Azevedo esteve seis anos como ciclista no World Tour e mais dez entre vários cargos diretivos. Decidiu recomeçar com a Efapel tendo uma meta definida: levar uma equipa nacional ao maior pelotão.
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José Azevedo foi quinto e sexto na Volta a França, quinto no Giro e em 2008 terminou a carreira de ciclista para se tornar diretor desportivo, primeiro na RadioShack, depois na Katusha, equipa World Tour em que chegou a “general manager” e venceu uma Volta a Espanha. Em 2022 recomeçou do zero, criando uma equipa própria, patrocinada desde o primeiro momento pela Efapel. No grande armazém de Vila do Conde, base de partida de dezenas de atletas, de todos os escalões, falou a O JOGO do futuro, mas também do passado, mesmo o polémico.
Não tem saudades do pelotão internacional?
-Tenho. Não posso negar. Mas tenho um sonho, e foi isso que me levou a fazer este projeto, que é ter uma equipa, em Portugal, que cresça de forma sustentada até chegar ao pelotão internacional. Tenho o desejo de voltar, mas com este projeto.
Quanto custa montar uma equipa Pro Continental?
-Gosto de fazer as coisas bem, de forma estruturada e com condições. Isso tem um custo. Este projeto, apesar de ser Continental e com estrutura para uma só frente, já está ao nível de qualquer equipa Pro Continental.
Tem uma ideia do que será necessário para dar o salto?
-Tenho um número mínimo na cabeça. Teria de correr sempre em duas frentes e de 11 corredores seria preciso passar a 20. Mais treinadores, mecânicos e massagistas, praticamente duplicar. Mas o orçamento seria mais do que o triplo, quase quatro vezes mais, pois há os custos das provas, com viagens de avião, hotéis e mais veículos. Os mínimo continua a ser alto. Talvez três milhões e meio. E queria que a maioria dos ciclistas fossem portugueses. O sonho é ter um projeto português no ciclismo internacional.
E é ter uma equipa no World Tour?
-Gostava, mas tenho consciência de que em Portugal não há muitas empresas com essa capacidade. As equipas World Tour competitivas gastam no mínimo 35 milhões de euros. Para uma de 20 milhões já não é fácil de ganhar.
“Saídas de ciclistas foram bons sinais”
Este ano vão dois corredores do pelotão português para o World Tour. Voltamos a ser vistos com outros olhos lá fora?
-Estive 20 anos no ciclismo internacional e o que se passava entristecia-me muito. Havia uma desconfiança sobre o ciclismo português. Entre os ciclistas de outros países e o que se falava não era muito positivo. Infelizmente, surgiram casos que deram alguma razão a essas vozes.
A imagem mudou?
-A verdade é que não podemos ser todos olhados e tratados da mesma forma. Há pessoas que cometeram erros, têm de os assumir. Não vou dizer que havia boas e más pessoas. A maioria conheço, tenho estima por eles. Infelizmente cometeram erros, devido à ambição de ganhar. Acredito que atualmente todos eles estão arrependidos. Mas isso penalizou o ciclismo português, na imagem internacional, mas também em Portugal. Algumas empresas ficaram com medo de apostar no ciclismo. Temos de recuperar a credibilidade. As saídas de jovens, e também foram o Abner e o Penuela, que estava no Boavista, significa que começam a acreditar de novo. Havendo confiança, voltará a haver investimento. Essas saídas foram bons sinais.