O cancelamento do Rali de Portugal foi o primeiro sinal sério do problema que o WRC enfrenta: tendo corridas abertas e público impossível de controlar, qualquer prova é potencial "bomba biológica"
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Um exemplo do futebol, o jogo da Liga dos Campeões entre Atalanta e Valência, disputado a 19 de fevereiro em Milão e considerado como a "bomba biológica" que ajudou a espalhar o vírus no norte de Itália e em Espanha, explica na perfeição os receios que levaram o Automóvel Clube de Portugal a anular a edição deste ano do Rali de Portugal, inicialmente previsto entre 21 e 24 de maio, mas já adiado para datas a anunciar no final de outubro. A prova portuguesa era essencial para o novo projeto de calendário do Mundial de Ralis (WRC) e acabou por tornar evidente a dificuldade de organizar eventos abertos.
"Depois de avaliadas, em conjunto com autarquias e patrocinadores, todas as condições sanitárias e de segurança que o Rali de Portugal exige, as mesmas não são compatíveis com a imprevisibilidade que vivemos, além da incerteza da abertura das fronteiras e do espaço aéreo", comunicou o ACP, que como nota animadora indicou "o regresso em maio de 2021."
"É um mal necessário. Afinal, não o podemos realizar à porta fechada", comentou José Luís Gaspar, presidente Câmara Municipal de Amarante, uma das que iria acolher um rali que "atrai milhares de pessoas, de vários países". Aliás, caso o ACP tivesse insistido em manter a prova, esta teria um figurino dramaticamente afetado. "Teriam de ser anuladas as Zonas Espectáculo, a superespecial de Lousada só poderia ser à porta fechada e duvido que o Porto quisesse manter a Street Stage", estimou Ni Amorim, presidente da Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK).
Embora importante para a economia - o impacto da última edição atingira um recorde de 142 milhões de euros -, aquele que é o evento desportivo internacional mais importante em Portugal seria obrigado a fazer este ano outra redução drástica, a do número de visitas. Mesmo a dificuldade para as equipas estrangeiras se deslocarem - e há um ano alinharam 41 concorrentes de outros países - poderia ser impossível de contornar, caso no próximo outono se mantivessem restrições às viagens relativamente a países mais afetados pela pandemia.