Lateral-esquerdo que colocou Portugal nas meias-finais do Mundial reclama competência própria da Seleção, que dará tudo para vencer a Dinamarca. Martim Costa define Portugal como “um país pequeno, com pessoas extraordinárias”. Garante compromisso total perante a tricampeã em título e “melhor seleção da atualidade”.
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“Estamos confiantes do que sabemos e podemos fazer”. As palavras de Martim Costa, ontem, a O JOGO, são facilmente comprováveis, tendo, na véspera, sido o homem que, depois de não ter estado grande coisa nos 60 minutos, matou o jogo no prolongamento frente à Alemanha e colocou Portugal nas meias-finais que esta tarde joga com a Dinamarca. Três dos quatro golos que assinou nos dez minutos extra, sendo um o da vitória, conferem a frase do lateral-esquerdo do Sporting. “Mesmo estando a correr mal, temos de saber do nosso valor e assumir; se tivesse falhado dava a cara, falhei, pronto, é a vida, mas alguém tinha de assumir”, refere-se à bola que deu a vitória frente aos germânicos, dizendo: “Eu espero que seja golo, sei que a bola não vai entrar sempre, mas também acredito sempre que a bola possa entrar. O jogo ia acabar, sabia que tinha de rematar, a ação ia acabar ali”.
Agora o opositor é ainda mais forte. A Dinamarca é uma equipa com um palmarés recente notável - tricampeã do mundo e olímpica em título.
“Podemos ser um país pequeno, mas temos pessoas extraordinárias”, afirmou. “Podem esperar de nós o mesmo que temos vindo a fazer ao longo deste Campeonato do Mundo, que é compromisso total. Queremos ganhar e vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para o conseguir, mesmo jogando contra a melhor seleção da atualidade”, assegurou Martim Costa, o melhor lateral-esquerdo e marcador do Europeu 2024. “Vamos mesmo fazer tudo para ganhar, podem ter a certeza absoluta disso”, insistiu, contando depois que sempre havia visualizado um momento como este que a Seleção Nacional de andebol está a viver. “Não sei se antes do Mundial começar acreditávamos nesta caminhada, mas que era um sonho meu, isso sem dúvida alguma. Até mais novo já tinha imaginado vários momentos destes. Realisticamente, era complicadíssimo. Aliás, chegar aos quartos de final já era muito, muito difícil, pela composição dos grupos no Main Round. Apanhamos Suécia e Espanha, seleções medalhadas e altamente habituadas a isto, a Noruega a jogar em casa. É mérito nosso, ninguém nos deu nada, ninguém vai dar, tem de ser trabalho nosso”.
“Apeteceu-me tirar a camisola, mostrar Portugal às pessoas”
Martim Costa festejou exuberantemente o triunfo frente à Alemanha e a consequente qualificação para as meias-finais do Mundial. “Apeteceu-me tirar a camisola, mostrar o símbolo de Portugal às pessoas, mostrar o nosso país ao Mundo”, explicou. “Tenho a sensação que, de fora, as pessoas vibram muito mais”, disse também, explicando: “Fico feliz, mas é mais alívio e descompressão total do que felicidade. Estamos felizes, mas é tanta pressão, os ombros pesam, as costas pesam, a cabeça também fica pesada. É uma grande descarga de adrenalina, creio que as pessoas vibram muito mais de fora, desfrutam mais do que nós”.
Heróis para a final
Seleção Nacional tem hoje um dos jogos mais importantes da história, querendo bater a Dinamarca numa inimaginável grande campanha no Mundial. Os Heróis do Mar, com seis vitórias e um empate nos sete jogos realizados no Campeonato do Mundo, são a grande sensação da prova. Para chegar à final precisam de bater a tricampeã mundial.
A Seleção Nacional de andebol já teve encontros memoráveis - o primeiro, a 30 de outubro de 1996, num Pavilhão Flávio Sá Leite completamente esgotado, frente à Alemanha, com uma vitória por 21-19 que praticamente colocou Portugal pela primeira vez num Mundial, realizado no Japão em 1997 (19.º lugar), com o ucraniano Aleksander Donner, em ambas as situações, como selecionador. Hoje, 28 anos, três meses e dois dias depois, os agora Heróis do Mar jogam o acesso à final do Campeonato do Mundo frente à Dinamarca, tricampeã em título e medalha de ouro olímpica em Paris’24.
É mais um jogo que, independentemente do resultado, ficará para a história. Paulo Jorge Pereira, o técnico que batizou os atletas como Heróis do Mar, já tinha colocado o desafio alto, chegar aos quartos de final. Para isso foi preciso passar por alguns tubarões - Noruega (equipa da casa), Suécia e Espanha. Cumprida essa meta, anteontem foi a Alemanha a levar com a qualidade e apetite voraz dos portugueses, que venceram e atingiram as meias-finais. “Não pensamos muito no que fizemos até agora, é perder tempo. Estamos orgulhosos, vivemos um momento ímpar do andebol português, vale o que vale, mas ainda temos a oportunidade de fazer um bocadinho melhor”, comentou o selecionador.
Esta noite, a partir das 19h30, na Unity Arena de Oslo, o adversário é a Dinamarca, para muitos a melhor seleção de sempre no andebol. “Sabemos perfeitamente onde estão os fatores que nos podem conduzir a ser mais competitivos com eles. Se o fizermos bem, é possível vencê-los”, assumiu o técnico.
“Somos favoritos. Somos tricampeões mundiais e campeões olímpicos em título e se nos quiserem vencer têm de jogar 60 minutos de alto nível”, avisou, do outro lado, o treinador dinamarquês Nikolaj Jacobsen.
Falando “numa força extra”, Paulo Jorge diz que é isso que faz das Quinas “uma equipa competitiva e com capacidade para superar dificuldades”.
Este será um encontro entre duas das equipas que jogam um andebol mais veloz - daí se entendendo que Dinamarca e Portugal, com 47 e 46, respetivamente, tenham o maior número de golos marcados num jogo. Há ainda dois nomes contrários a fixar: Emil Nielsen, o melhor guarda-redes do Mundial, com 97 defesas e uma eficácia de 44%; e Mathias Gidsel, o melhor marcador da prova, com 55 golos. Na vitória por 40-30 frente à Alemanha, o lateral-direito fez dez golos em 12 remates - sem livres de sete metros - e 15 assistências, números brutais.
Quarta modalidade a lutar por medalhas
O andebol é a quarta modalidade coletiva a ter a seleção portuguesa a lutar por medalhas no Campeonato do Mundo, depois de hóquei em patins, futebol e futsal. Se isto ajuda a dar dimensão ao feito dos Heróis do Mar - únicos a ir aos Jogos Olímpicos além do futebol -, pela frente ainda fica a possibilidade de igualar ou superar o saudoso terceiro lugar da seleção de Eusébio. Já o hóquei em patins é incomparável: em 46 edições, só uma vez Portugal não chegou às meias-finais (2007) e em 42 foi às medalhas!