José Azevedo foi dos melhores corredores portugueses da história, o único a dirigir uma equipa World Tour e agora tem nova aposta, voltar ao topo com a Efapel Cycling
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José Azevedo foi quinto e sexto na Volta a França, quinto no Giro e em 2008 terminou a carreira de ciclista para se tornar diretor desportivo, primeiro na RadioShack, depois na Katusha, equipa World Tour em que chegou a “general manager” e venceu uma Volta a Espanha. Em 2022 recomeçou do zero, criando uma equipa própria, patrocinada desde o primeiro momento pela Efapel. No grande armazém de Vila do Conde, base de partida de dezenas de atletas, de todos os escalões, falou a O JOGO do futuro, mas também do passado, mesmo o polémico.
Vai entrar no quarto ano da equipa e contratou o Mauricio Moreira. É a hora de somar vitórias e apostar na Volta a Portugal?
-Lutar por vitórias foi sempre o nosso objetivo e mentalidade. É o espírito do grupo, quem faz parte sabe ser essa a missão. Mas quando o projeto começou havia equipas formadas. Esta, sendo nova, criava interrogações. Conseguimos fazer uma boa equipa desde início, com corredores fortes, alguns dos melhores do pelotão nacional, apesar de não se conseguirem grandes resultados. O objetivo foi sempre fortalecer a equipa e isso tem sido notório. Para 2025 não há grandes alterações, entraram apenas dois corredores.
Mas são Mauricio Moreira e André Carvalho...
-Mantemos o núcleo duro. O Henrique Casimiro, que nos deu grandes resultados, acabou a carreira. O Abner [González] também tem grande qualidade e saiu. Mas o Mauricio é, nos últimos três anos, o ciclista com mais vitórias em Portugal, ganhou quase todas as corridas. A ele junta-se a experiência do André, um polivalente que também nos pode dar vitórias. Com eles e os anteriores, em 2025 o plantel da Efapel é o mais forte de sempre.
Tem a responsabilidade de ganhar mais?
-O espírito é ganhar todas as provas, seja a Volta a Portugal ou uma corrida de um dia. É lógico que sabemos da importância das provas e a planificação é feita em função disso. Quando se aposta mais e se tem corredores mais fortes, a obrigação de vencer é maior.
O patrocinador nunca pediu mais ou melhores resultados?
-Não. O patrocinador, logicamente, investe porque quer promover a marca e quer ver a equipa a ganhar. Mas há algo sempre patente, desde que me sentei com o engenheiro Américo Duarte: tinha de haver princípios éticos, comportamentos de que nunca iríamos abdicar. Pelos princípios que ele tem como pessoa, e criou na Efapel, existiu sempre harmonia nesse discurso. Nestes três anos as vitórias não são assim tantas, mas tivemos muitos pódios e conquistamos um espaço com a nossa imagem e filosofia. Ter bons princípios, por vezes, vale mais do que vitórias.
A contratação de Moreira gerou polémica com a Sabgal. É verdade que tinha acordo desde janeiro?
-Essa polémica nunca deveria ter existido. Um corredor que está em fim de contrato é livre de decidir o futuro. Houve muita mentira, um discurso a tentar favorecer uma parte e prejudicar a outra, o que é lamentável. Cada um é responsável pelas suas ações.
Ele vai ter o estatuto que tinha na equipa anterior, de único líder?
-Ele é um líder de equipa, mas não vamos mudar a nossa filosofia. A Efapel nunca teve um líder único. O Maurício é um dos líderes, terá corridas para o mostrar, mas terá outras em que será um ciclista de trabalho. Todos aqui sabem que a nossa forma de correr é essa, tal como queremos um espírito de grupo muito grande, de entreajuda. O Maurício sabe que vai ser líder em algumas provas e que em outras trabalhará para o Joaquim Silva, o Tiago Antunes ou o Santiago Mesa, nas chegadas ao sprint. Há ainda corridas ao gosto do André e temos o Pedro Pinto, que se está a afirmar. Aqui quando se ganha, ganhamos todos, não o que passa a meta em primeiro. Da mesma forma que, quando perdemos, é a derrota de todos.
Do Maurício diz-se que é psicologicamente frágil...
-Ouve-se dizer. Desde que teve a rescisão de contrato, em agosto, ficou um corredor livre, estava numa situação lamentável, precária. Embora o contrato fosse para o dia 1 de janeiro, começámos logo a apoiá-lo. Não sei se é frágil, acho é que os desportistas são fortes em momentos de glória, têm fragilidades nos de derrota. Notei que o Maurício necessitava de apoio, até porque está só no país, mais a mulher. A equipa já esteve junta, integrou-se bem e o discurso dele tem sido positivo. Vai ter sempre o nosso apoio. Não usamos o corredor como uma mercadoria, tentamos criar laços.
“Damos a oportunidade ao Oriol, se funcionar seremos o Guardiola”
Oriol Vidal, espanhol de 31 anos, fez sensação ao trocar a carreira de co-piloto no Rali Dakar pela de ciclista na Efapel. “Foi algo que surgiu, não estava a contar. Devido à lesão que teve na coluna, não poderia competir no automobilismo de todo terreno. A bicicleta fazia parte do seu treino diário e há 11 anos até tinha competido, no escalão de sub-23. O Alexander [Grigoriev] foi correr na Taça do Mundo de gravel, conheceu-o, trouxe a ideia e conversamos todos”, contou Azevedo, dizendo não ser uma aposta arriscada: “Que temos a perder com isto? Nada. O que temos a ganhar? Damos uma oportunidade de vida a alguém e, se funcionar, irão dizer que somos uns Guardiolas...”.