ENTREVISTA, PARTE III - Paulo Jorge Pereira elogia os irmãos Costa, diz que Martim ataca “tipo jiboia”, impressiona-se com os feitos de André Gomes e diz ter “a melhor dupla de centrais do mundo”. O selecionador é prudente a analisar o futuro dos seus jovens, mas admite ter talentos que o impressionam.
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Kiko Costa partiu para o Europeu rodeado de elogios, o seu irmão Martim foi o melhor marcador e eleito melhor lateral-direito. Paulo Jorge Pereira falou dos jogadores sem problemas.
Até onde podem chegar os irmãos Costa?
-Nunca sabemos. Oxalá cheguem muito longe, que ficaremos todos muito contentes. Fiquei radiante por o Martim ter sido considerado o melhor lateral-esquerdo, ter sido o melhor marcador. Isso é espetacular, sobretudo para ele. Tem um potencial enorme. Agora é ajudá-los a lidar com isto de forma normal, porque quando se comete um erro é como se tivéssemos um holofote. É deixá-lo saborear uns dias e depois continuar. Temos de encarar isto com uma certa normalidade, sabendo que eles podem ainda chegar mais longe.
O JOGO escreveu que ele ficou no sofá, como se nada fosse, quando soube do prémio...
-É bom ele encarar isso de uma forma natural. De certeza que ficou muito contente, a partir do momento em que percebeu que podia acontecer era uma energia para ele. Prefiro essa reação do que algo que o faça relaxar.
Também nos disse que, se não fosse agora, seria um dia.
-Gosto de gente com essa forma de estar, precisamos de gente assim.
Estamos a falar de atletas com 18, 19, 21 anos. É uma seleção que dá garantias de um futuro risonho...
-Se conseguirmos estabilizar em termos defensivos, encontrar mais gente para postos chave, reduzindo ao máximo o número de trocas, podemos dizer que vamos continuar a ser competitivos.
O Martim e o Kiko são dos jogadores mais difíceis de defender?
-Há uma série de jogadores difíceis de defender. Espero que todos consigam melhorar competências. Mas são, claro que sim. O Martim ainda consegue ser mais eficaz na finta do que o Kiko. É tipo jiboia, consegue, com um ciclo de passos, movimentar-se bem até chegar a uma zona ótima de tiro. Às vezes até é difícil compreender como faz aquilo. É como o André Gomes, faz coisas que deixam a pensar como é que um ser humano conseguiu fazer aquilo. Temos esse tipo de atletas.
Há alguns com uma evolução que o impressiona?
-O Rui Silva. É uma coisa brutal e ainda há dias disse, e repito, que tenho o melhor conjunto de centrais do mundo. No somatório do Miguel Martins, com as suas características, e do Rui Silva, com as dele, fazem a melhor dupla do mundo. Posso estar a ser pretensioso, mas é a minha opinião.
“Leonel teve entrega brutal”
O Leonel Fernandes fez o terceiro sprint mais rápido e foi dos que mais quilómetros correu. Que lhe dizem estes números?
-Que ele foi de uma entrega brutal. Aliás, no fim do último jogo estava completamente vazio. Não consegui que o Pedro Oliveira, que é fantástico no ataque, jogasse mais tempo devido à defesa. O Leo teve de jogar mais, adaptou-se melhor a defender. Teve algumas dificuldades com as equipas nórdicas, perante aquilo a que eu chamava “problema nórdico”. Eles colocam um pivô entre ele e o central. Um dia tivemos de pedir ao Gilberto para jogar na ponta e resolver ou minorar esse problema. Como o Gilberto tem uma envergadura maior, o problema nórdico ficou mais ou menos resolvido.
E apostou no Fábio Silva, que era o 19.º jogador...
-Foi com uma missão clara, de dar descanso ao Frade, e conseguiu em alguns jogos ser mesmo importante. Compreendeu perfeitamente a missão e esteve espetacular.
“Andebol passou a ter 120 posses de bola por jogo”
Paulo Pereira decidiu ser verdadeiramente profissional em 2004, ao sair do FC Porto e arriscar uma carreira no estrangeiro. Já lá vão cerca de 20 anos e o andebol mudou.
“Agora, para jogar andebol é preciso estar fisicamente preparado. Na altura não se corria tanto, havia transições feitas a passo, o ataque posicional durava mais tempo, agora o ritmo de jogo anda nos 54, 55, às vezes 60 ataques para cada equipa, falamos de um total de 120 posses de bola. Há uns anos, um simples cruzamento podia dar golo, hoje em dia tem de ter algo mais. Cada vez mais riqueza e tornou-se mais bonito”, explica, elogiando ainda “o feminino ao mais alto nível”.