O vencedor da Volta a Portugal nasceu no Uruguai, mas vive em Santa Maria da Feira e equaciona ficar sempre por cá. Conheça-o melhor numa entrevista a O JOGO em que abriu o coração.
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Mauricio José Moreira Guarino tem 27 anos, é de Salto, Uruguai, e ganhou a Volta a Portugal depois de ter sido segundo há um ano, falhando o triunfo devido a uma queda no contrarrelógio do último dia.
Filho do melhor ciclista de sempre do seu país, Federico Moreira - foi duas vezes olímpico, venceu seis vezes a Volta ao Uruguai e presidiu à federação do país -, está a fazer a carreira internacional que o progenitor nunca conseguiu, embora passando ao lado do "sonho de criança de chegar ao World Tour". A GlassdriveQ8-Anicolor já o segurou até 2025 - tem uma cláusula de rescisão de 250 mil euros - e "Mauri" está perfeitamente adaptado ao país onde a sua carreira disparou, vivendo em Santa Maria da Feira com a namorada, a nutricionista Nataly Erramouspé. Foi com ela que ontem festejou emocionado, logo depois de vencer em Gaia.
"Agora estou a conseguir algo que nunca pensei e que pode perfeitamente ser o meu sonho. Como ganhar na Volta a Portugal", diz a O JOGO um ciclista diferente, pela elevada estatura (1,89m) e pela timidez que nem o sorriso disfarça.
O Mauricio é uma pessoa reservada?
Muito. Sou muito reservado.
Disse no final de uma etapa ter falado com o psicólogo. Porque precisa de um?
É um psicólogo português e tenho-o por achar que é diferente trabalhar tanto a mente como o corpo. Umas vezes podes estar em cima, outras em baixo e por vezes é difícil sair quando se entra num buraco. Para isso é importante ter um psicólogo.
O seu mais recente "buraco" chamou-se covid-19 e lesões?
Sem dúvida. Este ano começou de forma inesperada, pois fiz tudo bem durante o inverno e começar a época com lesões deixou-me muito em baixo.
Este ano passou a morar em Portugal. Sente-me melhor?
Sim, em Santa Maria da Feira. É muito mais tranquilo. Gostamos muito da cidade e de viver em Portugal.
Foi recentemente ao Uruguai, que não visitava há muito. Porquê tanto tempo sem ir ao seu país?
Fui lá passar o Natal e a entrada no novo ano com a família. Não fui antes porque é difícil. Tenho sempre de treinar, de fazer estágios. Nunca tive muito tempo, aquele de que precisava para ir, até porque é longe e caro.
O seu futuro será em Portugal, Espanha ou Uruguai?
De momento estou a pensar ficar cá.
Porquê?
Acho muito semelhante ao meu país, a minha namorada também gosta muito e, se ela está bem, eu também estou...
Que diz o seu pai sobre a carreira que está a fazer?
Ele está muito contente com o que tenho feito. É uma pessoa que nunca me disse nada sobre ganhar ou perder. Por ele está sempre tudo perfeito. Se eu tiver cometido um erro ele só dá opinião para corrigir. É um prazer ter pai e mãe assim. Eles estão sempre atentos e andam muito contentes por me verem de amarelo.
Já é melhor ciclista do que o seu pai?
Não, de certeza. Não estou nem perto de ser aquilo que ele foi. Estou a ganhar corridas que ele nunca fez, mas quem o conheceu, quem esteve no Uruguai, sabe o que o meu pai verdadeiramente foi e a quantidade de adeptos que tinha. Eu, olhando para isso, não sou nem a quarta parte do que ele foi.
Mas a sua carreira está a evoluir muito agora....
Ano a ano fico melhor, estou mais forte a subir. É a experiência, estou a evoluir com o tempo, a conhecer melhor o meu corpo. Isso está a ajudar muito na minha carreira.
Teve uma grande evolução desde que veio da Caja Rural, em Espanha, para Portugal. Como explica isso?
Há uma grande explicação. É muito fácil de entender, para qualquer atleta que está fora de casa, a importância da identidade. Quanto estás num outro país, se não te sentes bem, se não te achas acompanhado, nada do que fazes vai sair bem. Podes trabalhar da melhor maneira, estar bem de forma, mas se a cabeça não está no sítio, nada disso resulta. Quando cheguei a Portugal, senti-me como se fosse um irmão, fui acolhido como se fosse da família. Desde o primeiro dia. Tanto eu como a minha namorada sentimo-nos integrados. Falo sempre dela porque 90% do que faço deve-se a ela. É muito difícil ser a namorada de um atleta e ela dá-me tranquilidade. Estando fora do meu país é muito importante, é ela que me dá força para ser o que sou hoje.
Quais são os seus sonhos de carreira?
Tenho o sonho de criança de chegar ao World Tour. Acho que todo o ciclista pensa nisso. Mas a verdade é que estou a conseguir algo que nunca pensei e que pode perfeitamente ser o meu sonho. Como ganhar a Volta a Portugal.
E até tem a sua família consigo...
Os meus pais vieram para ficar cá até ao final da época, desfrutando do país.
Se a W52-FC Porto estivesse na Volta, seria difente?
Claro que sim. A W52 é uma equipa de grande prestígio e sem dúvida faria uma corrida diferente, por ser uma equipa que está sempre a lutar e a dar guerra. Não sei, com eles, como a corrida terminaria, mas certamente seria diferente.
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