Taynan é o maior reforço da equipa de futsal do Sporting para a temporada e afirma a sua vontade de festejar com os leões no local habitual das celebrações. Assume até que o clube é mais forte que o atual campeão nacional.
Corpo do artigo
Taynan tem 26 anos e chega do Kairat, clube derrotado pelo Sporting na final da Liga dos Campeões. Titular em todos os jogos até aqui e sempre com golos pelo meio, o ala salienta a O JOGO que o leão é mais capaz do que o Benfica e, por isso mesmo, quer celebrar com muita carne, como fez na Supertaça já conquistada.
"Nuno Dias é "chato", só fala em eficácia. Se não fosse um dos melhores do mundo, não tinha vencido tantos troféus"
O Leo esteve no Kairat e foi colega do Taynan. Mostrou-lhe o interesse do Sporting?
-Sim, foi o Léo que me enviou uma mensagem pelo WhatsApp dizendo que o Nuno Dias tinha pedido para me perguntar a minha situação, se tinha interesse em vir para Lisboa. Na passagem do Léo pelo Kairat, ele já dizia que o Sporting era muito bom, que queria vir para o Sporting a título definitivo. Foi ele que me "abriu a cabeça" quanto ao Sporting.
Disputou a final com o Sporting já sabendo que ia estar em Lisboa no ano seguinte. Isso não afetou?
-Volta e meia pensas, porque sabes que vais estar ali. Claro que evitas confusões com os teus futuros colegas, mas na quadra estás a defender um título. Foi fácil focar-me. Fiquei feliz com o Sporting campeão europeu. Mereceu... Tinha estado em quatro das cinco últimas finais, foi finalista nas últimas três... merecia ser campeão europeu. É um clube que privilegia o futsal e posso dizer que o acompanhava há muito, desde o tempo do Caio Japa e do Diogo. Queria vir para aqui, até porque Portugal é um Brasil melhorado.
Sentiu mais motivação por vir para o campeão europeu?
-Sim. Sonho com isso e espero que seja aqui que vou conseguir também esse título, daí que tenha assinado por dois anos com mais um de opção.
No Kairat, só faltou ganhar a UEFA. Em Portugal quer vencer tudo? Assim, já sabe que vai ao rodízio festejar...
-[risos] Já lá fomos jantar, porque ganhámos a Supertaça. Quero lá ir mais quatro vezes. Era sinal de que vencíamos tudo [Liga, Taça da Liga, de Portugal e Champions].
Falou da Supertaça. Ganharam 6-2 ao Benfica. Não foi um resultado muito volumoso?
-Se mantivermos a eficácia, continuará a ser fácil para nós. Vamos sempre criar chances e estamos a defender muito bem. Temos é de marcar, como conseguimos fazer nesse jogo. A nossa equipa é muito mais qualificada do que a deles, mas clássico é clássico. Já joguei muitos...
Não o surpreendeu a rivalidade?
-Já a vivi quando estava no Palmeiras e depois me mudei para o Corinthians. No Brasil, estes dois também são rivais e o meu clube de coração até é o São Paulo, um inimigo dos outros dois [risos]. Aqui, não posso entrar com nada vermelho no pavilhão. Acontecia no Brasil e sinceramente estou habituado. Todos falam do clima hostil da Luz, mas estou ansioso, quero ver como será amanhã [falando do duelo com o Benfica para o campeonato].
Raramente um jogador tem chegado ao Sporting de Nuno Dias e começado a titular. Ainda para mais, tem marcado em todos os jogos... Como se explica?
-Sinto que me adaptei rapidamente, que já estava preparado. Tenho muito em comum com o Nuno também: somos competitivos e queremos a perfeição. Ele é "chato", só fala em eficácia e revejo-me nele. Penso que gostou de mim por isso e que o percebeu ao enfrentar-me. Só posso dizer que se não fosse um dos melhores treinadores do mundo, não estaria no Sporting nem ganharia tantos troféus. Há uma grande união entre o plantel e o Nuno.
Taynan arrancou como poucos o ano: marcou quatro golos em três presenças e ganhou um estatuto que é difícil para quem chega a uma equipa tão trabalhada como é o Sporting
"COM DIEGUINHO ESTARÍAMOS PERTO DE SER INVENCÍVEIS"
Taynan defende que o Sporting tem o melhor plantel em Portugal, mas com a convicção de que mantendo o pivô Dieguinho (saiu para o Joinville), para acompanhar Cardinal e Rocha na posição, o leão serria indomável: "Com ele, estaríamos perto de ser imbatíveis. É dos melhores pivôs do mundo." O ala até aconselha reforços: "Traria o Edson e o Douglas, do Kairat, e o Ferrão, claro, do Barcelona." Quanto às suas competências, diz ser forte na bola parada e também não ter meta de golos, nem picardia alguma com o colega de posição Cavinato.
Nos tempos livres, Taynan privilegia ir à praia. Diz que Portugal tem um clima aproximado ao do Brasil mas com melhores condições de vida para si e para a esposa
INSÓLITO GUITTA FOI A MAIOR CAUSA PARA A DESILUSÃO
Taynan conviveu com Higuita no Kairat, mas elogia a exibição do guardião "sem postura" leonino, que ainda recorda ter-lhe negado o golo do empate numa final histórica para o Sporting
Taynan confessa a vontade de ser campeão europeu e diz que a chegada ao Sporting já estava agendada antes de ter disputado a final de 2019. A O JOGO, destrinça a estratégia do Kairat na última época, que ruiu aos pés do leão.
