será quando se iniciar a época, no dia 22; e a Tencent, que possui os direitos de transmissão via internet - que valem 144 mil milhões de euros -, para já só irá vetar os jogos dos Rockets.
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A força da reação chinesa, que logo no domingo levara Daryl Morey a apagar o tweet e a pedir desculpa pelo sucedido, também gerou um comunicado da NBA a lamentar os comentários do dirigente, mas a água na fervura funcionou como novo combustível da polémica. Na China, ninguém ficou convencido. "Só lhes sugiro que reparem na reação do povo chinês", disparou Geng Shuang, porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros.
Nos Estados Unidos, os pedidos de desculpas chocaram os que consideram a liga de basquetebol a mais progressiva das organizações desportivas americanas. "Nunca tiveram problemas quando jogadores e funcionários criticaram o nosso governo, mas pedem desculpas por se ter criticado o governo chinês. Isto é uma vergonha", tweetou o congressista Tom Malinowski, um democrata.
A NBA sente-se, pela primeira vez, criticada em todas as frentes e em risco de perder aquele que é o seu maior mercado fora dos Estados Unidos, tendo sido conquistado com esforço ao futebol. Adam Silver, que amanhã estará em Xangai, no jogo de exibição entre os Brooklyn Nets e os LA Lakers, espera encontrar-se "com os oficiais apropriados para tentar colocar isto no devido contexto". Será suficiente? Há quem aposte mais no despedimento de Daryl Morey, pois o dono dos Rockets, Tilman Fertitta, pagou dois mil milhões de euros pela franquia, há dois anos, devido ao seu enorme valor... no mercado chinês!
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