"Não espero que Pichardo e Évora sejam amigos, mas têm de pensar no que dizem"
José Manuel Constantino, presidente do COP, está "preocupado" com "escalada" entre Évora e Pichardo.
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O presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) mostrou-se "preocupado" e surpreendido com "a escalada" da troca de palavras entre Nelson Évora e Pedro Pichardo, apelando ao sentido de responsabilidade dos dois campeões olímpicos.
"Estou preocupado com a escalada que o debate atingiu e espero, naturalmente, que haja da parte de todos alguma contenção relativamente ao que se vai dizendo. Os atletas têm todo o direito de se expressarem e exprimirem os seus pontos de vista relativamente a tudo aquilo que envolve a sua preparação desportiva e os processos desportivos do país. Isso é desejável. Mas os atletas, como o presidente do COP, têm que ter algum sentido de responsabilidade e têm que perceber que não podem dizer tudo aquilo que pensam e têm de pensar muito naquilo que dizem, atendendo à repercussão pública que têm as afirmações que produzem", defendeu, em declarações à agência Lusa.
José Manuel Constantino revelou-se surpreendido não apenas com "a escalada" na troca de palavras entre Évora, campeão olímpico do triplo salto em Pequim'2008, e Pichardo, ouro na mesma disciplina em Tóquio'2020, mas também com "os termos utilizados".
O presidente do COP prosseguiu enaltecendo o facto de estarmos "perante dois grandes atletas". "O Nelson, que teve sucesso desportivo extraordinário, em condições difíceis, e que superou aquilo que eram as suas próprias limitações do ponto de vista físico e deu um exemplo de perseverança e de tenacidade que é, de facto, louvável e que, naturalmente, o país tem que estar reconhecido e tem que registar", começou por notar.
Sobre o atual campeão olímpico do triplo salto, Constantino lembrou que "escolheu Portugal para viver, escolheu Portugal para competir e tem sido um exemplo, do ponto de vista desportivo, de permanente superação". "É alguém que continua a colocar objetivos do ponto de vista desportivo que evidenciam estarmos perante uma pessoa e um atleta que está sempre insatisfeito relativamente àquilo que atinge e àquilo que consegue", completou.
Assim, segundo o presidente do COP, "o país tem que estar grato, quer a um, quer a outro". "E aquilo que eu espero, não é que se tornem amigos, mas é que cada um possa, no espaço da sua intervenção, respeitar aquilo do ponto de vista desportivo que foi alcançado e darem ao país um exemplo do ponto de vista das afirmações que produzem, que não ultrapassem aquilo que é socialmente aceitável. Um atleta, como o presidente do COP, tem também responsabilidades do ponto de vista social. Não pode transmitir imagens, opiniões que de algum modo desvalorizem aquilo que é o seu valor desportivo. E o seu valor desportivo, quer no caso de um, quer no caso de outro, é muito elevado", vincou.
José Manuel Constantino ainda não falou com os dois atletas, porque acredita que, "neste momento", é preciso "deixar passar algum tempo". "Devemos deixar que o clima esteja mais favorável e devemos depois, naturalmente, ter a oportunidade de conversar quer com um, quer com outro", concluiu.
Nelson Évora referiu no domingo, em entrevista à rádio Observador, que Pichardo tinha sido comprado, contestando ainda a rapidez no seu processo de naturalização, em contraponto com o seu.
Na sequência da entrevista do saltador de 38 anos, também campeão do mundo em Osaka'2007 e da Europa em Berlim'2018 e "indoor" em Praga'2015 e Belgrado'2017, Pichardo, que já lhe reeditou o historial, ao juntar ao título olímpico ao mundial e europeu ao ar livre, em Oregon'2022 e Munique'2022, e aos dois europeus em pista coberta, em Torun'2021 e Istambul'2023, acusou-o, através da sua página oficial no Instagram, de lhe faltar ao respeito.
Pichardo foi contratado pelo Benfica em abril de 2017, na sequência da transferência de Évora para o Sporting, depois de ter desertado da concentração da seleção cubana, em Estugarda, na Alemanha.