Jovem portuense vai correr pela segunda vez o Europeu, agora com a Leopard, equipa que o pode levar até Moto3.
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E depois de Miguel Oliveira? O português mais bem-sucedido do motociclismo só agora chegou a MotoGP, mas pouco se sabe sobre quem lhe segue as pisadas, até porque, em termos internacionais, para já só há mais um nome: Kiko Maria.
"Temos um plano delineado e esperamos subir os escalões até chegar ao mundial de Moto3"
"Temos um plano delineado e esperamos subir os escalões até chegar ao mundial de Moto3", diz Kiko a O JOGO, sem hesitar e com uma maturidade invulgar para quem vai fazer 15 anos a 4 de abril, dia dos primeiros treinos da nova época no European Talent Cup, no Estoril. Os campeonatos nacionais de Portugal e de Espanha em PréMoto3 serão os outros dos seus compromissos, pois o Europeu só tem sete provas.
Kiko diz que a sua paixão nasceu com o avô. "Ele tem motos e sempre vi com ele as corridas do Mundial". Aos 12 anos, a família levou-o a ver Miguel Oliveira, a Jerez de la Frontera, e essa corrida de Moto3 marcou-o. "Pedi uma moto aos meus pais e recebia-a no Natal, há dois anos. Foi uma mudança na minha vida. Desde aí, foi treinar, treinar, até chegar onde estou hoje."
A estreia foi premonitória. "Foi a 30 de julho de 2016, em Navarra, Espanha, no campeonato de minivelocidade. Fui terceiro, o que me motivou", lembra, avisando para o passo seguinte: "Andei numa escola, com um treinador que me ensinou a aperfeiçoar a técnica em cima da moto. É preciso treinar o máximo de tempo possível."
Os primeiros passos foram com "um esforço económico da família, que nem toda a gente aguenta", mas agora já tem patrocinadores. "Estou grato à Galp e a outros", que lhe permitem fazer a segunda época do Europeu na Leopard, equipa que fez segundo e quarto na abertura da época de Moto3. "Gostava de chegar onde está o Miguel Oliveira, mas não sei quando será. Com pena, tenho de dizer que sou o único português no Europeu; no campeonato de Espanha há mais um", diz, tendo o sonho de seguir os passos do almadense "e se possível fazer melhor em Moto3 e Moto2, pois ele nunca conseguiu ser campeão".
"Miguel Oliveira é tranquilo e melhora sempre"
Kiko Maria tem dois ídolos, Valentino Rossi e Miguel Oliveira. Ao campeoníssimo italiano, com idade (40 anos) para ser seu pai, admira o ser "sempre competitivo", lembrando que MotoGP é "fisicamente muito exigente".
Quanto ao português, vê nele um "piloto muito tranquilo, de mentalidade forte e inteligente". "Uma das coisas boas é que melhora sempre que sai para a pista. Além disso, é um piloto superconstante", acrescenta, não conseguindo encontrar defeitos ao melhor português de sempre. "Pelo que vejo de fora, apenas temos de lhe dar tempo. Em MotoGP ainda se está a adaptar", completa sobre Miguel Oliveira.
De personalidade forte, Kiko também faz um autorretrato: "Consigo arrancar bem, o que acho fundamental, fazer as corridas com voltas constantes e rápidas, e até acabar mais rápido. Sou um piloto bastante mental, sem cometer grandes erros. O meu maior defeito é demorar muito, nos treinos de qualificação, até atingir o meu ritmo. Tenho trabalhado nisso."
"Carta de condução? Para já não"
"Os meus pais não me querem dar a carta e também não é o meu objetivo", diz Kiko Maria, que está a fazer o 9.º ano na Escola Alemã de Lisboa - pretende fazer o exame Abitur, que dá acesso imediato à universidade - e não anda de moto fora das pistas.
"Nem quero. Gosto de acelerar, de andar rápido; lento fico nervoso", confessa, sabendo que ao motociclismo faltam portugueses.
"A maioria são espanhóis e italianos. Nesses países há tradição, em Portugal faltam ídolos", diz, lembrando que Miguel Oliveira resolveu esse detalhe, mas deixando um alerta: "Ele está a chamar mais gente. Mas quando se começa carreira somos nós que temos de nos desenrascar."