O movimento olímpico comprometeu-se, perante o Governo, a regressar do Japão com duas medalhas, 12 finalistas e 26 semifinalistas. Objetivo que, a ser concretizado, pode alterar o paradigma da presença portuguesa em mais de um século - a média de um pódio por edição. Aguarda-se que a recente melhoria de resultados nacionais se reflita em Tóquio
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A Missão portuguesa que entre 23 de julho e 8 de agosto irá competir nos Jogos Olímpicos estará ao nível da média das últimas edições, com 16 modalidades e mais de 80 atletas, mas partirá para Tóquio com um número assinalável de medalháveis. As modalidades que deram pódios em Pequim, Londres e Rio de Janeiro são as que, à partida, mais potencial têm para o sucesso.
O atletismo, que há 13 anos não tem um pódio, apresenta dois fortes candidatos e vários potenciais finalistas, como Patrícia Mamona, Francisco Belo e Liliana Cá. Mas serão Auriol Dongmo, no peso, e Pedro Pichardo no triplo, portugueses por opção, a tentar fazer o mesmo que o primeiro naturalizado bem-sucedido, Francis Obikwelu, fez em Atenas.
José Regalo, ex-atleta olímpico e dirigente da FPA, analisa a questão: "É uma realidade que não é portuguesa e com que temos de viver. Não chegamos ao ponto da Turquia e do Catar. É uma questão política e desportiva". Sobre um grupo de atletas em que a maioria já ronda a veterania, Regalo foi otimista: "É bom sinal, são atletas com experiência para lidar com estes campeonatos. É reflexo de maturidade, experiência e consolidação de carreiras. Mas espero que seja invertido a curto prazo".
Na canoagem, Fernando Pimenta procura de novo a medalha individual que lhe falta. Esta época o limiano tem somado pódios e não vitórias, o que pode traduzir um planeamento com o pico de forma apontado a Tóquio, além de uma garantia: sem azares, cumprirá o seu sonho.
O judo, que vai aumentar a comitiva para 81 atletas quando for oficializada uma qualificação que já fechou, tem um bicampeão mundial e uma campeã europeia em título entre os oito apurados. E Jorge Fonseca e Telma Monteiro são claros nas suas metas: vão pelas medalhas.
Se na Missão há quatro ou cinco favoritos ao pódio - número superior ao habitual -, poucas vezes o nosso país teve boas surpresas olímpicas. Mas, tal como sucedeu com o ciclista Sérgio Paulinho em Atenas"2004, os deuses do Olimpo podem estar connosco. Se isso suceder, há candidatos à oportunidade como Luciana Diniz, no hipismo, João Almeida, no ciclismo, Rui Bragança, no taekwondo, e a dupla Diogo Costa-Pedro Costa, vice-campeões mundiais na vela. Sem esquecer o homem mais velho da delegação, o marchador João Vieira, também vice mundial em título.
Sendo possíveis boas novidades dos estreantes surf e skate - Frederico Morais é de momento o sexto mundial entre os apurados e Gustavo Ribeiro o terceiro -, as expectativas são superiores em relação à estreia histórica do andebol. Mas Magnus Andersson, treinador do FC Porto, foi sensato ao aconselhar chegar ao Japão com ambição, mas sem pensar em medalhas.
Missão vai superar os 80 atletas
Com 73 atletas já apurados, mais oito no judo que estão garantidos (só aguardam a publicação do ranking) e faltando nove dias para fechar a qualificação no atletismo, pode concluir-se que Portugal vai levar mais de 81 atletas a Tóquio, na que será a quarta maior Missão de sempre - a presença de uma equipa, desta vez a de andebol (14 jogadores), permite superar os 77 atletas de Pequim e Londres.
Pelo ranking mundial de qualidade da World Athletics ainda vão ser apurados Loréne Bazolo (100m), Irina Rodrigues (disco) e Tiago Pereira (triplo salto). Nelson Évora (triplo), Ricardo dos Santos (400m) e Marta Pen (1500m) estão contemplados, mas a sua forma atual não lhes garante o lugar. Ainda a lutar, mas fora de posições elegíveis no ranking, continuam Tsanko Arnaudov (peso), Isaac Nader (1500m) e Susana Costa (triplo). Evelise Veiga, já apurada no triplo salto, busca a entrada no seu concurso, o comprimento.
Três questões a Marco Alves, Chefe da Missão de Portugal aos Jogos de Tóquio"2020
1 - Se não superar os 77 atletas de Pequim e Londres, Portugal fica aquém das expectativas?
-Neste momento, e de acordo com o processo de qualificação em curso, que termina no próximo dia 28, a expectativa é que o número de atletas que estarão em representação de Portugal nos Jogos Olímpicos de Tóquio ultrapasse as edições de Pequim"2008 e Londres"2012.
2 - Embora o COP só tenha previsto duas medalhas, esta delegação não tem qualidade e candidatos para obter mais?
-A perspetiva avançada em 2018, aquando da assinatura do contrato-programa que enquadra a Preparação Olímpica, objetivou efetivamente a obtenção de duas classificações de pódio. Esta expectativa, naquela data, era mais ambiciosa do que os resultados alcançados por Portugal nas últimas duas edições dos Jogos Olímpicos. Objetivamente, a avaliação que realizámos ao longo dos últimos anos baseia-se nos resultados alcançados pelos atletas. As classificações registadas ao longo dos últimos anos, quer em campeonatos de mundo quer em lugares de ranking, ou ainda em campeonatos europeus, colocam vários atletas, em várias modalidades, na disputa desses lugares.
3 - Uns Jogos sem público nas bancadas e com os atletas fechados na Aldeia Olímpica e a virem embora logo depois de competir, não vão ser uma edição sem sal?
-A questão do público - só japonês - nas bancadas ainda não está de todo definida. No entanto, o contexto em que serão organizados os Jogos Olímpicos de Tóquio é único. A magia da Aldeia Olímpica, a partilha de experiências entre modalidades e países não vai ser possível da forma a que os Jogos nos habituaram e merecem. No entanto, e para os atletas que tanto lutaram por esta qualificação, por este sonho e que de alguma forma voltaram a competir, com alguma normalidade, durante o último ano, diria que a oportunidade de entrar no palco dos Jogos Olímpicos mais do que justifica a presença nestes Jogos "diferentes".