ENTREVISTA (parte 2) - Campeã nacional de basquetebol, a Oliveirense, a exemplo do ano anterior declinará o direito de disputar a Liga dos Campeões da FIBA.
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Na qualidade de campeã nacional, a Oliveirense entraria na fase de qualificação de acesso à Liga dos Campeões da FIBA, terceira prova da hierarquia, atrás de Euroliga e Euro Cup e, caso não se apurasse, cairia para os grupos da FIBA Europe Cup. Mas tal não vai acontecer, avisa o seu treinador, a exemplo do que aconteceu na época passada.
A última competição europeia disputada pela Oliveirense foi a Taça Korac 2001/02.
Norberto Alves tirou o dia de ontem para saborear o título, mas já a pensar na próxima época e na concorrência forte que se aproxima.
Vai jogar na Europa?
- Não temos condições financeiras. Gostava muito, mas percebo que tem de se tomar opções. Ou se faz uma equipa digna para ganhar aqui ou se gasta o dinheiro lá. Adorava ir. Fui campeão africano e gosto muito disto de ganhar aos outros dos outros países.
Então gostava de ser selecionador?
- A Seleção está bem entregue. Há dois anos dei uma entrevista a dizer que gostava de ser selecionador. Fui mal interpretado, acharam que me estava a pôr em bicos de pés. O mundo do basquetebol ficou escandalizado. Não tenho problemas em definir metas e lutar por elas. É isso que todos fazem na vida. Neste momento, não, quero estar na Oliveirense. Um dia, porque não?
Pensem que é formação em V e que vamos atravessar uma grande montanha que é o Benfica
Acredita no tri?
- É importante dizer aos jogadores para entrarem nas memórias das vitórias, porque ajuda a ganhar outra vez, e depois é tirar pressão. A esta final demos o nome de Operação Formação em V. Fizemos um vídeo motivacional com gansos a voar em V. Assim percorrem 70 por cento mais distância do que quando voam sozinhos. Quando o da frente está cansado, vai outro e os de trás incentivam. Eu quis dizer à equipa: pensem que é formação em V e que vamos atravessar uma grande montanha que é o Benfica. Todos temos de dar às asas e puxar pelos outros. A Formação em V correu bem.
O Sporting vai ser um candidato ao título?
- Sem dúvida. Conheço suficientemente bem o professor Luís Magalhães para saber que vai fazer uma grande equipa e lutar pelo título.
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Qual foi o adversário mais complicado?
- A Ovarense. Não receio equipas com jogadores que marcam 30 pontos, mas sim as que defendem bem e com jogadores altruístas, que passam a bola.
E o jogador de que mais gostou?
- Na minha equipa, pela liderança e carácter, é o José Barbosa. É o grande jogador da equipa e da época. Sofremos menos pontos e roubávamos mais bolas. O José Barbosa, sendo o mais pequeno, fazia com que a equipa fosse mais alta.
Duas das estrelas da Oliveirense, Coleman e Williams, transformaram-se também em dois adeptos de hóquei
Vai querer resolver a questão da altura?
- É importante ter jogadores altos, mas escolher jogadores altos que não querem nada, não quero. Quero gladiadores que gostem de ir para a batalha juntos.
Coleman e Williams também fizeram furor nas bancadas no apoio ao hóquei. Achou-lhes piada?
- São duas personagens. O Coleman é um vencedor e gosta muito da equipa e da cidade. O Travante é um caso de vida: fomos buscá-lo à II divisão do Alasca. Tinha um contexto familiar terrível. O treinador da universidade disse-me que se o contratássemos, ele ia lutar por nós até à última pinga de suor. É um lutador. Gosto de gladiadores e sobreviventes.
Porque joga Williams com o número 0?
- Talvez o desejo de o adversário não marcar.
200 km diários ajudam a pensar
Norberto Alves tem 51 anos e uma vida levada a ensinar - "Mais do que ser treinador, sou professor", gosta de dizer -, mas esta época conseguiu requisição para ser apenas treinador: "Estava a ser um tormento dar aulas durante o dia e vir treinar à noite. Este ano treinámos a horas normais", explicou. A viver em Coimbra, o técnico faz 200 km por dia e é nas viagens de carro que aproveita "para pensar". "Tenho rotinas: saio de Coimbra, paro na Mealhada, tomo café e é ali que revejo o último treino, depois retomo a viagem e parece mais curta."
Viciado em vídeos e sem paixão pela NBA
Depois de tantos meses de trabalho, Norberto Alves, "viciado em vídeos", como se intitula o treinador que passa muito tempo a observar jogadores, vai "uns dias de férias". "Quero voltar a jogar o meu golfe, voltar a andar com a minha mulher de bicicleta e visitar mais os meus pais", confidenciou o treinador, que tem a conhecida particularidade de não gostar da NBA. "Têm regras diferentes, como defesa ilegal, criadas para as grandes vedetas brilharem, transformando o jogo num jogo individual", esclareceu.