Jogou contra o Sporting duas vezes em 2019: ganhou a primeira, mas perdeu a mais importante.
-Ganhámos ao Sporting na primeira fase e obrigámo-los a apanhar o Benfica na Ronda de Elite. Ficou mais complicado para eles, mas passaram. Achávamos que o Inter Movistar era o mais difícil, mais até do que o Sporting.
Quem era o jogador do Sporting mais difícil de parar?
-No primeiro jogo, a nossa preocupação era o Merlim: ele é "fera". Fiquei com a responsabilidade de o marcar e felizmente correu bem, porque saímos com a vitória. Na final vimos muitos vídeos do Dieguinho: estava numa forma incrível.
Treinou com o Higuita e tentou bater o Guitta na final, na qual ele lhe negou o empate quase a acabar. Quem é o melhor?
-O Guitta e o Higuita são os dois melhores guarda-redes do mundo. Do Higuita, já vi jogos inexplicáveis, mas o que o Guitta fez na UEFA foi incrível. Foi por isso que o Sporting saiu vencedor. Só me lembro que ele estava todo torto e agarrou o remate com a mão esquerda. Ele é estranho, não tem postura a agarrar a bola... [risos] acaba a atrapalhar os jogadores, mas apanha muita bola.
O Sporting vai enfrentar Mostar, Ekonomar e Dobovec na primeira fase. Não vos passa pela cabeça não se apurarem?
-Temos responsabilidade de sermos primeiros no grupo. Queremos estar mais tranquilos na Ronda de Elite quanto aos adversários, porque só um passa depois para as meias-finais.
E o que dá o Taynan a esta equipa?
-Sei como é o futsal europeu e não sei perder. Fico chateado se perco no par ou ímpar. Em casa, jogo cartas com a minha mulher e, se perco, atiro o baralho ao chão."
"Todos falam do clima hostil na Luz, mas estou ansioso. Sei da rivalidade e não posso entrar com nada vermelho no João Rocha"
APOIO LEONINO ATÉ FAZ CHORAR
Jogador de 26 anos relata os momentos antes da Supertaça para valorizar a sensação do futsal
O Arena Kairat alberga 12 mil pessoas, mas a equipa não joga lá habitualmente e conta Taynan que nem cem adeptos compareciam aos jogos. A Supertaça foi o primeiro exemplo de como o público o impressionou.
O que acha do apoio dos adeptos do Sporting?
-É muito bom e só quem joga aqui é que sabe. Emocionei-me na Supertaça antes de entrar - quase chorei. Eram só "malucos" a cantar. Parecemos jogadores de futebol. Recebemos muito carinho e desde que assinei fui muito apoiado. Dá-me motivação e não pressão. Até fico chateado quando vou às entrevistas rápidas. Já fui criança e tinha os meus ídolos. Gosto de estar com os miúdos. Sei que é importante. Fico feliz.
Totalmente diferente de onde jogou?
-Sim. Gosto muito de Portugal. No Brasil, joguei no Paraná, no Corinthians, no Palmeiras, no Criciúma. Fui subindo no valor das equipas, até estar seis meses no Catar, de que não gostei. Depois fui para o Kuwait: foi difícil, era solteiro... não podíamos beber álcool nem fazer um churrasco. Depois para o Irão foi mais fácil, porque já tinha esposa. A seguir o Cazaquistão, todos países diferentes de Portugal.
Joga pelo Cazaquistão. O Brasil nunca foi hipótese?
-Fui convocado para os sub-20 e estava no Palmeiras, mas fui contactado a meio da época pelo Corinthians. O treinador do Palmeiras cortou-me da equipa e deu a indicação por e-mail para a confederação para eu não ir à seleção. Nunca mais tive chances. Ainda bem. Tinha em mente ser o canhoto do Cazaquistão e já joguei o Europeu. Chegar aos quartos de final do próximo Mundial seria bom.
Venceriam Portugal na final desse Euro?
-Seria imprevisível. Podíamos ganhá-lo, mas levámos quatro golos de bola parada de Espanha, algo que nos tinham pedido para controlar.
"Até fico chateado quando me levam para dar entrevistas rápidas. Gosto é de dar autógrafos aos miúdos"
MUITA CARNE E UM NOME DE MÉRITO
Tem um nome incomum e um passado que não nega, recordando a importância da mãe na sua vida. "Um amigo rico da minha mãe tinha visto um filme de uma família mexicana e o filho dessa família, chamado Taynan, tinha sido muito vitorioso na vida. E foi assim. A minha mãe trabalha num talho e, no Kairat, ela ajudava-me muito: mandava fotos da carne, sabendo logo qual era o tipo ideal para fazer churrasco", pormenoriza Taynan, que até conhece bem um rival: "Joguei em Santa Catarina, de onde é o Roncaglio. Foi meu vizinho, mas só tive contacto com ele em Portugal."